domingo, 30 de dezembro de 2007

JACK, O ESTRIPADOR - Parte II


Altar-mor da Igreja Matriz de Alhos Vedros (pormenor)

Jack, o estripador – Parte II
Para satisfazer a curiosidade dos meus amigos, vou completar o relato que fiz dos acontecimentos na inauguração da exposição da minha obra “Altar-mor”, revelando o seu final.
A realidade ultrapassa a mais fértil imaginação. Não sei se sou eu o primeiro a escrever esta frase, mas sei que todos nós, em algum momento, já o pensámos.
Para que não restem dúvidas sobre a veracidade dos acontecimentos, vou transcrever o relato saído num dos jornais de referência.

O insólito aconteceu
O conhecido (mudei o adjectivo: estava famoso:) pintor António Tapadinhas foi o culpado involuntário de um grave acidente que ocorreu durante a apresentação da sua última obra, “Altar-mor da Igreja de S. Lourenço”, na histórica vila de Alhos Vedros.
O autor estava a explicar para uma plateia interessada e atenta, como tinha conseguido criar as cores e texturas que tornam a obra tão viva, principalmente os azulejos, que de tão realistas parecem cair da tela a qualquer momento, quando se ouviu um homem de feições asiáticas gritar em voz alta:
“Os azulejos são colados!”
Fez-se um silêncio tumular na sala. A multidão abriu alas para deixar passar o indivíduo que brandia uma enorme navalha, dirigindo-se directamente para a tela que, mais do que nunca, se tornara o centro das atenções.
“Vou arrancar os azulejos, para provar à minha mulher e a todos vós que tenho razão.”
Nesse momento, todos os olhos se voltaram para uma mulher que a chorar convulsivamente, dizia em voz alta:
“Não! Não tens razão! Eu passei duas noites com o pintor para o ajudar a acabar a obra! Eu vi-o a pintar os azulejos! Até o ajudei a limpar os pincéis...”
O homem ficou lívido e disse com voz tremente:
“Antes a morte que tal sorte!”
Caiu de joelhos e, antes que alguém pudesse reagir, agarrou a navalha com ambas as mãos e fez harakiri perante a multidão estupefacta...


Desde esse dia nunca mais pintei azulejos...

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

JACK, O ESTRIPADOR


Altar-mor da Ig. de S. Lourenço Acrílico sobre tela (100x100)


Igreja de S. Lourenço Técnica mista sobre papel


Pelourinho e Capela Tinta da china sobre papel

A primeira vez que me convidaram para fazer a capa de um livro foi para o “Dicionário dos Falares de Trás-os-Montes”... Seguiram-se outros falares...
Continuei com os livros históricos... No volume II de “Contributos para a História Local do Concelho da Moita”, na capa desenhei a tinta da china o pelourinho e a Capela da Santa Casa da Misericórdia de Alhos Vedros.
Para os mais interessados em história, o pelourinho tem fuste de secção oitavada e lisa assente numa base encordoada. No cimo tem um capitel tronco-piramidal com uma esfera armilar em ferro.
A Capela, construída em 1587, é constituída por uma nave coberta por tecto de madeira e as paredes revestidas de azulejos do século XVII. O altar-mor tem um retábulo de talha dourada do mesmo século, com a sua estrutura organizada como um arco de triunfo.
O volume III, terá na capa a Igreja de S. Lourenço, Matriz de Alhos Vedros, que representa a nobreza da vila. Da igreja construída no século XIII, nada resta. A actual data do século XV e a nave e pórtico do século XVII, com azulejos de 1749 que relatam passagens da vida do patrono da Igreja.
Foi nesta igreja, que pelo seu conjunto estilístico heterogéneo deixa adivinhar modos diferentes de encarar a religiosidade, que eu, em frente ao altar-mor de talha dourada, com a autorização do Padre Carlos, passei alguns dias a cuidar dos pormenores da pintura que agora apresento.
Talvez por ser demasiado óbvio não empreguei nenhuma tinta dourada. Utilizei toda a gama de cores a começar no “cadmium yellow pale” e a acabar no castanho “burnt umber”, passando pelo “naples yellow” e “yellow ochre”. Tentei dar-lhe toda a riqueza de nuances e matizes que a luz filtrada pelos vitrais, e a luz bruxuleante das velas ora esconde, ora revela, num jogo de claro-escuro, que me obrigou ao mesmo tempo a ser paciente e rápido, para registar na tela as impressões de momentos quase sempre irrepetíveis.
Trabalhei esta obra um pouco a contra-relógio, porque tinha imposto a mim próprio a obrigação de a apresentar nas Festas de Nossa Senhora dos Anjos que se realizavam no final do mês de Julho. E consegui.
Fui recompensado pelo meu esforço com os comentários favoráveis que ouvi. No entanto, no dia da sua apresentação fiquei um pouco preocupado: mais do que um apreciador da obra (ou da Igreja), espreitou os cantos para ver como é que eu tinha colado os azulejos... Esta dúvida provocou uma acesa discussão num casal: o marido dizia que eram pedaços de azulejos colados, a mulher que era pintura. Ele, para provar à mulher que tinha razão, tirou uma navalha do bolso para levantar os azulejos...
Já tenho ficado com pele de galinha quando pessoas sem problemas de visão, assumem que a superfície da tela é uma escrita em Braille, que só pode ser apreciada com os dedos...
Com uma navalha nunca tinha visto!
Felizmente o homem não se chamava Jack...

sábado, 22 de dezembro de 2007

CONTO DE NATAL

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Paisagem Óleo sobre tela colada sobre platex (28x34)

Apresento esta obra, porque me parece fazer lembrar a aldeia do meu conto de Natal.
Este foi o meu primeiro quadro (1994). Quando o pintei, no estúdio do Mestre Pina da Silva,ele fez um ar de surpresa e agrado, que me deixou muito orgulhoso e disposto a continuar a pintar. Esta continua a ser o obra preferida da minha filha, Elsa. Estou farto de trabalhar para ver se consigo mudar-lhe a opinião. Até hoje, ainda não consegui...
Não há amor como o primeiro...


