quarta-feira, 30 de abril de 2008

AFRODITE




Afrodite, feiticeira do amor
Óleo sobre tela 120x120cm

Afrodite era uma das dez obras da exposição, a que me referi quando apresentei Vénus.
Na altura, disse que os modelos são banhados por uma luz forte, com cores vivas e quentes, que, se em alguns casos, quase os ocultam, serve sempre para evidenciar a sua beleza e sensualidade. E continuo a pensar assim, porque a pintura deve fazer-nos sonhar com um mundo melhor, mais harmonioso, mais sedutor.

Esta é talvez a deusa mais representada pela arte, quer sob o seu nome grego, quer sob o romano, Vénus. Para além dos nomes, também o seu nascimento causa alguma confusão: para uns, é uma deusa ancestral que nasceu da espuma do mar fertilizado por Urano, o deus do grego do céu. Digamos que esta é a versão softcore. O quadro mais conhecido é “O Nascimento de Vénus”, pintado por Sandro Botticelli em 1482, que se encontra exposto na Galeria dos Uffizi em Florença, em que se vê Vénus emergindo de uma concha, nua, como se impõe, para simbolizar o nascimento da beleza. Noutra versão, ela é a jovem filha de Zeus e Dione, fruto dum amor terreno, com paixão e sexo, ou seja, a versão hardcore. Diz-se que o seu pai, irritado com a sua beleza e a sua vida de prazeres carnais, a casou com Hefesto para ver se ela ganhava juízo. Mal avisado, o marido ainda a tornou mais irresistível, quando lhe ofereceu as mais belas jóias, de tal maneira que a nossa deusa teve filhos de Ares, Dionísio, Hermes e um etc bastante grande que inclui alguns felizes mortais, como o belo Adónis.
Eu não tive nada a ver com o assunto: meu nome é António!

sábado, 26 de abril de 2008

SÉRIE - AS CIDADES DAS EMOÇÕES


Lembras-te?


Lisboa, Convento do Carmo
Acrílico sobre tela 60x70cm

Dulce, a minha primeira obra-prima

Era uma vez um sábado à tarde de um dia de Verão, com aquele céu azul de que só os pintores não gostam: sabem que, por muito que tentem, a realidade suplanta sempre a sua obra! Saímos de casa, eu, a minha mulher e as nossas duas filhas, Elsa de cinco anos e Dulce de seis anos, e atravessámos a ponte 25 de Abril, com destino ao Parque Eduardo VII, em Lisboa. A minha mulher tinha nessa tarde uma reunião. Ficou combinado que, enquanto ela ia cumprir uma árdua missão de trabalho, eu iria ficar com as crianças a brincar no parque! Mulher sofre! Como eu estava enganado...
Num primeiro momento, o Paraíso: crianças (eu incluído) a jogarem às escondidas, gargalhadas joviais, o prazer da descoberta em cada gesto, em cada corrida...
De repente, Elsa começa a chorar, a chorar, a chorar... Dulce, oferece-lhe tudo o que tem. O que não tem, inventa – um passarinho azul na mão, no jardim rouba flores de todas as cores... Eu faço o pino, subo às árvores, guincho como um macaco, grito como Tarzan... O choro sempre a aumentar! Dulce, a fazer beicinho, vai dizendo: “Bebé não chora, bebé não chora!”. Em três horas pode ter-se uma boa noção do que é o Inferno!
O grande drama, sabem qual foi? Não havia telemóveis, porque quando a minha mulher chegou, Elsa calou-se! Just like that!
Até hoje ainda não arranjámos explicação para o acontecido!
A minha filha mais nova formou-se em Marketing e Publicidade. Eu não tive nenhuma influência na sua opção: na altura, eu era Group Product Manager, no Marketing da Colgate-Palmolive Portuguesa. Pronto, se calhar tive um bocadinho de responsabilidade...
A minha filha mais velha, Dulce de seu nome (como era o da minha mãe), formou-se na Fundação Ricardo Espírito Santo e, no Instituto Piaget, tirou a licenciatura para Professora de Ensino Básico, variante de Educação Visual e Tecnológica, com a média de 17 valores, estágio 18 valores. Não é uma média fabulosa? Actualmente, está a dar aulas de EVT. Não tive nada a ver com essa opção: na altura ainda não pintava! Limitava-me a fazer uns bonecos para elas se rirem!
Esta minha filha já nasceu assim talentosa. No dia de dos meus anos, ofereceu-me este desenho como prenda. Aquele cabeludo, sou eu a treinar na mesa de bilhar que tinha em casa, porque jogava no Sport Lisboa e Benfica, e ela está a oferecer-me os chocolates de que eu tanto gosto. Na cabeceira da cama, tenho outro desenho lindo, que ela fez a partir duma fotografia, com o seu retrato e o da irmã.
E sabem uma coisa? Apesar de tudo o que está a acontecer com a Escola e o ensino em Portugal, ela não admite outra hipótese: quer ser professora!
O seu indomável espírito, foi buscá-lo, não tenho dúvida, aos genes da mãe.
Para o bem e para o mal, o seu gosto artístico e o masoquismo, só podem ser meus...

terça-feira, 22 de abril de 2008

MEMORIES









Estás cansada?
Óleo sobre Tela 36x45cm




Era uma vez, um domingo de Verão, há muito, muito tempo, quando saí de casa para dar um passeio no campo, com a minha filha, Elsa. Levei comigo a máquina fotográfica para registar aqueles momentos de liberdade, já que os cheiros do ar, da terra e das flores silvestres, apenas se podem guardar na nossa memória. Seguíamos por um caminho estreito com a pequenita a apanhar todas as flores que podia para levar à mãe e à irmã.



