sexta-feira, 30 de novembro de 2007

MARATONA


Maratona Óleo sobre tela (30X40)

Esta é uma tela de 1997, praticamente no início da minha carreira como pintor. Lembro-me da motivação que me levou a pintá-la.
Nos primeiros tempos, aproveitava todas as oportunidades, para visitar galerias, ir a museus e exposições, sem qualquer espécie de critério ou selecção de pintores, estilos ou épocas...
Certo domingo, numa dessas minhas peregrinações às galerias de arte, recordo-me de ver uma grande tela representando uma multidão imensa, que a enchia por completo. Disse para comigo, que nunca faria uma obra daquelas por causa do tempo necessário para pintar cada uma daquelas figuras. À medida que me aproximava da tela a minha boca abria-se de espanto, com a compreensão do trabalho do pintor: só as figuras em primeiro e segundo plano estavam realmente pintadas com os pormenores necessários para a identificação de uma pessoa. Todos os outros planos, até ao infinito, eram pinceladas de cor, cada vez mais pequenas e menos intensas que, à distância, davam a sensação daquela multidão imensa. Saí da exposição com a ideia de experimentar fazer uma tela com aquelas características.
Nem de propósito, nesse domingo realizava-se a grande maratona de Lisboa. No dia seguinte todos os jornais traziam fotografias da enorme multidão que sempre participa nessa prova. Escolhi uma, com as pessoas a prepararem-se para iniciar a competição.
O resultado aí está.
Se algum dos participantes dessa maratona olhar para esta tela, poderá reconhecer-se no primeiro plano. Duvido é que alguém se atreva a dizer: Aquele, ali atrás sou eu!
Moral da história: “Tudo, antes de ser fácil, é difícil”

terça-feira, 27 de novembro de 2007

YING - YANG

YING – YANG Díptico Acrílico sobre tela (100x60x2)


Para melhor compreensão desta obra é necessário ter a noção do que significam estas palavras.
Segundo a concepção oriental, o universo era uno e sem movimento, até se ter cindido em duas espirais de energia, com dois princípios opostos, mas complementares entre si: Ying, o elemento feminino e Yang, o elemento masculino. Estes dois elementos primordiais, são essenciais para manter o equilíbrio dinâmico do universo e são um conceito tão puro que se pode aplicar a qualquer coisa. Ying é escuridão e Yang é luz, Ying é lua e Yang é sol, Ying é água e Yang é fogo ... Tudo o que existe contém estes dois princípios, portanto qualquer discriminação entre eles não faz qualquer sentido, porque um não existe sem o outro.
Esta obra foi criada para duas pessoas especiais (Ying e Yang) que habitavam um certo espaço. As suas cores reflectem a energia vital que uma sala de grandes proporções, com paredes brancas, precisa para tornar o ambiente acolhedor, caloroso, luxuoso, de festa...
As suas dimensões foram estudadas para evitar que, em conjunto com o dinamismo das cores, se tornasse demasiado absorvente e dominadora.
Depois de analisar estes aspectos mais conceptuais, a execução foi simples. Numa tela, Ying, estendi o amarelo cadmium medium hue, na outra, Yang, o vermelho cadmium hue. Reservei espaços iguais nas extremidades esquerda e direita, bem como na parte superior de cada uma das telas. A seguir pintei o vermelho sobre o amarelo, tendo o cuidado de deixar respirar esta cor, ou seja, deixar o observador sentir o amarelo, mesmo nas zonas cobertas pelo vermelho. Na outra parte do díptico, devido ao fraco poder de cobertura do amarelo, foi necessário adicionar um pouco de branco de titânio. Para compensar esta perda de intensidade, misturei um pouco de amarelo cadmium deep hue. E já está!
Esta obra é um elo de ligação entre estas duas pessoas, independentemente da distãncia que as separar...
Os outros símbolos deixo-os para a vossa fértil e criativa imaginação!

sábado, 24 de novembro de 2007

CALEIDOSCÓPIO


A minha casa é um caleidoscópio Acrílico sobre tela (60x60)