Natal em Setembro

Capítulo I – Regresso às origens
Olhou novamente para o relógio digital do automóvel: nesse momento, marcava nove horas da manhã, do dia vinte e cinco de Setembro, o que queria dizer que faltavam pouco mais de três horas...
Apesar do mau estado da estrada não estava arrependido por ter cedido ao impulso de fazer aquele desvio.
A decisão tinha sido tomada no momento da assinatura dum vantajoso contracto de fornecimento de café, ao verificar que o dono da empresa era natural de Arnóia. Considerou esse facto como um sinal divino para cumprir uma obrigação que, por um motivo ou outro, tinha sempre adiado.
Não fazia a mínima ideia do que iria encontrar. Esperava ter na aldeia, um local em que pudesse almoçar e convencer alguém a mostrar-lhe a casa onde tinham vivido os seus pais, o seu jazigo e o túmulo de Munio Moniz, o mais ilustre de todos os seus antepassados.
Depois de subir um pequeno outeiro, viu pela primeira vez a aldeia em todo o seu esplendor. Um edifício destacava-se no meio do casario, talvez um antigo mosteiro, junto a uma igreja no centro da praça, rodeada por casas de construção tradicional, em que predominava o granito. No limite poente, distinguia-se um pequeno castelo, com a torre de menagem em ruínas.
Enquanto o seu cérebro absorvia estas informações, começou a suave descida e, ainda mal refeito das emoções contraditórias que o assaltavam leu, incrédulo, num arco cheio de lâmpadas de diversas cores: “A Fundação deseja a todos um Feliz Natal”.
Os arcos com luzes sucediam-se a espaços. As árvores que ladeavam a estrada estavam ponteadas de lâmpadas coloridas e as montras dos estabelecimentos tinham tudo o que é normal apresentar na quadra natalícia.
Chegou ao centro da praça e estacionou o automóvel. Apreciou com espanto o presépio e o gigantesco pinheiro coberto de luzes e bolas coloridas, junto ao pelourinho e coluna da forca. Uma decoração grandiosa, atendendo à dimensão da aldeia. “E única – disse para si próprio. Não te esqueças que estamos a vinte e cinco de Setembro”.
Ao fundo duma rua estreita, divisou um estabelecimento que lhe pareceu um café. Dirigiu-se para lá. Um sorriso suavizou-lhe as faces angulosas ao ler o nome na placa suspensa sobre a porta: “Café – Natal Sempre”.
Quando entrou, as poucas pessoas presentes fizerem silêncio, a olhá-lo, achou, ostensivamente.
-“Bom dia, minha gente!” – saudou em voz alta, caminhando para o balcão.
Ficou com a impressão que todos se levantaram para lhe responder, num coro afinado:
-“Bom dia, senhor!”.
No balcão, um velho, de ombros largos e direitos, cabelos brancos e ralos, mãos enormes a segurar um pano branco, com um sorriso jovial, perguntou:
-“Em que lhe posso ser útil, senhor Moniz?”.
Tentando ocultar o seu espanto, pediu um café.
Relanceou os olhos pela sala. Na parede, por cima da lareira, despertou-lhe a atenção um imponente quadro a óleo, com uma figura que, àquela distância, lhe pareceu familiar.
Aproximou-se. A curiosidade transformou-se em surpresa; em espanto; em assombro. Estava a ver o seu retrato: só que ele nunca usaria umas patilhas tão grandes.
Voltou para o balcão e quis pagar o café.
O ancião torcia nervosamente o pano branco nos dedos finos e compridos.
-“Por amor de Deus, senhor Moniz. Não é nada. Tem de se apressar. O padre Abílio espera-o. A minha empregada vai indicar-lhe o caminho até ao mosteiro”.
Achou que não valia a pena discutir, tal a rapidez e convicção com que foram ditas as frases.
Dirigiram-se para o mosteiro. A empregada ao entrar na sacristia, pediu-lhe para que se sentasse enquanto ela ia chamar o senhor prior.
O padre Abílio era uma figura imponente; um modelo perfeito para El Greco: altíssimo, direito como um pinheiro com a copa formada pelos fartos cabelos brancos, que contrastavam com os olhos negros e expressivos, abertos dum espanto que Sérgio começava a achar normal. Tinha uma voz grave e pausada.
-“O senhor é um Moniz. Vem almoçar?” – mais do que uma pergunta, era uma afirmação.
Sérgio, não resistiu. As palavras saíram rápidas, veementes.
-“Senhor padre, eu não sei nada de almoços, nem porque todo o mundo está ficando feito bobo a olhar para mim, como se vissem fantasma ou santo em carne e osso. Me explica tudo direitinho, por favor!”.
Era tal o desespero patente na sua cara que o padre deixou para depois a satisfação da sua própria curiosidade.
Eis, em resumo, a história que o padre Abílio lhe contou.

Capítulo II – O almoço de Natal

Dom Sertório e Dona Eurídice eram as pessoas mais ricas e bondosas da região. Para a sua felicidade ser completa, apenas faltavam os filhos. Desenganada pelos médicos, Dona Eurídice prometeu ao Menino Jesus que se tivesse um filho, a comemoração do aniversário do seu nascimento seria no dia de Natal, com a presença dos habitantes da aldeia, sendo distribuídos brinquedos e prendas a todas as crianças.
Passado algum tempo, a boa nova correu a aldeia: Dom Sertório Moniz ia ser pai.
E assim foi. Para contentamento de todos, no dia 25 de Setembro, perto do meio-dia, nasceu um robusto rapaz a quem deram o nome de Sérgio.
Esta felicidade não durou muito tempo. No início da Primavera, Dona Eurídice adoeceu. Persistentes dores de cabeça, levaram-na a fazer diversos exames. Os especialistas consultados foram unânimes: tinha um tumor no cérebro que dentro de pouco tempo lhe roubaria a vida. Os primeiros sintomas seriam dificuldades de coordenação motora e uma gradual perda de visão e dos momentos de lucidez.
Quando Dona Eurídice toma consciência do seu estado de saúde, no seu cérebro só havia espaço para um pensamento que era simultaneamente um pesadelo surrealista para Dom Sertório: o receio de não comemorar o primeiro aniversário do seu filho.
Nas longas horas que passava a seu lado, surgiu-lhe uma ideia que, quanto mais pensava nela, mais convencido ficava da sua bondade. Para a sua concretização era indispensável a anuência do prior.
Foi mais fácil do que pensava. Depois de lhe contar o seu plano, o pároco concordou de imediato, fazendo a sugestão de pedir a colaboração dos seus paroquianos na missa de Domingo, a mais frequentada.
Foi passada a palavra. A igreja encheu-se de pessoas ansiosas para saber qual o importante anúncio que ia ser feito durante a missa. Num sermão comovente, o padre pediu a crentes e não crentes, para colaborarem numa missão em que todos ficariam a ganhar e ao mesmo tempo fariam a felicidade de alguém que muito estimavam: a Dona Eurídice que, tudo indicava, deixaria em breve este mundo, por vontade do Altíssimo. Com a assembleia a beber as suas palavras, concluiu:
Aquilo que vos peço é que todos aceitem o convite para um almoço de Natal no dia 25 de Setembro. É indispensável que preparem os vossos filhos para receber os presentes das mãos de Dona Eurídice, como se fossem entregues pelo próprio Menino Jesus. Deus vai perdoar-nos esta pequena mentira. Ámen.
A partir desse dia, começaram os febris preparativos para a grande festa. Dom Sertório não tinha mãos a medir para resolver todos os problemas que surgiam. Quase sem notar, o grande dia chegou.
Nessa manhã, como todos os dias, foi ao hospital, visitar a sua amada esposa. Quando chegou ao quarto, Dona Eurídice ainda dormia tranquilamente, devido aos sedativos que a mantinham numa semi-inconsciência. Ansioso, esperou que ela acordasse naturalmente.
Quando se apercebeu da presença de alguém no quarto, abriu os olhos e, ao vê-lo, um sorriso brincou na sua face cansada. E fez a pergunta:
-“Querido, já é Natal”.
-“Sim querida, hoje é dia de Natal e tenho aqui a tua prenda!”.
Um sorriso iluminou a sua face, o quarto, a aldeia, o mundo.
Ajudou-a a abrir o embrulho.
-“É o vestido que quero que vistas na festa de Natal!”
Quando chegaram ao grande salão engalanado, onde se realizava a festa, os habitantes da aldeia levantaram-se e gritaram num coro desafinado:
-“Feliz Natal! Feliz Natal!”
Dona Eurídice morreu três dias depois, agradecendo a Deus por ter podido cumprir a sua promessa.
Na semana seguinte, Dom Sertório Moniz, assinou a escritura da “Fundação Natal Sempre”, a que doou o Mosteiro e um capital inicial suficiente para cumprir a obrigação de fazer a festa de Natal no dia vinte e cinco de Setembro de cada ano, convidando todos os habitantes da aldeia e fazer a oferta de brinquedos às crianças. Ficava também determinado, que a partir desse ano, seriam concedidas bolsas de estudo a todos os que delas precisassem.
Dom Sertório Dinis morreu de causas nunca esclarecidas. Suicídio ou ataque cardíaco? O que se sabe é que deixou o encargo de criar o filho ao seu único irmão, Afonso. Passado pouco tempo, este vendeu todas as propriedades e emigrou para o Brasil. Desde esse dia, nunca mais houve novas ou mandados da família Moniz.
A Fundação, bem administrada, floresceu e continua a cumprir o objectivo para que foi criada: realizar a festa de Natal no dia vinte e cinco de Setembro.

