segunda-feira, 31 de março de 2008

FADO, MALHOA E O QUE MAIS ADIANTE SE VERÁ...




Vai um copo?
Acrílico sobre tela 100x120cm

Fado, Malhoa e o que mais adiante se verá...

Estava a jantar com minha mulher,
algo que não faço tantas vezes como devia
num restaurante de que eu gosto muito, porque para além da excelente qualidade da comida,
o que por si só, já seria um bom motivo para o frequentar
também aprecio o bom gosto das telas expostas,
são todas minhas
quando o meu amigo Bernardo, dono do restaurante,
curiosamente, quando estive no Rio de Janeiro, fiz questão de passar um dia na “Ilha do Bernardo”, para lhe trazer uma lembrança da “sua” ilha
me pediu para atender um senhor, construtor civil, que queria fazer-me um pedido.
normalmente é para ver se eu concedo um desconto nalguma obra exposta
Acedi, sem grande esperança. Afinal, estava redondamente enganado com as suas intenções!
acontece aos melhores!
O senhor queria que eu lhe fizesse uma tela, grande,
grande – substantivo, não, grande – adjectivo
para colocar na adega da sua casa, que seria inaugurada dentro de alguns meses. Quando comecei a dar a desculpa habitual para me esquivar a aceitar compromissos,
estilo: “Não tenho tempo! Estou muito ocupado”
o senhor não quis ouvir as minhas razões
era construtor civil, lembram-se?
e disse-me que até tinha ideia do que queria. Aí eu fiquei atento!
construtor civil com ideias, coisa estranha!
Queria que eu fizesse um quadro ao estilo de Malhoa,
José Malhoa, pintor português, naturalista, 1855-1933
com aquela conhecidíssima figura da sua obra “Festejando o S. Martinho”.
repetida em reproduções baratas, ad nauseum
Achei um bom desafio: não tinha muita paciência para pintar como Malhoa,
à data da sua morte o seu estilo já era contestado pelos mais novos
mas como também não tinha dinheiro, resolvi aceitar a encomenda.
mal como se verá!
Para não fazer uma cópia do óbvio, resolvi criar uma composição com duas obras de Malhoa e seleccionar cartazes da época
para o meu ego não ficar muito ferido
para pregar nas paredes da tasca onde se iria passar a cena.
Triste!
Para dar algum realismo às paredes, adicionei areia à tinta,
as pintinhas, suponho que parecem aquelas coisas que as moscas deixam nas paredes
e o claro-escuro do interior, mais escuro ainda, como é costume para ouvir os acordes plangentes da guitarra e os sons maviosos do cantor de fado.
e ninguém notar se quisermos dormir uma soneca!
Quando a obra ficou pronta, combinei com o meu amigo Bernardo, colocá-la no restaurante e o senhor construtor passar por lá para a poder apreciar em todo o seu esplendor. Adorou-a! Mas
há sempre um mas
não lhe convinha fazer mais despesas, naquela altura!
a crise toca a todos, não é? Menos aos pintores, acho eu...
E assim fiquei com uma obra que está exposta no “Restaurante Napolitano” do meu amigo Bernardo.
acreditam que já foi mandada guardar por um senhor que teve de sair para os Açores?
Até hoje!

35 comentários:

Gi disse...

Anda enguiçada a obra :), não há uma sem duas nem duas sem 3. Ao 3º pedido vendes de vez :) (não era suposti rimar mas até que não ficou mal)

Um beijinho para ti
(vim matar saudades)

KLAU disse...

QUE BELLA OBRA ANTONIO !!!
LO QUE DARIA POR ENTENDER TU LENGUA PARA PODER LEERTE

CAMBIE LA PORTADA PARA VARIAR UN POCO Y PARA CUIDAR LA ENTRADA YO MISMA JAJJAJAJJAJ Y DARTE LA BIENVENIDA CON MI ESPADA CON LA CUAL PROTEJO A MIS AMIGOS DE TODO MAL.. COMO VALKIRIA QUE SOY...DESDE MI VALHALLA !!!!

ESPERO QUE NO TE HAYAN ASUSTADO MIS OJOS..SI ES ASI LLORARE !!!

GRACIAS POR ESTAR CERCA SIEMPRE
BESINHOS
♥♥♥♥♥

Isabel disse...

Qué curiosa la historia!! Un poco de cara dura tuvo el señor, hacerte trabajar para nada. Claro que, en el arte, nunca es para nada porque otros gozaron de lo que él no quiso quedarse. Muy bello el cuadro. Besos.
http://senderosintrincados.blogspot.com

Pilar disse...