Esta obra, logo que a completei foi reservada pela minha filha Dulce para a sua colecção particular.
Foi concebida logo a seguir a um período de grande produtividade, devido a uma série de exposições muito próximas umas das outras a que me tinha comprometido.
Em cada exposição, faço questão de apresentar algumas peças feitas para o local e pessoas que o frequentam, o que me causou algum stress e resultou no compromisso comigo próprio de não deixar repetir a situação. Afinal, pintar é uma actividade que serve a beleza, e a beleza é um dos elementos necessários para tornar o mundo melhor. Também para mim...
Abro um parêntesis para uma explicação simplificada do significado de alguns termos que utilizarei na descrição da tela e que talvez sirvam para melhorar a sua compreensão. Desculpem-me os que já sabem estas coisas: são só meia dúzia de linhas...
Há três cores primárias: o azul, o magenta (vermelho) e o amarelo. São as que não se podem obter com a mistura de outras cores.
Combinando duas cores primárias, obtém-se uma cor secundária. Azul mais amarelo = verde, azul mais vermelho = violeta, amarelo mais vermelho = laranja.
Estas, por seu turno, são complementares da cor que não entra na sua composição. Assim, o laranja é complementar do azul, o verde é complementar do vermelho e o violeta complementar do amarelo. Conforme a lei do contraste, qualquer cor atinge a sua intensidade máxima quando está ao lado da sua complementar. Mas duas complementares misturadas, aniquilam-se: ficam cinzentas. Nas cores, como na vida, o céu e o inferno são vizinhos.
Nesta tela reduzi a paleta à expressão mais simples: vermelho, azul e amarelo, as cores primárias, mais branco e preto. Com estas cores, como já vimos, podem-se obter todas as outras. Nela é evidente a utilização da lei dos contrastes, para potenciar a intensidade das cores: ao lado dum azul lá está o laranja a espreitar, e o dinâmico vermelho não deixa o verde distanciar-se para longe...
Lembram-se que estava stressado e que queria limpar a cabeça de coisas complicadas, de problemas? Foi o exorcismo desses fantasmas que sempre habitam as casas, as ruas e vielas das cidades antigas, pintadas obsessivamente, que eu consegui com a pintura quase automática dos pequenos sinais que iam ficando gravados na minha mente e que eu plasmei na tela...
Falta só dizer que a colocação desta obra para vossa apreciação, é também o cumprimento da promessa que tinha feito a uma querida amiga que tem um blog que se chama Caleidoscópio... Podem vê-la em
http://caleidoscopio-nocturnidades.blogspot.com/

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

AINDA O PORTO


PORTO – Torre dos Clérigos Óleo sobre tela (56x25)

A Torre dos Clérigos, começada em 1732, é a obra mais antiga do arquitecto toscano Nicolau Nasoni, que marcou fortemente a paisagem urbana do Norte de Portugal, em meados do século XVIII. É considerada o ex-libris da cidade do Porto.
Para pintar esta jóia da arquitectura barroca, simplifiquei os traços da paisagem circundante e fui generoso na intensidade da cor que concedi às casas e aos seus telhados. Com esta opção procurei garantir que a torre seria um elemento indispensável no equilíbrio do conjunto.
Para a pintar utilizei, talvez não pareça na fotografia, a minha paleta de cores na sua totalidade. Baseei-me na teoria da mistura óptica, segundo a qual a mistura de pigmentos na paleta do pintor resulta, no olho do observador, em cores menos puras. Estendi a cor do céu de uma forma simples, com predomínio do branco, para não perturbar a energia da torre, com o seu ruído. O monumento foi pintado com pequeníssimas pinceladas de cor em estado puro, deixando o trabalho da sua mistura, à retina do espectador. A torre parece assim vibrar com a luz que incide sobre ela... Eu vibrei com o resultado.
Espero que os meus amigos usem um pouco da sua imaginação para tentar perceber o que as minhas pobres palavras não conseguem transmitir. A Torre dos Clérigos merece...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

PORTO SENTIDO - Rui Veloso

http://www.youtube.com/watch?v=AtgMCtadQOM

PORTO - RIBEIRA


PORTO – RIBEIRA Muro dos Bacalhoeiros Óleo sobre tela (64x54)