Ao acabar a sua narração, o prior olhou para o homem que, vergado ao peso de uma imensa dor, chorava convulsivamente.
-“Afinal quem és tu, que tanto sofres?”
-“Sérgio Moniz!”
O velho padre Abílio que o tivera nos braços, recém-nascido, abraçou-o fortemente, juntando as suas lágrimas e o seu riso ao amigo reencontrado. E disse, com a simplicidade do que é sublime:
-“Parabéns, Sérgio! Vamos embora! Já estão à nossa espera para almoçar!”.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

PRENDA DE NATAL

 
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BEIJO Carvão sobre papel Canson - 400 g/m2 (30x30) Trabalhado digitalmente

Quando se pede alguma coisa a alguém, há sempre a hipótese de três respostas: não, sim ou talvez. A She pediu-me uma prenda e eu respondi talvez. A sua impaciência só podia significar uma coisa: o meu talvez, pouco convicente, significou para ela um SIM categórico. De vez em quando, dava por mim a pensar o que iria fazer para resolver o problema. Encontrei a solução mais simples: cumpri uma promessa (?) e ofereço uma prenda para o sapatinho duma amiga. O ponto de interrogação é por não saber se ela vai gostar do desenho. Se não gostar ofereço-o ao amigo/a que primeiro mo pedir.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

FESTAS FELIZES!


Feliz Natal! Aguarela sobre papel (20x22)

Em 2001, fui convidado pelo director do jornal “O Rio”, para escrever regularmente uma crónica sobre um assunto qualquer à minha escolha. Passado o primeiro instante de surpresa resolvi aceitar e foi nessa altura que nasceu “Sem Margens”, o título genérico das minhas crónicas, que eram sempre acompanhadas por uma ilustração. Até 2005, ano em que iniciei a publicação do cartoon “Gaivo e Gaiva”, um casal de gaivotas, que aparecia a comentar os acontecimentos mais relevantes, mantive a sua publicação.
Nesse primeiro ano, escrevi um conto de Natal e foi esta a aguarela que o ilustrou.
Pelo seu simbolismo, pareceu-me a melhor maneira de desejar a todos
Festas Felizes!

sábado, 15 de dezembro de 2007

CONSUMISMO NO NATAL

 
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Centro Comercial Acrílico sobre tela (80x100)

No momento que comecei a escrever estas palavras faltavam 8 dias, 15 horas, 02 minutos e 4 segundos, para o Natal! Sei isto, porque tenho no computador um relógio enviado por um amigo, que está a fazer a sua contagem decrescente.
Em Portugal, o comércio em geral irá facturar montantes aproximados ao total dos restantes onze meses do ano.
Todas as novidades aparecem nesta altura e as campanhas publicitárias são tão arrasadoras que não dão tréguas em nenhum sector da nossa sociedade. Esta data, agrava a tendência para fazermos as coisas como autómatos. Alguém anda a programar a nossa vida sem nos dizer nada: vamos para o trabalho à mesma hora, comemos e dormimos ao mesmo tempo. E agora, aquilo que nos interessa, fazemos as compras no mesmo mês do ano, com tendência para ser na mesma semana e, com o passar do tempo, no mesmo dia: o último...
A Teoria da Evolução, de Darwin, afirma que as espécies animais existentes na Terra, sofrem ao longo das gerações, uma modificação gradual que põe em evidência a selecção natural. Na luta pela sobrevivência, os mais bem adaptados são os que deixam mais descendentes.
Um Centro Comercial, no Natal, ou na altura dos saldos, é um espaço cheio de cor, de luzes berrantes, de homens e crianças berrantes, distribuido por diversos pisos, em que as pessoas se atropelam para chegar primeiro, chegar mais alto, lá no cimo da prateleira, onde está aquele brinquedo que ainda ninguém viu, onde está aquela folha verde, jovem, tenrinha e suculenta, a que só a girafa com o seu pescoço imenso poderá chegar...
Da conjugação destes dois conceitos tão diferentes, Centro Comercial e Teoria de Darwin, nasceu esta obra. Espero que gostem dela, porque apesar de tudo,
EU ADORO O NATAL!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

CHEGADA A LISBOA


Cacilheiro Óleo sobre tela (75x100)


Esta tela foi feita especialmente para uma exposição que fazia parte de um programa de humanização dos hospitais, nas relações com os seus utentes. Pretendia o seu director com a realização de diversas exposições nos locais mais frequentados, levar um pouco de alegria àqueles que aparentemente não teriam muitos motivos para se sentirem felizes.
O hospital foi o Garcia de Orta em Almada, cidade que fica em frente a Lisboa, na margem esquerda do Tejo. As telas que apresentei mostravam Almada, ou Lisboa vista de um ângulo pouco habitual: as imagens foram todas captadas de barcos da carreira Barreiro – Lisboa, ou Cacilhas – Lisboa. Estes barcos são chamados cacilheiros... É a bordo de um destes barcos que está o casal, completamente alheio à beleza do casario de Lisboa...
Esta obra ficou a fazer parte do espólio do Hospital... Nunca mais a vi, não sei em que gabinete ou corredor estará...
Fica um pedido e um conselho para o nosso amigo Jorge: gostava que me contasses um dia a história deste jovem casal... O conselho é: quando vieres a Lisboa não percas a travessia do Tejo no cacilheiro, para ir comer a caldeirada ao “Ginjal”. Eu convido-te...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

TODA A VERDADE

Nos comentários foram feitas algumas perguntas a que esta minha resposta poderá tirar dúvidas. Surge aqui, porque me parece ser de interesse geral, agora que o problema do Kosovo está na ordem do dia.

Estive na Jugoslávia em 1989. Durante quinze dias percorri a costa Adriática,desde Dubrovnik até Belgrado, passando por Split e Sarajevo... Fiquei maravilhado com a sua beleza natural, a sua diversidade cultural e religiosa, e preocupado com o que iria acontecer, depois de diluída na memória dos povos a figura de Tito, que apesar de ter morrido em 1980, era a única personalidade que conseguia manter enterradas as lembranças de guerras passadas, e aceitáveis as desigualdades visíveis entre Sérvios, o grupo étnico mais importante, os Croatas, de maioria católica, os Eslovenos, os Montenegrinos... Este país, era uma federação de seis repúblicas e três regiões autónomas, entre as quais o Kosovo, com quase dois milhões de albaneses. Com o decorrer do tempo, a unidade do país começa a degradar-se e as diversas repúblicas começam a proclamar a independência: Eslovénia, Croácia e Macedónia em 1991, Bósnia em 1992. Com guerras entre eles, com a ONU a expulsar, a Nato a bombardear, a CE a sancionar...
E eu, e o grupo de amigos que tínhamos estado na Jugoslávia, que fazíamos dessa viagem de sonho uma das mais maravilhosas da nossa vida,ficávamos atónitos e revoltados por vermos locais paradisíacos, únicos, a serem bombardeados, pessoas (que será feito de Andres, guia doutorado em turismo, que falava fluentemente dez línguas, que nos acompanhou e nos explicou tão bem a diversidade de povos e religiões, ele que acreditava no futuro da Jugoslávia - que será feito dele? Perguntávamos –que foi feito dele? Perguntamos, ainda) a serem trucidadas, enterradas em valas comuns...
...e o Tribunal Penal Internacional a julgar a partir de 1993. A mostrar fotografias das atrocidades cometidas...
As personagens dessa tela, eram pessoas que eu podia ter conhecido...
Mesmo que não me tenha cruzado com elas, ouvi os seus gritos...
Este foi o meu... não foi ouvido... e ainda há o Kosovo...

Estive a escrever estas palavras e a ouvir no YouTube, Miss Sarajevo dos U2 - Pavarotti & Friends. Não ficou ao alcance de um clic porque ainda não sei fazer isso com segurança e tinha medo de perder todo o que tinha escrito...

