quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

JACK, O ESTRIPADOR


Altar-mor da Ig. de S. Lourenço Acrílico sobre tela (100x100)


Igreja de S. Lourenço Técnica mista sobre papel


Pelourinho e Capela Tinta da china sobre papel

A primeira vez que me convidaram para fazer a capa de um livro foi para o “Dicionário dos Falares de Trás-os-Montes”... Seguiram-se outros falares...
Continuei com os livros históricos... No volume II de “Contributos para a História Local do Concelho da Moita”, na capa desenhei a tinta da china o pelourinho e a Capela da Santa Casa da Misericórdia de Alhos Vedros.
Para os mais interessados em história, o pelourinho tem fuste de secção oitavada e lisa assente numa base encordoada. No cimo tem um capitel tronco-piramidal com uma esfera armilar em ferro.
A Capela, construída em 1587, é constituída por uma nave coberta por tecto de madeira e as paredes revestidas de azulejos do século XVII. O altar-mor tem um retábulo de talha dourada do mesmo século, com a sua estrutura organizada como um arco de triunfo.
O volume III, terá na capa a Igreja de S. Lourenço, Matriz de Alhos Vedros, que representa a nobreza da vila. Da igreja construída no século XIII, nada resta. A actual data do século XV e a nave e pórtico do século XVII, com azulejos de 1749 que relatam passagens da vida do patrono da Igreja.
Foi nesta igreja, que pelo seu conjunto estilístico heterogéneo deixa adivinhar modos diferentes de encarar a religiosidade, que eu, em frente ao altar-mor de talha dourada, com a autorização do Padre Carlos, passei alguns dias a cuidar dos pormenores da pintura que agora apresento.
Talvez por ser demasiado óbvio não empreguei nenhuma tinta dourada. Utilizei toda a gama de cores a começar no “cadmium yellow pale” e a acabar no castanho “burnt umber”, passando pelo “naples yellow” e “yellow ochre”. Tentei dar-lhe toda a riqueza de nuances e matizes que a luz filtrada pelos vitrais, e a luz bruxuleante das velas ora esconde, ora revela, num jogo de claro-escuro, que me obrigou ao mesmo tempo a ser paciente e rápido, para registar na tela as impressões de momentos quase sempre irrepetíveis.
Trabalhei esta obra um pouco a contra-relógio, porque tinha imposto a mim próprio a obrigação de a apresentar nas Festas de Nossa Senhora dos Anjos que se realizavam no final do mês de Julho. E consegui.
Fui recompensado pelo meu esforço com os comentários favoráveis que ouvi. No entanto, no dia da sua apresentação fiquei um pouco preocupado: mais do que um apreciador da obra (ou da Igreja), espreitou os cantos para ver como é que eu tinha colado os azulejos... Esta dúvida provocou uma acesa discussão num casal: o marido dizia que eram pedaços de azulejos colados, a mulher que era pintura. Ele, para provar à mulher que tinha razão, tirou uma navalha do bolso para levantar os azulejos...
Já tenho ficado com pele de galinha quando pessoas sem problemas de visão, assumem que a superfície da tela é uma escrita em Braille, que só pode ser apreciada com os dedos...
Com uma navalha nunca tinha visto!
Felizmente o homem não se chamava Jack...

14 comentários:

Anne M. Moor disse...

hahahahahahahaha António! Estava matutando aqui o porquê de ter dado o título de Jack o Estripador!!!!!!!!!!!!!!!!! Minha avó já dizia: olhem com os olhos e não com os dedos...
Eu mandava os meus alunos sentarem em cima das mãos ao lerem um texto (que mania de querer ler com o dedo!!!) :-)
As pinturas lindas todas, mas gostei imensamente do Pelourinho e Capela...
Abraço em braille :-)
Anne

Fernanda Irene disse...

Querido Antonio, con tus textos nos ubicas muy bien las pinturas, lo que hace que se comprendan mucho mejor y, en consecuencia, las disfrutemos más. En cuanto a la anécdota final me quedo con una curiosidad ¿quien disuadió al "pseudojack el destripador" para que guardara de nuevo la navaja en el bolsillo y se abstuviera de demostrar nada? Se le invitó a abandonar el lugar inmediatamente o se quedó? Y su mujer, como reaccionó? Seguro que en su interior estaría diciendo la pobrecita: ¡Tierra, trágame!

Cuídate.

Besos

Irene

A.Tapadinhas disse...

Anne: o problema que tu me arranjaste ao dizeres que gostas mais do Pelourinho! O Altar-mor está inconsolável e jura
vingança... ´-)
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Irene: a tua capacidade criativa está bem demonstrada na série de pistas que deixas para o final da história... Vou deixá-la em suspenso para dar oportunidade a outros de a concluirem - mormente, Jorge, que é um especialista... :)
Beijo.
António

Fay van Gelder disse...

Olá amigo António, assim que vi Jack o Estripador, pensei logo no Museu de Cera M. T. em Londres.. risoss....

Adoro as suas pinturas :)

Não sou balança, não, sou Aquarius e dai é que vem o yin e yang, logo equilibrio :)

Não acredito que uma pessoa com tal sensibilidade para a pintura seja um sagitario desiquilibrado:(

Beijo equilibrado e votos de um 2008 ainda mais euqilibrado :)

Anne M. Moor disse...

António, diz ao Altar-mor que lindo e imponente está, mas que eu gosto de espaços mais simples e menos imponentes :-) Falam mais pra minha alma...

jorge disse...

Jajaja. La mujer le zurro con el paraguas. Por zoquete, el arte no se destruye.
Segunda posibilidad: El grandisimo pintor Antonio Tapadinhas saco la pagina central del play boy y la extendio...el navajero se olvido instantaneamente del altar, y se arrodillo ante su nueva diosa.
¿He acertado con alguno de mis finales?
abrazo sin navaja

ana disse...

Estupenda historia, genial el final de Jorge, y estupendamente ilustrada por ti Antonio,
abrazos,
ana.

A.Tapadinhas disse...

Miss: de equilíbrio, em equilíbrio, até à queda final... numa cama bem macia... :)
Beijo, no arame...
António

A.Tapadinhas disse...

Anne: Eu vou dizer-lhe... mas com o seu vedetismo não sei prever qual vai ser a reacção. Se eu sobreviver, prometo contar-te... :)
Beijo receoso...
António

A.Tapadinhas disse...

Jorge: Ainda não digo nada para não estragar a surpresa e dar oportunidade aos contadores de histórias.
Abraço.
António

A.Tapadinhas disse...

Ana: A partir de agora, ainda posso tratar-te assim? E mandar-te um beijo? Sim?!
És linda.
António

Adriana disse...

Você conhece Ouro Preto Brasil??Ficaria encantado com a arte nesta cidade!!Muito interessante seua postagem.

A.Tapadinhas disse...

Adriana: Infelizmente não conheço. Estive no Rio de Janeiro, numa das suas ilhas, Bernardo, salvo erro, e em Fortaleza, pouco antes daquele horripilante episódio com portugueses... :-c
Gostei da visita. Volte sempre!
António