Nesta minha vertigem pela Ribeira do Porto, uma das telas de que mais gosto e que por isso continua em minha casa, é esta que mostra o Muro dos Bacalhoeiros.
É uma obra em que utilizei cores fortes, com as suas complementares bem próximas, para salientar a força que emana daquelas pedras. Não satisfeito com o resultado obtido, procurei reforçar essa sensação com a mistura de areia na tinta, criando o aspecto rude e rústico das rochas, que falam connosco como as castiças gentes do Porto.
Nesta obra, as janelas das casas deixam de ser elementos “apenas” decorativos: estão humanizadas com a sugestão de roupas penduradas e vasos de flores que lembram as pessoas que as habitam.
Sei por experiência própria do mau gosto associado à escolha das molduras para as obras de arte. Não sei se por força da sugestão dos vendedores, que mais do que servir os clientes, querem vender as mais caras, ou por pressão do dono que quer valorizar uma obra que deve valer por si própria. Há casos em que a moldura fica mais cara do que a peça que contém.
Para este quadro fui eu que fiz a moldura: cortei e pintei a madeira com a mesma tinta que utilizei na tela. Utilizei o azul ultramarino (deep), misturado com um pouco de vermelho de cádmio, para o escurecer ao mesmo tempo que o torna menos frio.
É este Porto sentido que eu pretendi retratar. Para mim, sempre que passo por esta obra não resisto a dar-lhe uma nova mirada. E ela retribuiu como uma amante fiel: sempre lhe descubro novos encantos!

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

PORTO NÃO É SÓ PAISAGEM

Porto - Ribeira com barco rabelo Óleo sobre tela (120x120)

Antes de começar a pintar, visitei muitas vezes o Porto, uma cidade feia e triste, segundo os lisboetas, a capital do trabalho, segundo os tripeiros.
Há uma certa tendência para considerar a nossa cidade, a nossa terra, a nossa rua como o centro do Universo, o local mais... mais... umbilicus mundi. Eu não era dos que dizia que o melhor do Porto era a auto-estrada para Lisboa mas, para ser sincero, ela não me entusiasmava especialmente.
Até que...
Comecei a pintar e um dia fui ao Porto, para ver uma exposição na Fundação de Serralves. A exposição chamava-se Amadeo Sousa-Cardoso/Piet Mondrian, em que se apresentava o diálogo entre dois pintores que, apesar de nunca se terem conhecido, tiveram um percurso muito semelhante, abandonando o seu país natal para viver em Paris, a cidade onde se concentravam os movimentos vanguardistas da sua época.
Cheguei de manhã, bem cedo e resolvi passar pela Ribeira. Disse Aquilino:
“Este trecho do Porto com fragatas a chocalhar contra o cais, a selva de mastros, o mercado de galinhas, truculências, aleijões, uma mulher que mostra a perna monstruosa com elefantíase, tísicos de tigela à banda, lembra as velhas cidades hanseáticas com todo o seu tropo-galhopo de coisas”.
E depois as casas carregadas de janelas/olhos, cores/lantejoulas, pedras/musgo... e depois o rio Douro... e depois os barcos rabelo... meu Deus, não tinha olhos, ouvidos, nariz, cérebro, rolos de máquina fotográfica, para guardar tudo o que me cercava... mas tudo me ficou agarrado à pele como a tinta indelével duma tatuagem.

sábado, 17 de novembro de 2007

WEB - Em construção

WEB - 17 Novembro


De como um taco se transformou num tento...