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

NÃO INDICADO A PESSOAS SENSÍVEIS


Clicar sobre a fotografia




Cemitério ao luar Óleo sobre tela (50x30)

Na peça que apresentei em Outubro, Baixa-mar, faltou dizer que fiz um trabalho preparatório, que tinha resolvido não mostrar, porque mais uma vez, o esboço não tem nada a ver com o resultado.
Graças a um programa de que tomei conhecimento no blog da amiga Sibyla, mudei de opinião. O resultado, está aí para vossa apreciação.

domingo, 9 de dezembro de 2007

(E)TERNA SEDUÇÃO


VÉNUS Óleo sobre tela (100x100)

“A sedução é um dom: como o da poesia.
Também tem muito a ver com a música.
A pintura e a própria escultura vêm depois.”
David Mourão-Ferreira

Escrevi as seguintes palavras, para apresentação desta exposição:
Mães, anjos, mártires, deusas, rainhas, é infindável a galeria de mulheres que seduziram e inspiraram os artistas ao longo dos tempos.
As dez obras desta exposição, com diversas técnicas e suportes, têm em comum um audacioso cromatismo, vivo e sensual, pleno de exuberância: um hino à alegria de viver.
Os modelos são banhados por uma luz forte, com cores vivas e quentes, que, se em alguns casos, quase os ocultam, serve sempre para evidenciar a sua beleza e sensualidade.
Com o pincel ou com a espátula, os traços vigorosos, plenos de matéria, afagam os corpos nus numa carícia que se transmite em reflexos de luz que traduzem os sentimentos poéticos do seu criador e nos fazem sonhar com um mundo melhor, mais harmonioso, mais sedutor.

Calceteiro ou escultor?

Na inauguração desta exposição, como em qualquer outra, depois dos primeiros momentos em que as obras expostas são a atracção, a atenção dos visitantes dispersa-se com os aperitivos e as bebidas. Começam a formar-se pequenos grupos de pessoas com afinidades, amigos que não se viam há algum tempo trocam impressões, o repórter vai saltitando por entre os grupinhos tentando captar algo de interessante para a sua reportagem.
Eu formava um desses grupos restritos com dois ou três amigos numa conversa sobre nada. Um deles, numa maneira casual, pergunta-me:
- Então, que trabalho tens entre mãos?
- Uma pergunta muito pertinente– respondi, mostrando-lhe as mãos com alguns calos recém formados. Agora, estou a fazer calçada portuguesa.
- Não acredito!
- Verdade! Eu tinha, não sei se te lembras, um espaço em frente da minha casa que devia ser relvado. Infelizmente o raio da relva não resistia às ervas daninhas. Um dia, fui dar uma volta à zona ribeirinha da Moita e reparei que o pessoal dos serviços camarários estava a calcetar o espaço que circunda o edifício da Câmara. Estive a observar os procedimentos técnicos, os materiais, conversei com alguns operários, tirando notas de alguns pormenores que considerei mais importantes e, cereja no cimo do bolo, fiquei com o nome dos melhores fornecedores de materiais. Pensei que era a solução certa para resolver os meus dois problemas de uma vez só: Acabar com as ervas e tornar o espaço agradável. É isso que estou a fazer.
- Com que então, agora é calceteiro? – gritou o repórter mesmo atrás de mim.
Fiquei em pânico. Estava já a ver como título da reportagem: ”Pintor em apuros aceita trabalho de calceteiro”.
Lembrei-me então que a melhor defesa é o ataque:
- Calceteiro, eu? Não! Escultor!
Ficou de boca aberta, siderado pelo vigor da minha resposta.
Facto é, que não perguntou mais nada, e a reportagem salientou apenas os aspectos mais interessantes da exposição. Até hoje, ainda não lhe perdoei ter-se esquecido de mencionar os meus trabalhos de escultor.
Que frustração!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

...DE COMO EU COLABOREI NO SALVAMENTO DE UMA FOCA-BEBÉ...




Foca-bebé tinta da china sobre papel (56x44)

Este trabalho, de 1998, resultou do apelo de uma câmara Municipal, aos artistas do Concelho, para colaborarem numa daquelas campanhas contra o massacre, especialmente repugnante, das focas-bebé. Continua actual, porque em 2006 foram alcançados números impressionantes: 355.000 focas mortas!
Eu fui atingido pelo problema num daqueles tele-jornais especialmente realizados por Cronenberg para a hora de jantar, em que se mostrava homens a matar aquelas coisinhas fofas com um bastão de basebol! Sem comentários. Adiante...
Quando tinha o trabalho quase concluído a minha filhota Elsa passou no estúdio para ver o que eu estava a fazer. Adorou, claro (é filha), e então eu disse-lhe que faltava pôr o sangue que inundava aquela água... Olhou para mim incrédula! Quando compreendeu que eu estava a falar a sério tirou-me o desenho, que ficou sujo, não de sangue, mas de duas lágrimas que lhe correram pela face...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

ANO I d.W. (depois Web)












Pormenores de WEB

Tive de fazer uma hibernação! Foi necessária para consolidar no disco rígido da minha memória, os acontecimentos que marcaram o dia 5 de Dezembro de 2007.
Já recomposto, aqui estou para recomeçar o convívio, com todos os meus amigos. Depois de analisar as mensagens que recebi, cheguei à conclusão que não conseguiria responder dignamente a todas. Como sinal de agradecimento, mostro alguns pormenores, da grande culpada de tudo o que aconteceu – WEB.
Ah! Já me esquecia! Peço desculpa a alguns amigos (não digo quais:) que foram enganados pelo champanhe doce e não se aperceberam do seu teor alcoólico...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

WEB


WEB - Acrílico sobre tela (70x70)







WEB

Ars longa, Vita brevis (A Arte é longa, a Vida é breve).
O primeiro aforismo de Hipócrates parece feito de propósito para esta situação: a perenidade da obra de Arte, em oposição à brevidade da vida humana.
Com o perigo de esgotar o meu latim, não resisto a citar o verso final de Virgílio, que nos avisa que o tempo passa e não volta mais, e que é demasiado precioso para o desperdiçarmos em futilidades:
Fugit irreparabile tempus!
São duas verdades de que eu cada vez mais tenho consciência, talvez devido à minha já provecta idade. É por isso que valorizo cada momento que vivo, como se fosse o último! Neste exacto instante, sou feliz: ergo a minha taça virtual cheia dum champanhe simbólico, que contém o elixir do amor e amizade de todos os que contribuíram para este happening. A todos, o meu muito obrigado!
Hip! Hip! Hurra!!!

domingo, 2 de dezembro de 2007

VERNISSAGE

C o n v i t e
António Tapadinhas e sua Família, têm a honra de convidar os seus
amigos, para a inauguração da exposição da sua mais recente obra, WEB, que
terá lugar no dia 5 de Dezembro, pelas 09 horas da manhã, na sua residência
virtual. A apresentação desta obra coincide com o aniversário do seu criador.
Solicitamos a confirmação da sua presença para cantar os parabéns,
comer uma fatia de bolo e beber uma taça de champanhe.



Como nasceu a WEB...

“WEB– é o nome que escolhi para a obra.”...

“Considerei a parte central da tela, como a representação da rede e eu não queria ser um mero observador. Queria estar integrado, sentir-me como um seu componente, mais do que um criador distante. Assim pensei na água como o elemento certo para reflectir todos e cada um dos impulsos que me foram dados pelos meus amigos.”...

“Estão lá as sete divisões verticais da tela, dez centímetros reservados para o céu (vão caber lá todos:), vinte centímetros para a água (ninguém se vai afogar!), espaço suficiente para traduzir em todos os seus cambiantes, este elemento vital.”...

“Hoje, perante a tela branca, ao pensar nos amigos a quem dediquei esta obra, não consegui manter a sobriedade. A emoção foi mais forte que a razão...Quis traduzir com a exuberância das cores, tudo o que imagino, sinto, pelos locais e pessoas que os habitam. Nos pormenores que mostro, ainda pouco nítidos, já os vejo todos...”




Para terem uma ideia de como vai ficar, lá está a WEB, envergonhada, a poucos dias da sua apresentação ao grande público.
Para mim, é um lugar nobre da casa, caloroso (está por cima da lareira :), foco de atenções de todos os que frequentam a minha casa.Como disse, será aqui que cortarei o bolo de anos (se cantarem bem os parabéns a você), e beberemos uma taça de champanhe à saúde de todos os amigos...




