terça-feira, 31 de março de 2009

AS CIDADES DAS EMOÇÕES


Igreja de Santa Cruz - Barreiro Óleo sobre Tela 70x100cm

Já falei muitas vezes do Barreiro. É uma cidade de contrastes. Foi um importante centro corticeiro, um pólo da indústria química e o principal eixo da ligação Norte-sul, por causa do Caminho de Ferro e da ligação entre as duas margens do Tejo. Em virtude desta ligação, já consumada com duas pontes, a 25 de Abril e a Vasco da Gama, o Barreiro vai continuar a ser notícia porque está para breve a adjudicação duma terceira ponte, que será (?) a verdadeira alternativa à Ponte 25 de Abril. Há muitas vozes discordantes por causa do impacto ambiental e paisagístico.
Por aquilo que tenho escrito, quem não conhece, poderá julgar que todos os locais do Barreiro, com interesse para um pintor ou fotógrafo, têm de incluir o rio Tejo. Esta igreja e este largo, estão aqui para desmentir essa opinião.
Como é minha prática habitual, para finalizar esta obra, passei algumas horas com a parafernália de pintor, no centro do largo, atraindo a natural curiosidade dos passantes pedestres ou motorizados.
Ainda não foi desta vez que aconteceu qualquer acidente rodoviário. Mas houve um acidente: um polícia perguntou-me se eu tinha licença para estar ali…
Fui salvo pelo padre!
Não, não foi o da estátua!

sexta-feira, 27 de março de 2009

PAPOILAS


Quatro Papoilas Óleo sobre Tela 100X80 CM

Este quadro esteve exposto juntamente com o da entrada anterior, com resultados diferentes: este foi vendido e o outro continua em meu poder.
Não sei quem o comprou. Tudo o que resta deste quadro é a sua fotografia.
Para ser franco, nem me lembro muito bem como o realizei. Também não consigo encontrar explicação para a sua venda, por comparação com “Flores Campestres”. Razões que a razão desconhece, ou não?
Alguma sugestão?

segunda-feira, 23 de março de 2009

EQUINÓCIO


Flores Campestres Óleo sobre Tela 60x100 cm

Quando apresentei os meus quadros inspirados em “As Quatro Estações” de Vivaldi, falei um pouco da celebração do ritual de fertilidade que festeja o equinócio da Primavera, o momento em que o dia e noite têm a mesma duração. Simboliza o despertar da vida na terra, depois da hibernação no Inverno. Esta celebração começou por ser um festival pagão, que foi aproveitado pela Igreja para exaltar a ressurreição de Cristo.
Neste quadro, quero mostrar as cores vibrantes das primeiras flores campestres, açoitadas pelo vento e iluminadas pelo tímido Sol, ainda pouco consciente da sua força telúrica.
Para isso, comecei por pintar toda a superfície da tela com o meu pincel de piaçaba carregado de Yellow Ochre e Burnt Sienna, em pinceladas curvas, com diversas direcções*, para servir de base às folhas das plantas e aos caules fustigados pelo fresco vento primaveril. Só depois de estar satisfeito com o movimento sugerido pelas texturas assim criadas, comecei a distribuir as papoilas e os malmequeres pela superfície, que ficou pouco povoada de flores, porque gostei do relevo do terreno em que nasceram…
Este quadro está aqui, pendurado na parede à minha frente, a olhar para mim, enquanto estou a escrever a sua história…
Tenho quase a certeza que uma das papoilas (provocadora!) me está a piscar o olho…

*Clicando sobre a imagem dá para ver a sua textura.

sexta-feira, 20 de março de 2009

COSTA NOVA


Palheiros da Costa Nova Óleo sobre Tela 60x100cm

Se há uma Costa Nova... Por causa da abertura da barra de Aveiro, em 1808, os pescadores de Ílhavo foram obrigados a deslocar-se da “costa velha”, mais para sul, em frente à Gafanha da Gramata, onde continuaram a praticar a arte da xávega. Isto de arte, por ser de xávega, tem direito à abertura de uns parênteses.
Esta arte é um tipo de pesca de arrasto cujas redes têm um cabo preso em terra puxado por bois que, com o progresso tecnológico, paulatinamente, foram sendo substituídos por tractores. Agora, não há bois nem tractores: toda a costa foi conquistada por outras maneiras de pescar… Toda? Não! Uma vila povoada por portugueses irredutíveis resistiu e continua a resistir à inovação: Nazaré, o único local onde ainda se pesca assim.
Estes pescadores, para guardar as alfaias da apanha das algas, redes e todos os apetrechos para a pesca, faziam com tábuas de madeira sobrepostas construções que se chamavam palheiros, por estarem revestidas com caniços. A pouco e pouco, estes palheiros transformaram-se em habitações para as famílias dos pescadores e, mais tarde, começaram a fazer melhoramentos para as alugarem ao crescente número de famílias de Vagos, Ílhavo ou Aveiro que procuravam aquela zona para férias.
Assim nasceram as casas com riscas verticais ou horizontais das mais variadas cores, num cenário improvável de surpreendente colorido.
Este quadro, que mostra o extremo oriental da Costa Nova, esteve exposto breves dias na Galeria. Foi comprado por um jovem casal que passou a sua lua-de-mel na casinha azul às riscas…
Acho que era a cor do pijama que ele despiu nessa noite…

segunda-feira, 16 de março de 2009

ENTENDAM-SE!