No relatório anterior, mostrei as minhas espátulas talvez das melhores e com certeza as mais baratas que existem. Pois agora, tenho a honra de apresentar o tento mais caro do mercado.
Joguei bilhar de competição, tendo conquistado alguns títulos regionais e em representação do Sport Lisboa e Benfica, cheguei a vice-campeão nacional, na modalidade de três tabelas. Para competir em igualdade de circunstâncias, o taco era um elemento essencial. O melhor na altura era o Buffalo, New Professional, 1982. Foi esse que eu comprei. Custou qualquer coisa como 60.000$, ou seja, cerca de 300€. Quando deixei de jogar bilhar, dei alguns tacos a amigos, vendi outros mas nunca me desfiz do meu companheiro de tantas jornadas. Tinha, no meu estúdio, o taco no seu estojo de cabedal, com o interior almofadado revestido de veludo vermelho. De vez em quando, abria o estojo, olhava para ele e afagava-o, com pena por tão bela peça, estar ali inútil, como presente de loja de chinês... Acho que aquela madeira que tem uns veios especiais, a que chamamos “olho de perdiz”, ficava a olhar para mim com ar interrogativo e acusador, como os velhos do lar que existe perto da minha casa... Até que um dia lhe arranjei uma maneira de passar o resto da sua, e minha vida, de uma maneira útil: transformei-o num tento, o utensílio que os pintores usam para apoiar a mão, quando pretendem dar pinceladas mais precisas.
Duvido que alguma vez um pintor tenha pago tanto por esta peça. Tem sido uma relação frutuosa: o tento (taco?) apesar de já ter algumas cicatrizes, ostenta-as com garbo. São como medalhas de guerra – confidenciou-me orgulhoso.
A tela da NET está agora coberta de tinta. Vou deixá-la secar, no meu estúdio, irei olhar para ela calmamente, de uma maneira natural e carinhosa, à espera que ela me diga como e quando vai ser a sua independência em relação ao seu criador...

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

WEB - Em construção

Ontem tive um assunto menor para tratar. Por isso, tive de deixar a coisa mais importante que tenho para fazer em lista de espera. Recapitulando: o assunto pouco importante = inadiável, o essencial = pode esperar... Percebem agora porque é que Portugal não avança?
Foi assim que ficou a WEB depois desta segunda sessão. O pequeno mistério que criei , quando não expliquei o que queria dizer com - já sei o que vou fazer mas não digo - está agora revelado. Considerei a parte central da tela, como a representação da rede e eu não queria ser um mero observador. Queria estar integrado, sentir-me como um seu componente, mais do que um criador distante. Assim pensei na água como o elemento certo para reflectir todos e cada um dos impulsos que me foram dados pelos meus amigos.


Não uso cartão de crédito... pelo menos com a finalidade que as pessoas normais lhe dão. Para mim, é uma espátula com a flexibilidade certa, fácil de cortar para a medida que nos interessa e muito, muito barata...


É um exercício útil e interessante, voltar a tela ao contrário. Descobrimos coisas erradas, que na posição do homo erectus, nos podem escapar (como sou homo sapiens voltei a tela em vez de fazer o pino). Imaginem só, o caricato de algumas situações, se utilizássemos este método na nossa vida de todos os dias....


Achei importante mostrar como pego na paleta e no pincel. Tenho lido muito sobre este assunto. Prefiro a paleta branca como a tela, para ficar com a noção exacta do que vai acontecer quando começo a espalhar a tinta. Para cada pintor, a sua maneira, ou seja, todas são boas, desde que os resultados sejam satisfatórios. Já tentaram aprender a comer com os hashi (pauzinhos chineses)? É a mesma coisa...



terça-feira, 13 de novembro de 2007

WEB - Em construção


WEB - Detalhes

RELATÓRIO
A tela já tomou o freio nos dentes!
O que está exposto é o resultado de uma manhã de trabalho. Comecei a tarefa às oito da manhã com o formigueiro nos dedos causado pelas formigas marabunta que me atacam o cérebro, nestas alturas em que estou entusiasmado, expectante com o que irá acontecer... Porque sei, por experiência própria, que sou incapaz de respeitar as minhas próprias regras, depois de as definir cuidadosamente... Estão lá as sete divisões verticais da tela, dez centímetros reservados para o céu (vão caber lá todos:), vinte centímetros para a água (ninguém se vai afogar!), espaço suficiente para traduzir em todos os seus cambiantes, este elemento vital. Às catorze horas, quando o desespero já invadia a minha família, lá saí do estúdio para ir almoçar.
O estudo preliminar está feito com a razão. Hoje, perante a tela branca, ao pensar nos amigos a quem dediquei esta obra, não consegui manter a sobriedade. A emoção foi mais forte que a razão... Quis traduzir com a exuberância das cores, tudo o que imagino, sinto, pelos locais e pessoas que os habitam. Nos pormenores que mostro, ainda pouco nítidos, já os vejo todos...
Enquanto não completar a estimulante tarefa que me “impuseram” vou continuar a acompanhar as maravilhas que são colocadas quase diariamente nos blogs amigos, mas não prometo tecer comentários. Às vezes as palavras não traduzem o que eu penso com a rapidez que eu desejo...
Sintam-se à vontade para criticar/fazer sugestões...
Tenho um novo amor no cavalete. O estudo, para mim, é um trabalho acabado, de que gosto, mas acabou-se... RIP

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

WEB - estudo

Duas telas de 30x24

A REDE

Está decidido!
As sugestões foram tão ricas que não consegui eliminar nenhuma!
Como deixar de fora, “a aldeia... de um rio sem margens”, de Flávio, “as colinas doradas” de Fermina, “los paños purpura de la vida” de Nocturna, da querida Anne que diz ser o meu blog “ um local de reunião de almas inquietas”, Addiragram que me mandou pintar a tela “com a luz de todas as emoções”, Tino Cassi, o Pastor de Estrelas, que disse “iban por el camino/ de lo desconocido/ el no saber/ la inocencia/ y la ilusión...”, ou Gorrión, Lobo das Astúrias, que disse saber (sábio é o Lobo) “que ese lienzo lo has hecho com tejido do proprio corazón”, ou de She: para ela “los sueños son nubes esponjadas que viajan de corazòn a corazòn”...
Preciso lembrar também Zulma, la reina del altillo, com quem eu me entendo perfeitamente com a linguagem do coração, os reflexos de Sestri, captados por Laura, de Sybila, Tánatos, Miss Slim, Gi, Madalena, ou de Jorge, professor de profissão, mestre na apreciação do que é belo ...
A resposta a todas estas questões é simples como deve ser a Arte e como devia ser a Vida. O título de uma obra, muitas vezes não significa (quase) nada. Outras vezes, orienta o observador numa determinada direcção. O título que escolhi para esta, é um preito de homenagem que pretendo transmitir a absolutos desconhecidos de há dois meses e agora meus amigos, tanto como aqueles que não mencionei anteriormente – seria a mera constatação do óbvio...
WEB– é o nome que escolhi para a obra.
Este título, vai condicionar a concepção, desenvolvimento e execução da tela.
Como cor base o verde, cor da esperança... Pensei utilizar materiais como o sisal, ou a ráfia para ligar os elementos gráficos, dando, ao mesmo tempo, uma textura interessante para a sugestão de rede. Comprei os materiais, experimentei-os sobre tela matizada de verde mas o resultado não me agradou.
Estava a olhar para a tela branca tentando seduzi-la, a adulá-la, e ela respondeu aos meus estímulos mostrando-me na plenitude (quase) toda a beleza que continha. Imaginei seis linhas verticais que dividiam em sete espaços (número mágico) a tela onde deveriam caber todos os elementos gráficos, cores e texturas, que iria associar aos meus amigos.
Achei que ela (a tela é feminina) me estava a esconder qualquer coisa... Tinha duas pequenas telas que achei servirem perfeitamente para fazer um esboço preliminar para decidir com maior certeza da justeza dos meus pensamentos. E assim fiz. O resultado está aí... e não me agradou, totalmente...
Neste momento que estou a escrever já sei o que vou fazer, mas ainda não digo!