Este é o ângulo de visão que eu tenho quando me sento no sofá do salão de minha casa. Das quatro obras que aparecem na fotografia só vos apresentei “A grande caminhada”. Uma falta de delicadeza que eu espero me perdoem...
A partir do próximo dia 5 de Dezembro, “A grande caminhada”, depois de ter cumprido a sua nobre missão, vai alegrar outro local, para dar lugar à sua digna sucessora, WEB.






sexta-feira, 30 de novembro de 2007

MARATONA


Maratona Óleo sobre tela (30X40)

Esta é uma tela de 1997, praticamente no início da minha carreira como pintor. Lembro-me da motivação que me levou a pintá-la.
Nos primeiros tempos, aproveitava todas as oportunidades, para visitar galerias, ir a museus e exposições, sem qualquer espécie de critério ou selecção de pintores, estilos ou épocas...
Certo domingo, numa dessas minhas peregrinações às galerias de arte, recordo-me de ver uma grande tela representando uma multidão imensa, que a enchia por completo. Disse para comigo, que nunca faria uma obra daquelas por causa do tempo necessário para pintar cada uma daquelas figuras. À medida que me aproximava da tela a minha boca abria-se de espanto, com a compreensão do trabalho do pintor: só as figuras em primeiro e segundo plano estavam realmente pintadas com os pormenores necessários para a identificação de uma pessoa. Todos os outros planos, até ao infinito, eram pinceladas de cor, cada vez mais pequenas e menos intensas que, à distância, davam a sensação daquela multidão imensa. Saí da exposição com a ideia de experimentar fazer uma tela com aquelas características.
Nem de propósito, nesse domingo realizava-se a grande maratona de Lisboa. No dia seguinte todos os jornais traziam fotografias da enorme multidão que sempre participa nessa prova. Escolhi uma, com as pessoas a prepararem-se para iniciar a competição.
O resultado aí está.
Se algum dos participantes dessa maratona olhar para esta tela, poderá reconhecer-se no primeiro plano. Duvido é que alguém se atreva a dizer: Aquele, ali atrás sou eu!
Moral da história: “Tudo, antes de ser fácil, é difícil”

terça-feira, 27 de novembro de 2007

YING - YANG

YING – YANG Díptico Acrílico sobre tela (100x60x2)


Para melhor compreensão desta obra é necessário ter a noção do que significam estas palavras.
Segundo a concepção oriental, o universo era uno e sem movimento, até se ter cindido em duas espirais de energia, com dois princípios opostos, mas complementares entre si: Ying, o elemento feminino e Yang, o elemento masculino. Estes dois elementos primordiais, são essenciais para manter o equilíbrio dinâmico do universo e são um conceito tão puro que se pode aplicar a qualquer coisa. Ying é escuridão e Yang é luz, Ying é lua e Yang é sol, Ying é água e Yang é fogo ... Tudo o que existe contém estes dois princípios, portanto qualquer discriminação entre eles não faz qualquer sentido, porque um não existe sem o outro.
Esta obra foi criada para duas pessoas especiais (Ying e Yang) que habitavam um certo espaço. As suas cores reflectem a energia vital que uma sala de grandes proporções, com paredes brancas, precisa para tornar o ambiente acolhedor, caloroso, luxuoso, de festa...
As suas dimensões foram estudadas para evitar que, em conjunto com o dinamismo das cores, se tornasse demasiado absorvente e dominadora.
Depois de analisar estes aspectos mais conceptuais, a execução foi simples. Numa tela, Ying, estendi o amarelo cadmium medium hue, na outra, Yang, o vermelho cadmium hue. Reservei espaços iguais nas extremidades esquerda e direita, bem como na parte superior de cada uma das telas. A seguir pintei o vermelho sobre o amarelo, tendo o cuidado de deixar respirar esta cor, ou seja, deixar o observador sentir o amarelo, mesmo nas zonas cobertas pelo vermelho. Na outra parte do díptico, devido ao fraco poder de cobertura do amarelo, foi necessário adicionar um pouco de branco de titânio. Para compensar esta perda de intensidade, misturei um pouco de amarelo cadmium deep hue. E já está!
Esta obra é um elo de ligação entre estas duas pessoas, independentemente da distãncia que as separar...
Os outros símbolos deixo-os para a vossa fértil e criativa imaginação!

sábado, 24 de novembro de 2007

CALEIDOSCÓPIO


A minha casa é um caleidoscópio Acrílico sobre tela (60x60)

Esta obra, logo que a completei foi reservada pela minha filha Dulce para a sua colecção particular.
Foi concebida logo a seguir a um período de grande produtividade, devido a uma série de exposições muito próximas umas das outras a que me tinha comprometido.
Em cada exposição, faço questão de apresentar algumas peças feitas para o local e pessoas que o frequentam, o que me causou algum stress e resultou no compromisso comigo próprio de não deixar repetir a situação. Afinal, pintar é uma actividade que serve a beleza, e a beleza é um dos elementos necessários para tornar o mundo melhor. Também para mim...
Abro um parêntesis para uma explicação simplificada do significado de alguns termos que utilizarei na descrição da tela e que talvez sirvam para melhorar a sua compreensão. Desculpem-me os que já sabem estas coisas: são só meia dúzia de linhas...
Há três cores primárias: o azul, o magenta (vermelho) e o amarelo. São as que não se podem obter com a mistura de outras cores.
Combinando duas cores primárias, obtém-se uma cor secundária. Azul mais amarelo = verde, azul mais vermelho = violeta, amarelo mais vermelho = laranja.
Estas, por seu turno, são complementares da cor que não entra na sua composição. Assim, o laranja é complementar do azul, o verde é complementar do vermelho e o violeta complementar do amarelo. Conforme a lei do contraste, qualquer cor atinge a sua intensidade máxima quando está ao lado da sua complementar. Mas duas complementares misturadas, aniquilam-se: ficam cinzentas. Nas cores, como na vida, o céu e o inferno são vizinhos.
Nesta tela reduzi a paleta à expressão mais simples: vermelho, azul e amarelo, as cores primárias, mais branco e preto. Com estas cores, como já vimos, podem-se obter todas as outras. Nela é evidente a utilização da lei dos contrastes, para potenciar a intensidade das cores: ao lado dum azul lá está o laranja a espreitar, e o dinâmico vermelho não deixa o verde distanciar-se para longe...
Lembram-se que estava stressado e que queria limpar a cabeça de coisas complicadas, de problemas? Foi o exorcismo desses fantasmas que sempre habitam as casas, as ruas e vielas das cidades antigas, pintadas obsessivamente, que eu consegui com a pintura quase automática dos pequenos sinais que iam ficando gravados na minha mente e que eu plasmei na tela...
Falta só dizer que a colocação desta obra para vossa apreciação, é também o cumprimento da promessa que tinha feito a uma querida amiga que tem um blog que se chama Caleidoscópio... Podem vê-la em
http://caleidoscopio-nocturnidades.blogspot.com/

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

AINDA O PORTO


PORTO – Torre dos Clérigos Óleo sobre tela (56x25)

A Torre dos Clérigos, começada em 1732, é a obra mais antiga do arquitecto toscano Nicolau Nasoni, que marcou fortemente a paisagem urbana do Norte de Portugal, em meados do século XVIII. É considerada o ex-libris da cidade do Porto.
Para pintar esta jóia da arquitectura barroca, simplifiquei os traços da paisagem circundante e fui generoso na intensidade da cor que concedi às casas e aos seus telhados. Com esta opção procurei garantir que a torre seria um elemento indispensável no equilíbrio do conjunto.
Para a pintar utilizei, talvez não pareça na fotografia, a minha paleta de cores na sua totalidade. Baseei-me na teoria da mistura óptica, segundo a qual a mistura de pigmentos na paleta do pintor resulta, no olho do observador, em cores menos puras. Estendi a cor do céu de uma forma simples, com predomínio do branco, para não perturbar a energia da torre, com o seu ruído. O monumento foi pintado com pequeníssimas pinceladas de cor em estado puro, deixando o trabalho da sua mistura, à retina do espectador. A torre parece assim vibrar com a luz que incide sobre ela... Eu vibrei com o resultado.
Espero que os meus amigos usem um pouco da sua imaginação para tentar perceber o que as minhas pobres palavras não conseguem transmitir. A Torre dos Clérigos merece...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