Preia-mar na Baía Óleo sobre Tela 80x100cm

No quadro anterior, coloquei um pequeno bote azul, em destaque num imenso areal a ser invadido pela enchente. Agora, a água já subiu o máximo, estamos na preia-mar, e o rio já reclamou o que lhe pertence. O dono do bote já saiu com ele para a faina diária de apanha de peixe e marisco.
É neste local que existe uma história de falta de entendimento que já tem 40 anos.
Seixal e o Barreiro já estiveram ligados. A distância entre os dois concelhos é de quinhentos metros, se for feita uma pequena ponte que atravesse o esteiro de Coina. A ligação rodoviária actual obriga a percorrer, sem necessidade, mais dezassete quilómetros, por estradas com muito trânsito e diversos pontos críticos. É evidente, que esta ligação beneficiava a qualidade de vida, contribuía para melhorar o ambiente e poupava combustível.
O dono do bote faz o percurso a remos entre o Seixal e o Barreiro no tempo que levam a ver esta postagem. Na região vivem trezentas mil pessoas.
Antes que alguém me roube a ideia, vou montar um estaleiro para fazer botes…

sábado, 14 de março de 2009

DESCANSO DO GUERREIRO


Baixa-mar na Baía Óleo sobre Tela 90x105 cm

Já falei do varino “Boa Viagem”, recuperado pela Câmara da Moita para passeios no Tejo. A Câmara do Seixal fez algo de semelhante com o bote-de-fragata “Baía do Seixal”. Este tipo de embarcação, bojuda e pesada, com 20 a 25 metros de comprimento, arma estai e vela grande de carangueja junto ao mastro que tem uma marcada inclinação para a ré. Rebocava um pequeno bote que servia para levar a fragata à força de remos nos momentos em que faltava o vento.
Este quadro mostra a minha fascinação pelas tonalidades subtis da areia molhada (sem os seixos que deram o nome à cidade), e o contraste com a água a deslizar pelos carreiros, reflectindo aqui e ali a luz do sol…

quarta-feira, 11 de março de 2009

CIDADE SONHADA


Fronteira dos Sonhos
Técnica mista sobre cartolina 28,2x34,1cm


Já o tinha afirmado e este desafio serviu apenas para confirmar: tenho resolvida a tarefa de dar títulos às minhas obras! As sugestões foram muitas e de qualidade.
Quase todos identificaram uma cidade junto ao mar, na tela apresentada, mas Xana viu a sua cidade: Lisboa. Ao meu amigo OUTONO, que foi o culpado do desafio, só lhe faltou identificar a cidade.
Mais uma vez, Erik e Anne sugeriram o título que eu vou dar à obra. “Cidade dos Sonhos”, de Anne é um título que eu já utilizei noutra ocasião, por isso, aproveitei “Cidade Sonhada” de Erik.
Ficaram títulos como “Fronteira”, de Jorge, “Tesouro Escondido”, “Desafio” , “Klimt Revisitado”, ou “Mundo Intenso” de She, e muitos outro igualmente apelativos.
Deixo-vos o poema que descreve a tela:

La Ciudad Soñada
La cigüeña cruzó el Óceano,
y esto es lo que vió…
Todos se habían acercado
demasiado al límite de la Tierra...
Habían ido llenando de color
todos los caminos que llevaban al Mar...
Pintores de colores vivos,
Escritores que van del Azúl al Verde...
Dejando los Naranjas
Y Amarillos a los nostálgicos.

A todos, queridos amigos, o meu muito obrigado!

domingo, 8 de março de 2009

DESAFIO


O que é isto?
Acrílico sobre Tela 70x50cm

Numa entrada anterior, pedi aos meus amigos e visitantes, a sugestão do título para uma obra de que eu fazia a descrição, enquadramento e técnica usada. Como seria de esperar, as colaborações foram muitas e de grande qualidade.
Um amigo, OUTONO, deixou-me o seguinte comentário:

Deixo-te um desafio. Correndo apenas o senão...de não ser do teu agrado.

Nem que seja um mero exercício. Apresenta uma tela tua, com título, e sem a descrição ou brilhante narrativa como fazes.
Deixa ser o teu visitante, a descobrir (a interrogar) a sensibilidade da tua criatividade. Depois... BUM! Descoberta do facto.


Pois bem! O desafio foi aceite, mas com um pormenor diferente: o quadro não tem título para não cercear a criatividade a ninguém.
A tela está aí: é toda vossa!

quarta-feira, 4 de março de 2009

TRADIÇÃO


Entrada Óleo sobre Tela 100x100cm

Na minha postagem de 11 de Novembro, apresentei um quadro “Cozinha Alentejana”, que mostra o interior de uma habitação. A entrada para esse local de delícias tem também uma beleza especial, que só as coisas simples conseguem transmitir.
Na execução desta tela, misturei areia na tinta de óleo, para salientar as rugosidades e textura das paredes caiadas. O ponto focal desta pintura é a porta de entrada. Tendo em atenção este princípio, escureci um pouco a porta de madeira de carvalho, para, sem perder força, a distanciar da buganvília e da parede iluminada pelo sol, ganhando profundidade. Do lado direito, coloquei um vaso de sardinheiras que tem a função de atrair o olhar para esse ponto do quadro. Os troncos rústicos dão uma maravilhosa cobertura a todo o conjunto.
A porta deve estar aberta para não afastar o observador. Neste caso, garanto que está apenas encostada!
Podem entrar! Sejam bem-vindos!