Eis senão, quando, numa curva do caminho, vemos uma senhora de provecta idade sentada numa pedra. Cumprimentei-a e queria seguir, quando me apercebi que Elsa se tinha sentado ao lado dela, a olhar intrigada para a sua cara, e ouvi perguntar: “Estás cansada? O meu pai tem água para mim, mas se quiseres podes bebê-la!” A senhora sorriu e disse que lhe agradecia mas não precisava.
Quando nos despedimos, a velhota disse-me:
“ O senhor é feliz porque tem uma filha muito bonita, mas também com muito bom coração... e quem nasce assim é para toda a vida!”

quinta-feira, 17 de abril de 2008

NUESTROS HERMANOS


Porquê os “Aguaviva”?
Este conjunto espanhol inspirou a formação de um grupo em Alhos Vedros, com o nome de Aqueduto, no final dos anos sessenta, que se manteve em actividade até finais dos anos setenta, do qual eu fazia parte. Cantávamos, quando não éramos impedidos pela Censura, em Associações, Clubes, Pavilhões, ou na rua, quando a polícia não permitia a nossa entrada nos recintos. O nosso reportório era constituído por letras e canções de nossa autoria, mas incluíamos “Aguaviva” e Zeca Afonso, como preito de homenagem a estas figuras.
Aqueduto, como Aguaviva, “llegó en el momenyo preciso, como si hubiera sido un diseño cuidadosamente programado para aparecer cuando hacia falta y para decir las cosas que la gente necesitaba escuchar”.



Tulipas Óleo sobre tela 105x90cm
Apresento esta tela (esta é daquelas que eu não sei onde para), como homenagem a nuestros hermanos, porque tem as cores da bandeira portuguesa e espanhola.

Um comentário de “Fermina Daza” à entrada anterior, motivou a resposta de Luís Carlos, um dos bloguenígenas, como dizem os amigos brasileiros do Prozac Café, colaborador no blogue “estórias de alhos vedros”, que resolveu colocar o seu belo poema, Iberia, no comentário. Considerei uma pena ficar escondido, não só pela sua beleza, mas também pelo seu significado, numa intervenção que poderia passar despercebida. Resolvi, por isso, dar-lhe o destaque que merece.

Amigo António, a doce poesia e os belos sentimentos da tua acompanhante de viagem e nuestra hermana "fermina daza", mais a forte saudade de um Porto Sentido e a tua amizade, trouxeram-me à memória um poema que dediquei a Espanha. Aproveito para o deixar aqui e vou dedicá-lo em teu nome, a todos os amigos que por aqui passam, e em particular, a todos nuestros hermanos, fazendo votos que a proximidade geográfica e linguística, se traduza cada vez mais numa proximidade amistosa, afectiva, fraterna e solidária. A aproximação cada vez maior entre a Língua de Camões e a Língua de Cervantes, decerto, trarão de novo novos mundos ao mundo, desta vez já em paz!

Então o poema diz assim:


IBERIA

Hubo un tiempo
en que peleámos
infantiles nos matámos uno al otro

Hubo mismo un tiempo
en el que exageradamiente me hiciste tuyo:
llegaste y reynaste, me tomando todo
hasta que de nuevo nos matámos uno al otro.

Esos tiempos cambiáran.
Hoy te quiero solamente amiga
y signo de eso mismo es hacer
de mi canto tu língua,
mostrar te que al meter me en tu piel
te quiero respectar como eres
como se de mi mismo se tratara,
te quiero plenamente comprender
y se necessario discordar,
pero desta vez ya en paz.

Al diante de hoy mano com mano
caminãremos.

a um anónimo António,
a Espanha!,
com os devidos agradecimentos ao Manuel João que me conseguiu a tradução.
17 de Abril de 2008 9:16

segunda-feira, 14 de abril de 2008

AS CIDADES DAS EMOÇÕES - PORTO





Porto Sentido
Óleo sobre Tela 120x70cm

Num comentário ao quadro anterior "Porto - A Casa Amarela", Luis Santos transcreveu o poema "Porto Sentido" de Rui Veloso. Mal sabia o meu bom amigo, que eu tinha feito um quadro com o nome do poema. Como está na linha do anterior, faz todo o sentido que o apresente, juntamente com a canção da dupla Carlos Tê / Rui Veloso.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