PORTO SENTIDO - Rui Veloso

http://www.youtube.com/watch?v=AtgMCtadQOM

PORTO - RIBEIRA


PORTO – RIBEIRA Muro dos Bacalhoeiros Óleo sobre tela (64x54)

Nesta minha vertigem pela Ribeira do Porto, uma das telas de que mais gosto e que por isso continua em minha casa, é esta que mostra o Muro dos Bacalhoeiros.
É uma obra em que utilizei cores fortes, com as suas complementares bem próximas, para salientar a força que emana daquelas pedras. Não satisfeito com o resultado obtido, procurei reforçar essa sensação com a mistura de areia na tinta, criando o aspecto rude e rústico das rochas, que falam connosco como as castiças gentes do Porto.
Nesta obra, as janelas das casas deixam de ser elementos “apenas” decorativos: estão humanizadas com a sugestão de roupas penduradas e vasos de flores que lembram as pessoas que as habitam.
Sei por experiência própria do mau gosto associado à escolha das molduras para as obras de arte. Não sei se por força da sugestão dos vendedores, que mais do que servir os clientes, querem vender as mais caras, ou por pressão do dono que quer valorizar uma obra que deve valer por si própria. Há casos em que a moldura fica mais cara do que a peça que contém.
Para este quadro fui eu que fiz a moldura: cortei e pintei a madeira com a mesma tinta que utilizei na tela. Utilizei o azul ultramarino (deep), misturado com um pouco de vermelho de cádmio, para o escurecer ao mesmo tempo que o torna menos frio.
É este Porto sentido que eu pretendi retratar. Para mim, sempre que passo por esta obra não resisto a dar-lhe uma nova mirada. E ela retribuiu como uma amante fiel: sempre lhe descubro novos encantos!

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

PORTO NÃO É SÓ PAISAGEM

Porto - Ribeira com barco rabelo Óleo sobre tela (120x120)

Antes de começar a pintar, visitei muitas vezes o Porto, uma cidade feia e triste, segundo os lisboetas, a capital do trabalho, segundo os tripeiros.
Há uma certa tendência para considerar a nossa cidade, a nossa terra, a nossa rua como o centro do Universo, o local mais... mais... umbilicus mundi. Eu não era dos que dizia que o melhor do Porto era a auto-estrada para Lisboa mas, para ser sincero, ela não me entusiasmava especialmente.
Até que...
Comecei a pintar e um dia fui ao Porto, para ver uma exposição na Fundação de Serralves. A exposição chamava-se Amadeo Sousa-Cardoso/Piet Mondrian, em que se apresentava o diálogo entre dois pintores que, apesar de nunca se terem conhecido, tiveram um percurso muito semelhante, abandonando o seu país natal para viver em Paris, a cidade onde se concentravam os movimentos vanguardistas da sua época.
Cheguei de manhã, bem cedo e resolvi passar pela Ribeira. Disse Aquilino:
“Este trecho do Porto com fragatas a chocalhar contra o cais, a selva de mastros, o mercado de galinhas, truculências, aleijões, uma mulher que mostra a perna monstruosa com elefantíase, tísicos de tigela à banda, lembra as velhas cidades hanseáticas com todo o seu tropo-galhopo de coisas”.
E depois as casas carregadas de janelas/olhos, cores/lantejoulas, pedras/musgo... e depois o rio Douro... e depois os barcos rabelo... meu Deus, não tinha olhos, ouvidos, nariz, cérebro, rolos de máquina fotográfica, para guardar tudo o que me cercava... mas tudo me ficou agarrado à pele como a tinta indelével duma tatuagem.

sábado, 17 de novembro de 2007

WEB - Em construção

WEB - 17 Novembro


De como um taco se transformou num tento...

No relatório anterior, mostrei as minhas espátulas talvez das melhores e com certeza as mais baratas que existem. Pois agora, tenho a honra de apresentar o tento mais caro do mercado.
Joguei bilhar de competição, tendo conquistado alguns títulos regionais e em representação do Sport Lisboa e Benfica, cheguei a vice-campeão nacional, na modalidade de três tabelas. Para competir em igualdade de circunstâncias, o taco era um elemento essencial. O melhor na altura era o Buffalo, New Professional, 1982. Foi esse que eu comprei. Custou qualquer coisa como 60.000$, ou seja, cerca de 300€. Quando deixei de jogar bilhar, dei alguns tacos a amigos, vendi outros mas nunca me desfiz do meu companheiro de tantas jornadas. Tinha, no meu estúdio, o taco no seu estojo de cabedal, com o interior almofadado revestido de veludo vermelho. De vez em quando, abria o estojo, olhava para ele e afagava-o, com pena por tão bela peça, estar ali inútil, como presente de loja de chinês... Acho que aquela madeira que tem uns veios especiais, a que chamamos “olho de perdiz”, ficava a olhar para mim com ar interrogativo e acusador, como os velhos do lar que existe perto da minha casa... Até que um dia lhe arranjei uma maneira de passar o resto da sua, e minha vida, de uma maneira útil: transformei-o num tento, o utensílio que os pintores usam para apoiar a mão, quando pretendem dar pinceladas mais precisas.
Duvido que alguma vez um pintor tenha pago tanto por esta peça. Tem sido uma relação frutuosa: o tento (taco?) apesar de já ter algumas cicatrizes, ostenta-as com garbo. São como medalhas de guerra – confidenciou-me orgulhoso.
A tela da NET está agora coberta de tinta. Vou deixá-la secar, no meu estúdio, irei olhar para ela calmamente, de uma maneira natural e carinhosa, à espera que ela me diga como e quando vai ser a sua independência em relação ao seu criador...

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

WEB - Em construção

Ontem tive um assunto menor para tratar. Por isso, tive de deixar a coisa mais importante que tenho para fazer em lista de espera. Recapitulando: o assunto pouco importante = inadiável, o essencial = pode esperar... Percebem agora porque é que Portugal não avança?
Foi assim que ficou a WEB depois desta segunda sessão. O pequeno mistério que criei , quando não expliquei o que queria dizer com - já sei o que vou fazer mas não digo - está agora revelado. Considerei a parte central da tela, como a representação da rede e eu não queria ser um mero observador. Queria estar integrado, sentir-me como um seu componente, mais do que um criador distante. Assim pensei na água como o elemento certo para reflectir todos e cada um dos impulsos que me foram dados pelos meus amigos.


Não uso cartão de crédito... pelo menos com a finalidade que as pessoas normais lhe dão. Para mim, é uma espátula com a flexibilidade certa, fácil de cortar para a medida que nos interessa e muito, muito barata...


É um exercício útil e interessante, voltar a tela ao contrário. Descobrimos coisas erradas, que na posição do homo erectus, nos podem escapar (como sou homo sapiens voltei a tela em vez de fazer o pino). Imaginem só, o caricato de algumas situações, se utilizássemos este método na nossa vida de todos os dias....