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

EMOÇÕES

Emoções Óleo sobre tela - 80x100

O VALOR DA EMOÇÃO

A capacidade que as pessoas têm de surpreender, não deixa de me espantar!
Hesitei imenso em colocar a minha cópia de “O Beijo” no blog. Não sabia qual seria a reacção. Resolvi arriscar, pensando que os meus amigos não seriam muito duros nas críticas (sabem que eu sou muito sensível), e os outros, bem, os outros não me afectariam assim tanto.
E o que acontece?
Recebo as manifestações mais comoventes de apreço pela obra e pelo seu simbolismo.
Como posso continuar a enganar-me assim? Vejam só!
Na preparação de uma exposição, tenho sempre em atenção o local onde tem lugar e, naturalmente, o tipo de pessoas que o frequentam. Para além de escolher as obras, procuro fazer uma, específica para o sítio em que é apresentada.
O dono da Galeria Art´Caffe, que me convidou para mostrar as minhas obras no seu espaço, depois de acordarmos os aspectos práticos que envolviam a exposição, perguntou-me qual o nome que pensava dar-lhe. Ainda não sabia – respondi-lhe. Despedimo-nos. À saída disse-lhe quão agradecido estava pelos meios colocados à minha disposição e com a atenção dedicada aos pormenores (incluíam a contratação duma violinista para a recepção dos convidados) e da emoção que tal facto me causava.
Emoções! – disse ele. Não percebi de imediato. Ele estava a sugerir-me o nome da exposição. Gostei tanto da ideia que resolvi fazer uma obra com esse título.
O nosso cérebro está dividido em dois hemisférios em que é dominante o esquerdo (nos canhotos é ao contrário), responsável pelo pensamento lógico e comunicação. O hemisfério direito controla a criatividade e o pensamento simbólico. Com estes dados no meu espírito, decidi dar ao lado esquerdo da tela uma tonalidade mais sombria e ao lado direito tonalidades mais cálidas. Sugeri as diversas fases do desenvolvimento humano, desde a gestação até ao estado adulto, dominante no centro da tela. Do lado direito estão as variadas manifestações artísticas do homem – desde as cavernas, passando pela música, escrita, cinema, etc.. Do lado esquerdo estão os nossos fantasmas, os nossos tabus sexuais, a nossa cultura. Por toda a tela escrevi a palavra emoções nas mais diversificadas línguas e alfabetos. Felizmente, tenho um amigo que estava na altura a estudar japonês. Para escrever em chinês, fui a um restaurante (claro!) mas só lhes digo que foi a parte mais morosa da minha obra: fazer entender a quem nos servia à mesa o que pretendia, revelou-se impossível. Ela chamou a sua chefe, a chefe chamou o supervisor... Acho que também por lá passou a cozinheira! Até hoje ainda não tenho a certeza, se é mesmo a palavra “emoções” que está escrita na tela!
Esta obra ficou diferente de todas as outras. Pensei que iria ficar comigo. Puro engano! Foi a primeira que ficou com o sinal de vendida.
Nunca mais aprendo!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

ARTE LISBOA


Convite para a 7ª. edição da Feira de Arte Contemporânea, que terá lugar de 7 a 12 de Novembro, no Parque das Nações, em Lisboa. Uma boa oportunidade para saber o estado da Arte em Portugal, que eu não vou desperdiçar.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O BEIJO de Gustav Klimt

O Beijo - Klimt Óleo sobre tela 180x180

...Sabia que o modelo para o homem era o próprio Klimt e a mulher que segurava nos braços a sua amante Emilie. A mulher fatal e desafiadora de outras obras está aqui submissa, sensual, perante um homem dominador...