SÉRIE - AS CIDADES DAS EMOÇÕES


Porto Casa Amarela
Óleo sobre tela 100x85cm

Não vou repetir aquilo que senti quando descobri, como pintor, o Porto.
Sobre esta tela, um meu amigo, disse-me que gostava de toda a composição, que tinha muita vida, mas que não gostava do destaque da casa amarela: sentia que era demasiado agressiva. Respondi-lhe que era esse exactamente o objectivo que pretendia: a casa estava colocada na zona da tela a que os clássicos chamam de secção de ouro, para favorecer no quadro o seu aspecto tridimensional ou a sua profundidade: há casas que nos parecem mais próximas e outras mais afastadas, embora saibamos da bidimensionalidade da tela.
O azul forte do céu e do rio, contrasta com o quase monocromatismo que utilizei, deliberadamente, para destacar as janelas que povoam todo o conjunto, sugerindo pessoas que apenas se adivinham, se sentem...
Termino com o “pedido de desculpas” do meu amigo. Quando visitou o Porto, passou na Ribeira e viu ao vivo a Casa Amarela: Estava lá, onde eu a tinha pintado e destacava-se de todo o conjunto, pela sua vibrante cor!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

SÉRIE ALDEIAS HISTÓRICAS - PIÓDÃO





Piódão Óleo sobre tela 60x80cm

Piódão é uma aldeia classificada como Imóvel de Interesse Público. Por entre as agrestes escarpas e os vales profundos da Serra do Açor, a aldeia ergue-se como num grande anfiteatro natural. A matéria-prima utilizada na construção das casas e nos pavimentos é o xisto retirado das encostas da serra. Os telhados das casas são feitos de lousa. O azul, cor de bons presságios dos árabes, que marca o contorno das portas e janelas, compõe um cenário, que não precisa da criatividade do pintor porque de cada pedra e do seu conjunto resultam uma harmonia perfeita... por acaso: o azul que pinta as portas e janelas deve-se ao isolamento da aldeia. Diz-se que a chegada de uma lata de tinta, levou a que todos a utilizassem, e agora faz parte integrante do seu património. As casas de xisto contrastando com a brancura da Igreja Matriz do século XVII, formam um conjunto arquitectónico que fica guardado na nossa memória, para não mais ser esquecido. Um verdadeiro monumento que serve para confirmar que o homem se consegue adaptar aos mais inóspitos locais.
Saí da aldeia com uma vontade enorme de chegar a casa para começar a pintar o que tinha visto. Desta vez, cumpri o plano estabelecido. Utilizei as pequenas pinceladas de cor pura, colocadas lado a lado com as suas complementares, para dar a vibração de cor que se sente, quando se observa a aldeia, iluminada pela luz do sol. Pretendi que a utilização de tintas puras, separadas para se misturarem na retina do observador, numa pincelada enérgica, servisse para transmitir a dureza das pedras numa convivência harmoniosa com a arquitectura deste local inestimável.
Os planos de cor laboriosamente justapostos e a tensão que mantêm com os pontos de luz que definem o motivo, procuram traduzir, mais do que a dureza da pedra, a estrutura sólida em que em que assenta a Natureza, em contraste com um universo só perceptível através da imaginação, num mundo de cavaleiros andantes e damas em apuros que a sua origem medieval sugere.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

POLUIÇÃO



CUF (Companhia União Fabril)
Óleo sobre tela

“Adivinharam: em casa dos nossos amigos. Está linda e não está só: tem por companhia outra com a qual faz um contraste absolutamente arrepiante...
Eu depois mostro, prometo.”

Foi assim que terminei a minha entrada “Praia da Luz”. O quadro que está a fazer-lhe companhia é “Cuf”.
Esta tela é uma recreação de uma pintura de Kokoschka, pintor do expressionismo alemão (1886-1980), nascido em Pochlarn, perto de Viena.
Quem a baptizou foi a minha amiga que, para além da sua paixão à primeira vista pela obra, logo a baptizou de Cuf, porque as suas cores estranhas, sobretudo do céu, lhe faziam lembrar uma das principais unidades industriais portuguesas, situada no Barreiro. No seu período de ouro, esta unidade empregava mais de 10.000 trabalhadores. As suas lutas reivindicativas, a sua resistência e luta contra as injustiças, transformaram o Barreiro num símbolo da luta contra a ditadura, mas também num símbolo de poluição, bem visível nos fumos verdes e alaranjados que as chaminés lançavam na atmosfera.
Não utilizei nesta obra nenhuma tinta preta. Consegui essa ausência de cor com a combinação de Cadmium Red Hue e Prussian Blue Hue, para sublinhar a intensidade vibrante, cheia de enganadores matizes luminosos, das poluídas águas do rio.
Parece-me que assim se consegue o melhor de dois mundos: chamar a atenção para um problema da Humanidade, sem ser agressivo a ponto de causar mal-estar ao observador, tornando-o mais receptivo, julgo eu, à mensagem que se pretende passar.
É assim que entendo a Arte; a sua justificação é a sua Beleza!