Achei importante mostrar como pego na paleta e no pincel. Tenho lido muito sobre este assunto. Prefiro a paleta branca como a tela, para ficar com a noção exacta do que vai acontecer quando começo a espalhar a tinta. Para cada pintor, a sua maneira, ou seja, todas são boas, desde que os resultados sejam satisfatórios. Já tentaram aprender a comer com os hashi (pauzinhos chineses)? É a mesma coisa...



terça-feira, 13 de novembro de 2007

WEB - Em construção


WEB - Detalhes

RELATÓRIO
A tela já tomou o freio nos dentes!
O que está exposto é o resultado de uma manhã de trabalho. Comecei a tarefa às oito da manhã com o formigueiro nos dedos causado pelas formigas marabunta que me atacam o cérebro, nestas alturas em que estou entusiasmado, expectante com o que irá acontecer... Porque sei, por experiência própria, que sou incapaz de respeitar as minhas próprias regras, depois de as definir cuidadosamente... Estão lá as sete divisões verticais da tela, dez centímetros reservados para o céu (vão caber lá todos:), vinte centímetros para a água (ninguém se vai afogar!), espaço suficiente para traduzir em todos os seus cambiantes, este elemento vital. Às catorze horas, quando o desespero já invadia a minha família, lá saí do estúdio para ir almoçar.
O estudo preliminar está feito com a razão. Hoje, perante a tela branca, ao pensar nos amigos a quem dediquei esta obra, não consegui manter a sobriedade. A emoção foi mais forte que a razão... Quis traduzir com a exuberância das cores, tudo o que imagino, sinto, pelos locais e pessoas que os habitam. Nos pormenores que mostro, ainda pouco nítidos, já os vejo todos...
Enquanto não completar a estimulante tarefa que me “impuseram” vou continuar a acompanhar as maravilhas que são colocadas quase diariamente nos blogs amigos, mas não prometo tecer comentários. Às vezes as palavras não traduzem o que eu penso com a rapidez que eu desejo...
Sintam-se à vontade para criticar/fazer sugestões...
Tenho um novo amor no cavalete. O estudo, para mim, é um trabalho acabado, de que gosto, mas acabou-se... RIP

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

WEB - estudo

Duas telas de 30x24

A REDE

Está decidido!
As sugestões foram tão ricas que não consegui eliminar nenhuma!
Como deixar de fora, “a aldeia... de um rio sem margens”, de Flávio, “as colinas doradas” de Fermina, “los paños purpura de la vida” de Nocturna, da querida Anne que diz ser o meu blog “ um local de reunião de almas inquietas”, Addiragram que me mandou pintar a tela “com a luz de todas as emoções”, Tino Cassi, o Pastor de Estrelas, que disse “iban por el camino/ de lo desconocido/ el no saber/ la inocencia/ y la ilusión...”, ou Gorrión, Lobo das Astúrias, que disse saber (sábio é o Lobo) “que ese lienzo lo has hecho com tejido do proprio corazón”, ou de She: para ela “los sueños son nubes esponjadas que viajan de corazòn a corazòn”...
Preciso lembrar também Zulma, la reina del altillo, com quem eu me entendo perfeitamente com a linguagem do coração, os reflexos de Sestri, captados por Laura, de Sybila, Tánatos, Miss Slim, Gi, Madalena, ou de Jorge, professor de profissão, mestre na apreciação do que é belo ...
A resposta a todas estas questões é simples como deve ser a Arte e como devia ser a Vida. O título de uma obra, muitas vezes não significa (quase) nada. Outras vezes, orienta o observador numa determinada direcção. O título que escolhi para esta, é um preito de homenagem que pretendo transmitir a absolutos desconhecidos de há dois meses e agora meus amigos, tanto como aqueles que não mencionei anteriormente – seria a mera constatação do óbvio...
WEB– é o nome que escolhi para a obra.
Este título, vai condicionar a concepção, desenvolvimento e execução da tela.
Como cor base o verde, cor da esperança... Pensei utilizar materiais como o sisal, ou a ráfia para ligar os elementos gráficos, dando, ao mesmo tempo, uma textura interessante para a sugestão de rede. Comprei os materiais, experimentei-os sobre tela matizada de verde mas o resultado não me agradou.
Estava a olhar para a tela branca tentando seduzi-la, a adulá-la, e ela respondeu aos meus estímulos mostrando-me na plenitude (quase) toda a beleza que continha. Imaginei seis linhas verticais que dividiam em sete espaços (número mágico) a tela onde deveriam caber todos os elementos gráficos, cores e texturas, que iria associar aos meus amigos.
Achei que ela (a tela é feminina) me estava a esconder qualquer coisa... Tinha duas pequenas telas que achei servirem perfeitamente para fazer um esboço preliminar para decidir com maior certeza da justeza dos meus pensamentos. E assim fiz. O resultado está aí... e não me agradou, totalmente...
Neste momento que estou a escrever já sei o que vou fazer, mas ainda não digo!


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

EMOÇÕES

Emoções Óleo sobre tela - 80x100

O VALOR DA EMOÇÃO

A capacidade que as pessoas têm de surpreender, não deixa de me espantar!
Hesitei imenso em colocar a minha cópia de “O Beijo” no blog. Não sabia qual seria a reacção. Resolvi arriscar, pensando que os meus amigos não seriam muito duros nas críticas (sabem que eu sou muito sensível), e os outros, bem, os outros não me afectariam assim tanto.
E o que acontece?
Recebo as manifestações mais comoventes de apreço pela obra e pelo seu simbolismo.
Como posso continuar a enganar-me assim? Vejam só!
Na preparação de uma exposição, tenho sempre em atenção o local onde tem lugar e, naturalmente, o tipo de pessoas que o frequentam. Para além de escolher as obras, procuro fazer uma, específica para o sítio em que é apresentada.
O dono da Galeria Art´Caffe, que me convidou para mostrar as minhas obras no seu espaço, depois de acordarmos os aspectos práticos que envolviam a exposição, perguntou-me qual o nome que pensava dar-lhe. Ainda não sabia – respondi-lhe. Despedimo-nos. À saída disse-lhe quão agradecido estava pelos meios colocados à minha disposição e com a atenção dedicada aos pormenores (incluíam a contratação duma violinista para a recepção dos convidados) e da emoção que tal facto me causava.
Emoções! – disse ele. Não percebi de imediato. Ele estava a sugerir-me o nome da exposição. Gostei tanto da ideia que resolvi fazer uma obra com esse título.
O nosso cérebro está dividido em dois hemisférios em que é dominante o esquerdo (nos canhotos é ao contrário), responsável pelo pensamento lógico e comunicação. O hemisfério direito controla a criatividade e o pensamento simbólico. Com estes dados no meu espírito, decidi dar ao lado esquerdo da tela uma tonalidade mais sombria e ao lado direito tonalidades mais cálidas. Sugeri as diversas fases do desenvolvimento humano, desde a gestação até ao estado adulto, dominante no centro da tela. Do lado direito estão as variadas manifestações artísticas do homem – desde as cavernas, passando pela música, escrita, cinema, etc.. Do lado esquerdo estão os nossos fantasmas, os nossos tabus sexuais, a nossa cultura. Por toda a tela escrevi a palavra emoções nas mais diversificadas línguas e alfabetos. Felizmente, tenho um amigo que estava na altura a estudar japonês. Para escrever em chinês, fui a um restaurante (claro!) mas só lhes digo que foi a parte mais morosa da minha obra: fazer entender a quem nos servia à mesa o que pretendia, revelou-se impossível. Ela chamou a sua chefe, a chefe chamou o supervisor... Acho que também por lá passou a cozinheira! Até hoje ainda não tenho a certeza, se é mesmo a palavra “emoções” que está escrita na tela!
Esta obra ficou diferente de todas as outras. Pensei que iria ficar comigo. Puro engano! Foi a primeira que ficou com o sinal de vendida.
Nunca mais aprendo!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

ARTE LISBOA


Convite para a 7ª. edição da Feira de Arte Contemporânea, que terá lugar de 7 a 12 de Novembro, no Parque das Nações, em Lisboa. Uma boa oportunidade para saber o estado da Arte em Portugal, que eu não vou desperdiçar.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O BEIJO de Gustav Klimt

O Beijo - Klimt Óleo sobre tela 180x180

...Sabia que o modelo para o homem era o próprio Klimt e a mulher que segurava nos braços a sua amante Emilie. A mulher fatal e desafiadora de outras obras está aqui submissa, sensual, perante um homem dominador...


