segunda-feira, 19 de setembro de 2016

ACUSAM-ME DE MÁGOA E DESALENTO

Graffiti de Basquiat

Acusam-me de Mágoa e Desalento

Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.

Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.

Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.

A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.

Carlos de Oliveira, in 'Mãe Pobre' 

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

SÃO ROSAS, SENHOR!

Rosa, Autor António Tapadinhas
           Acrílico sobre Cartolina, 50x50 cm

Coroai-me de Rosas

Coroai-me de rosas,

Coroai-me em verdade,

De rosas —


Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!

Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa