quinta-feira, 3 de abril de 2008

POLUIÇÃO



CUF (Companhia União Fabril)
Óleo sobre tela

“Adivinharam: em casa dos nossos amigos. Está linda e não está só: tem por companhia outra com a qual faz um contraste absolutamente arrepiante...
Eu depois mostro, prometo.”

Foi assim que terminei a minha entrada “Praia da Luz”. O quadro que está a fazer-lhe companhia é “Cuf”.
Esta tela é uma recreação de uma pintura de Kokoschka, pintor do expressionismo alemão (1886-1980), nascido em Pochlarn, perto de Viena.
Quem a baptizou foi a minha amiga que, para além da sua paixão à primeira vista pela obra, logo a baptizou de Cuf, porque as suas cores estranhas, sobretudo do céu, lhe faziam lembrar uma das principais unidades industriais portuguesas, situada no Barreiro. No seu período de ouro, esta unidade empregava mais de 10.000 trabalhadores. As suas lutas reivindicativas, a sua resistência e luta contra as injustiças, transformaram o Barreiro num símbolo da luta contra a ditadura, mas também num símbolo de poluição, bem visível nos fumos verdes e alaranjados que as chaminés lançavam na atmosfera.
Não utilizei nesta obra nenhuma tinta preta. Consegui essa ausência de cor com a combinação de Cadmium Red Hue e Prussian Blue Hue, para sublinhar a intensidade vibrante, cheia de enganadores matizes luminosos, das poluídas águas do rio.
Parece-me que assim se consegue o melhor de dois mundos: chamar a atenção para um problema da Humanidade, sem ser agressivo a ponto de causar mal-estar ao observador, tornando-o mais receptivo, julgo eu, à mensagem que se pretende passar.
É assim que entendo a Arte; a sua justificação é a sua Beleza!

25 comentários:

Anne M. Moor disse...

Casas tortinhas sob o peso da emanação do fumo nocivo, que se diz progresso. O céu se fazendo escuro em desaprovação pela inconsequência dos humanos que vivem nas 'casinhas' sem uma visão do que virá a ser... Porque somos assim? A 'Praia da Luz' mostra-nos as consequências desse tipo de coisa... Belos quadros!
Só não gostei do verde na fumaça poluidora... :-) Eu tenho o verde como uma cor de esperança...
Beijos de esperança

Flavio Ferrari disse...

SE poluição fosse bonita assim ninguém reclamava ...

arianams disse...

As coisas que eu aprendo aqui! CUF quer dizer Companhia União Fabril? Não fazia ideia.
Sempre que cá venho aprendo qualquer coisa!
Obrigada Tó!
Beijinhos

Isabel disse...

Pues a mí me gustan los colores... es una manera muy amable de tratar el problema de la polución desde el arte... embelleciéndolo. Besos.
http://senderosintrincados.blogspot.com

disse...

Lindo!
Sua arte é realmente muito agradável e envolvente.
Beijo.

Ernesto Dias Jr. disse...

Puxa! Quando vier a São Paulo, por favor retrate nossos rios em dia de enchente.
Como disse o Flávio: se ficar tão bonito quanto...

A.Tapadinhas disse...

Anne: Às vezes interrogo-me sobre a maneira mais correcta de denunciar uma situação. Será que fazer a representação repelente, tem algum efeito? Se for demasiado bonitinha, não perderá o seu efeito? Bom é mesmo ser um génio... como Picasso! Guernica é ao mesmo tempo feia, bonita, arrasadora...
Beijo (não percas a esperança... a vida é bela!)
António

A.Tapadinhas disse...

Flavio: Faz lembrar aqueles cartazes de novas urbanizações: espaços verdes, pessoas bonitas, casas pintadas, carros bem estacionados... paraíso. Realidade: Lixos, freaks, graffiti,carros no passeio... inferno.
Abraço.
António

A.Tapadinhas disse...

Ariana, Ariana! Se o teu pai sabe, que tu não sabes, o que eu sei, dá-lhe um enfarte! Uma filha da margem esquerda do Tejo, não pode ignorar o significado profundo para a classe operária, daquelas três letrinhas...
Podias ter dito que gostas do quadro. :)
Beijinho.
António

A.Tapadinhas disse...

Isabel: Gostar da obra, não significa que se aprove o que ela retrata.
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Lú: Os teus olhos e o teu coração são tão compassivos que vêem a beleza em todo o lado... Eu agradeço!
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Ernesto: Não tenho boas recordações de São Paulo. Quando voei de Fortaleza para o Rio, fiz escala em São Paulo. Que susto a descida/queda para o aeroporto. Estou a ser injusto, eu sei, porque não vi mais nada... mas essa recordação ficou...
Abraço.
António

elsa disse...

Olá Pai!
Não me recordava nada deste quadro!
Foi uma supresa quando abri o blog. Uma agradável supresa porque é um estilo completamente diferente do qual estamos habituados. E a sensação que tenho ao observá-lo é, ao mesmo tempo, boa e má. Passo a explicar:
- Boa devido á côr que não nos leva a imaginar poluição no meio do verde e do azul;
- Má depois da explicação que só conseguimos ver poluição.
Será que me fiz entender?! Espero que sim.
Como conclusão, só posso dizer: GENIAL!!!! ADOREI!!! ADOREI!!! ADOREI!!! Pode embrulhar! :-)
Beijinhos, Elsa

A.Tapadinhas disse...

Olá, filha!
Não sei se reparaste que os meus amigos do Prozac Café, querem contratar-me para ir ao Brasil pintar umas coisas que estão a precisar de levar com o manto diáfano da fantasia... :)
Claro que te entendi! Não te entendo sempre? E o Rafael? Dá-lhe um beijinho meu! ... e outro para ti!

Anne M. Moor disse...

Se tem uma coisa que não perco é a esperança!!! Ela pode se esconder as vezes qdo estou cansada, como agora, mas jamais a perderei - amo demais a vida e as pessoas...

Pakous disse...

Hola Antonio, tienes un regalito en mi casa, pasa a recogerlo.
Un abrazo

Anónimo disse...

VOCE CHAMA CON ESSE CUADRO.SE FOSSE BONITO NAO CHAMAVA ATENÇAO E AINDA ASSINCUSTA.
BEIJOS
anamorgana

Fernanda Irene disse...

Querido António, llevo un rato mirando tu tela "Polución". El humo de la chimenea y esos reflejos verdes en el cielo le dan un aspecto, ciertamente, de contaminación, sumado a los rojos del mar junto a esa espuma densa y en exceso blanca que nos hace pensar en el desagüe de aguas radioactivas o algo similar. Pero miro de nuevo la tela, la agrando, me alejo, me acerco de nuevo, miro, remiro, vuelvo a mirar y concluyo siempre de la misma manera: Pintas unas "poluiçaos" preciosas.

Un beso purísimo

Irene

A.Tapadinhas disse...

Anne: Nós costumamos dizer que a esperança é a última coisa a morrer!
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Pakous: Vou já passar por lá! Sou muito curioso!
Abraço.
António

A.Tapadinhas disse...

Anamorgana: Nota-se que sabes escrever em português! As tuas palavras bonitas, são-no em qualquer língua.
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Irene: O que eu me ri com a tua última frase! Desculpa, mas não resisti a contar-te! Com que então pinto umas "poluições" preciosas!?
Beijo, preciosa!
António

Flavio Ferrari disse...

Mas que bela filha tem o senhor Tapadinhas ...
Pelo visto nosso artista demonstra talento em tudo o que faz !

A.Tapadinhas disse...

Flavio: Das duas afirmações, uma é uma verdade absoluta, a outra uma prova de amizade... Agradeço de igual modo, pelas duas!

Abraço.
António

jorge disse...

Buena manera de entender el arte.
Dirigi unas obras de teatro de Tenesse Williams, y las presentaba con unas palabras suyas que decian mas o menos (escribo de memoria): "La mision del arte es provocar reacciones en los espectadores, no dejar indiferentes..."

Kokoschka me ha gustado siempre.

Tu contestacion a Flavio me parece genial. Y falsa en una de las dos apreciaciones (coincido mas con él).

Tu pintura, como siempre, me encanta.