O BEIJO - António Tapadinhas



“O Beijo” de António Tapadinhas Óleo sobre tela 80x60

A recompensa

Um dia, recebi em minha casa uma carta com um conteúdo muito especial: lá dentro estava um convite para o casamento de Bruno e Verónica. Ele, filho de um casal de velhos amigos, Fernanda e Zé. Aceitei, claro! Toda a cerimónia decorreu dentro da tão característica atmosfera “fin de siècle”. O salão onde se realizou o copo-de-água, estava decorado de acordo com o espírito da Arte Nova, um movimento contra as obras conservadoras e moralizadoras da anterior geração, de que Klimt foi líder, na Secession vienense. As mesas estavam identificadas com nomes de diversas obras do Mestre: Dánae, A Dançarina, A virgem, A Esperança... e O Beijo que era a minha mesa.
Em conversa com a mãe babada, contei que na minha viagem a Viena, no dia em que passámos no Palácio de Belvedere, eu não passei: despedi-me da minha mulher e amigos e fiquei na Österreichische Galerie até fecharem as portas do Palácio e me porem na rua, literalmente. Disse-lhe do meu entusiasmo por ver, poder cheirar as tintas daquela obra monumental – em todos os sentidos, pois tem a respeitável dimensão de 180x180.
Aproveitando o meu entusiasmo perguntou-me se eu estava disposto a fazer uma cópia de “O Beijo” para oferecer ao filho. Juro que “só” tinha bebido um (ou dois?) copos de champanhe... e disse que sim.
Durante o primeiro ano, quando nos encontrávamos, ainda me perguntava quando é que eu cumpria a promessa. A partir do segundo ano, só olhava para mim com olhos reprovadores (era o que eu sentia, por causa da consciência pesada).
Quando interiorizei que tinha de cumprir a promessa, pus mãos à obra. Sabia que o modelo para o homem era o próprio Klimt e a mulher que segurava nos braços era a sua amante Emilie. A mulher fatal e desafiadora de outras obras está aqui submissa, sensual, perante um homem dominador. Decidi de imediato que as figuras não podiam perder valor. Devido às dimensões do original tinha de cortar elementos. Sacrifiquei o campo de flores que enquadram e dão a dimensão monumental às figuras. Em vez de verdadeira folha de ouro utilizei tinta Old Gold e Gold para criar uma textura mais interessante. Klimt e seus amigos, procuravam incessantemente a beleza, sempre, sob o voluptuoso manto da morte a ensombrá-la. O mestre que me perdoe mas procurei dar uma cor mais cálida ao elemento feminino.
Passado muito, muito tempo, convidei os meus amigos para virem tomar um café a minha casa. Quando a Fernanda se sentou no sofá em frente da lareira e viu casualmente a peça que estava estrategicamente colocada na parede, os seus olhos brilharam, um largo sorriso abriu-se na sua cara. Perguntou-me, a medo, se aquela era a obra que saldava a promessa. Eu, com um pequeno aceno de cabeça, confirmei. Os seus olhos brilharam com duas lágrimas alegres que lhe escorreram pela face.
Foi o valor mais alto que eu cobrei por qualquer das minhas obras.

domingo, 4 de novembro de 2007

1.000 VISITAS

APELO DESESPERADO

Estou aterrorizado com as sugestões que os meus amigos me enviam.
Começo a ler uma qualquer e apetece-me gravá-la, correr para o estúdio e iniciar a tradução em cores e texturas dos sentimentos que me despertam, assim, numa primeira leitura em que a emoção se sobrepõe à razão. Mas não pode ser: quero aproveitar a oportunidade única de ter tantos amigos a fazer um download directo para mim. Tinha definido como data limite, para começar a pintar dia 12 de Novembro e vou manter essa data. Tanta coisa boa já aconteceu! E ainda falta uma eternidade para a data limite! Daí o meu apelo:
Não me façam mais maldades: o meu coração não vai aguentar!

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

1.000 visitas


DESAFIO!

Este sítio de convívio atingiu hoje o mítico número de 1.000 visitantes!
Para mim, é uma alegria, que não me faz esquecer que poderia ter feito mais e melhor para receber os meus ilustres visitantes. Não me refiro às minhas obras ou aos meus textos – nessas/nesses tudo o que sei está lá. Refiro-me às respostas que deviam ser dadas mais rapidamente, àquelas que ficaram na minha cabeça, mas que por um motivo ou outro, não foram sequer transmitidas. Posso assegurar que todas ficaram gravadas. Quando não houver mais espaço de armazenamento, sairão em variadas formas. Todos nós, só poderemos dar aquilo que tivermos guardado: quem tem amor no coração, terá amor para distribuir. A felicidade que me têm transmitido deu-me muitas alegrias, trouxe-me muitas prendas, enriqueceu-me.
Para comemorar, visto que o meu blog é sobretudo de pintura, pensei em fazer uma obra que marcasse esta data, como um Padrão das Descobertas.
Gostaria de ter a colaboração dos meus amigos. Aceito sugestões: pode ser um título, uma frase, um pensamento, um poema, ou coisas mais concretas, como paisagens, locais, cores...
Vão dar-me a possibilidade de escolher, valeu?
A tela que está no cavalete é de linho, está preparada para pintura acrílica ou a óleo e tem as dimensões de 70x70 cm.
Nesta tela, prometo tornar realidade o sonho de um dos meus amigos...
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Bem Hajam!

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

SÉRIE - AS CIDADES DAS EMOÇÕES

Igreja de S. Miguel, Alfama, Lisboa - óleo sobre tela (80x60)



A Cidade do Sol - Acrílico sobre tela (4 telas de 35x40)

O olho humano distingue uma grande variedade de cores e tons , sem limites definidos. Este espectro visível abrange uma certa gama de frequências que correspondem a seis cores: vermelho, laranja, amarelo - cores quentes e verde, azul e violeta – cores frias.
Gostei tanto do resultado da inspiração momentânea que me levou a executar o políptico “A Cidade dos Sonhos”, utilizando a gama de cores frias, que parti para a “Cidade do Sol” com a ideia precisa do que pretendia. Em quatro telas com as mesmas dimensões (35x40 cm) esgotar a minha paleta de cores quentes na transmissão da sensação do sol a aquecer o ar, as casas, a alma da gente da minha Lisboa. Com uma condição: deixar a gama de frequências mais elevadas para a obra que ficaria a seu lado - Igreja de S. Miguel, em Alfama, Lisboa.
Parece-me ter atingido o objectivo pretendido: fazer sentir que, com a mesma gama de cores, se podem obter contrastes e sensações diferentes, naturalmente potenciadas pelas evidentes diferenças de estilo.

sábado, 27 de outubro de 2007

SÉRIE - AS CIDADES DAS EMOÇÕES

Lisboa - Elevador de Santa Justa - óleo sobre tela (80x100)


Lisboa - Elevador de Santa Justa - Óleo sobre tela (80x100)
A LUZ DE LISBOA
Estas duas telas estavam juntas na exposição referida. Tinham em comum as cores utilizadas e um elemento colocado na Secção de Ouro, ou Divina Proporção, como lhe chamou mais tarde Leonardo da Vinci no seu Tratado da Pintura – o elevador de Santa Justa.
Uma obra procura transmitir a sensação das cores quentes e da luz estonteante nos telhados de Lisboa. A outra, apelando mais à imaginação do observador, tem a construção cubista/cézanniana do mundo.
O movimento cubista, iniciado por Braque e Picasso, divide-se normalmente em três fases. A primeira, Cézannianna, dizia que tudo se pode reduzir a cones, cilindros e esferas. A segunda, Analítica, em que as obras são trabalhadas numa cor base, e por fim a fase do Cubismo Sintético, que é a mais geometrizada e a mais abstracta de todas. Todos os pintores de qualquer destas fases tinham em comum a admiração, a veneração por Cézanne e a sua visão construtiva do mundo.
Eu também!