O BEIJO - António Tapadinhas



“O Beijo” de António Tapadinhas Óleo sobre tela 80x60

A recompensa

Um dia, recebi em minha casa uma carta com um conteúdo muito especial: lá dentro estava um convite para o casamento de Bruno e Verónica. Ele, filho de um casal de velhos amigos, Fernanda e Zé. Aceitei, claro! Toda a cerimónia decorreu dentro da tão característica atmosfera “fin de siècle”. O salão onde se realizou o copo-de-água, estava decorado de acordo com o espírito da Arte Nova, um movimento contra as obras conservadoras e moralizadoras da anterior geração, de que Klimt foi líder, na Secession vienense. As mesas estavam identificadas com nomes de diversas obras do Mestre: Dánae, A Dançarina, A virgem, A Esperança... e O Beijo que era a minha mesa.
Em conversa com a mãe babada, contei que na minha viagem a Viena, no dia em que passámos no Palácio de Belvedere, eu não passei: despedi-me da minha mulher e amigos e fiquei na Österreichische Galerie até fecharem as portas do Palácio e me porem na rua, literalmente. Disse-lhe do meu entusiasmo por ver, poder cheirar as tintas daquela obra monumental – em todos os sentidos, pois tem a respeitável dimensão de 180x180.
Aproveitando o meu entusiasmo perguntou-me se eu estava disposto a fazer uma cópia de “O Beijo” para oferecer ao filho. Juro que “só” tinha bebido um (ou dois?) copos de champanhe... e disse que sim.
Durante o primeiro ano, quando nos encontrávamos, ainda me perguntava quando é que eu cumpria a promessa. A partir do segundo ano, só olhava para mim com olhos reprovadores (era o que eu sentia, por causa da consciência pesada).
Quando interiorizei que tinha de cumprir a promessa, pus mãos à obra. Sabia que o modelo para o homem era o próprio Klimt e a mulher que segurava nos braços era a sua amante Emilie. A mulher fatal e desafiadora de outras obras está aqui submissa, sensual, perante um homem dominador. Decidi de imediato que as figuras não podiam perder valor. Devido às dimensões do original tinha de cortar elementos. Sacrifiquei o campo de flores que enquadram e dão a dimensão monumental às figuras. Em vez de verdadeira folha de ouro utilizei tinta Old Gold e Gold para criar uma textura mais interessante. Klimt e seus amigos, procuravam incessantemente a beleza, sempre, sob o voluptuoso manto da morte a ensombrá-la. O mestre que me perdoe mas procurei dar uma cor mais cálida ao elemento feminino.
Passado muito, muito tempo, convidei os meus amigos para virem tomar um café a minha casa. Quando a Fernanda se sentou no sofá em frente da lareira e viu casualmente a peça que estava estrategicamente colocada na parede, os seus olhos brilharam, um largo sorriso abriu-se na sua cara. Perguntou-me, a medo, se aquela era a obra que saldava a promessa. Eu, com um pequeno aceno de cabeça, confirmei. Os seus olhos brilharam com duas lágrimas alegres que lhe escorreram pela face.
Foi o valor mais alto que eu cobrei por qualquer das minhas obras.

domingo, 4 de novembro de 2007

1.000 VISITAS

APELO DESESPERADO

Estou aterrorizado com as sugestões que os meus amigos me enviam.
Começo a ler uma qualquer e apetece-me gravá-la, correr para o estúdio e iniciar a tradução em cores e texturas dos sentimentos que me despertam, assim, numa primeira leitura em que a emoção se sobrepõe à razão. Mas não pode ser: quero aproveitar a oportunidade única de ter tantos amigos a fazer um download directo para mim. Tinha definido como data limite, para começar a pintar dia 12 de Novembro e vou manter essa data. Tanta coisa boa já aconteceu! E ainda falta uma eternidade para a data limite! Daí o meu apelo:
Não me façam mais maldades: o meu coração não vai aguentar!

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

1.000 visitas


DESAFIO!

Este sítio de convívio atingiu hoje o mítico número de 1.000 visitantes!
Para mim, é uma alegria, que não me faz esquecer que poderia ter feito mais e melhor para receber os meus ilustres visitantes. Não me refiro às minhas obras ou aos meus textos – nessas/nesses tudo o que sei está lá. Refiro-me às respostas que deviam ser dadas mais rapidamente, àquelas que ficaram na minha cabeça, mas que por um motivo ou outro, não foram sequer transmitidas. Posso assegurar que todas ficaram gravadas. Quando não houver mais espaço de armazenamento, sairão em variadas formas. Todos nós, só poderemos dar aquilo que tivermos guardado: quem tem amor no coração, terá amor para distribuir. A felicidade que me têm transmitido deu-me muitas alegrias, trouxe-me muitas prendas, enriqueceu-me.
Para comemorar, visto que o meu blog é sobretudo de pintura, pensei em fazer uma obra que marcasse esta data, como um Padrão das Descobertas.
Gostaria de ter a colaboração dos meus amigos. Aceito sugestões: pode ser um título, uma frase, um pensamento, um poema, ou coisas mais concretas, como paisagens, locais, cores...
Vão dar-me a possibilidade de escolher, valeu?
A tela que está no cavalete é de linho, está preparada para pintura acrílica ou a óleo e tem as dimensões de 70x70 cm.
Nesta tela, prometo tornar realidade o sonho de um dos meus amigos...
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Bem Hajam!