Gracias por tu visita Antonio.
Estoy contenta de poder visitar tu blog, sobre todo porque me encanta pintar (a mi manera y humildemente) y he descubierto en tu obra telas llenas de color y de vida.
Sagitario como yo :) he leído tu escrito sobre nuestro signo y me encanta la tela que has creado para él.
Un fuerte abrazo para ti

Anne M. Moor disse...

Se tem uma coisa que não preciso é beber para me divertir... Teu quadro está tão real que pode-se até cheirar o vinho!!! E a cara de espanto do violeiro no fundo... tadinho - ninguém o ouve...
Adorei teu texto :-)
Beijos

Nocturna disse...

António:

Escuchando esta música que me fascina y leyéndote, soy feliz!

¿Qué más puedo pedir?

¡Te dejo barcos repletos de besos, amigo!

:)

A.Tapadinhas disse...

Gi: Gostei muito de te voltar a ver por cá. Eu até gosto da obra! Mas até parece que não: fartei-me de lhe tirar fotografias com máquina tradicional e digital,e não tenho nenhuma que lhe faça justiça! Azar...
Beijo da sorte.
António

A.Tapadinhas disse...

Klau: Um centauro não tem medo de nada! Muito menos de uns olhos bonitos... mesmo que feiticeiros!
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Isabel: Acontecem sempre coisas interessantes com as obras, umas vezes quando as faço, outras vezes quando as exponho. Procuro não me deixar afectar negativamente com o que acontece, e retirar daí ensinamentos para o futuro.
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Pilar: Espero que esta visita seja a primeira de muitas! Só pode ser assim, dada a nossa afinidade de interesses, confirmada pela igualdade de signos...
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Anne: Sabes, a tradição obriga a que todos os que tocam ou cantam o fado tenham cara de desgraçadinhos. Felizmente, neste caso, a tradição já não é o que era... Obrigado pela referência ao texto: cuidei bem dele e fiquei satisfeito com o resultado. É bom o
teu reconhecimento...
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Danhir: Não voltes a fazer isso: é muito perigoso! O barco por pouco não foi ao fundo, com a carga de beijos! Felizmente sou um bom nadador-salvador: recuperei-os todos e fiquei muito feliz!
Beijo levezinho!
António

Fernanda Irene disse...

António, he apendido a leer portugués entre líneas, es por eso que creo que la mayoría de las veces me pierdo tus ironías y bromas. ¿Qué es lo que dices de las moscas y de lo que dejan por las paredes? :D

En resumen, creo que dices que te quedaste "compuesto y sin novia" ¿no? Es decir, que tu cliente se dió el "piro". Bueno, seguro que tu amigo Bernardo está encantado de tenerlo en el respaurante. Por cierto, me encantaría ver ese cartel de Palmolive con el que ganaste un premio.

Un abrazo enorme

Fay van Gelder disse...

É a crise amigo António, mas vais ver que é como a Gi diz á 3ª é mesmo de vez :)

Bjocas :)

mera disse...

Admirado Antonio,
Llegué a Usted por Irene, y como veo por sus entradas y comentarios que entiende perfectamente el español, Por mi parte leo y entiendo portugués. Me gustan sus obras y tengo interés en contactar con Usted. Envíe por favor una dirección c.e. a
jamera151@gmail.com.

Jorge Lemos disse...

Dupla arte, texto e quadro.
Arte maior lhe foi pregada
oelo arteiro encomendador do quadro.
Ao dobrar o preço dele, do quadro,
e o relato em anexo, algum colecionador vai delirar em
adquirir esta obra realmente bela.
Abraços mais que fraterno.
Jorge

Anne M. Moor disse...

António,
Não precisas de meu reconhecimento!!! Tu escreves esplendidamente, de maneira inteligente com uma certa picardia que me encanta, e pelo jeito ao nosso Mestre Jorge Lemos também... :-)

Dá um passeo lá pela minha 'casa'...
Beijos

ana disse...

Fina ironía en las palabras y dulzura en el pincel, estarán contentos los del Restaurante,

Felicidades por tu post en Prozac-caffé, lo leí, y eso que mi portugués es pésimo.
Un abrazo Antonio,
ana.

Ernesto Dias Jr. disse...

Pois olha: Não te valeu uns cobres. Mas melhor está na parede do amigo que escondida na adega do cliente...

Ernesto Dias Jr. disse...

A propósito: Vagou um espaço no cabeçalho do Assertiva, ocupado agora pelo seu blog.
Fico triste pelo link que se foi, mas feliz por ser você a ocupar-lhe a cadeira.

A.Tapadinhas disse...

Fermina Daza: Agora já leio espanhol rapidamente. É curioso, mas parece-me que quanto mais depressa leio, melhor o compreendo... Falei das moscas, mas também podia falar das teias de aranha que estão agarradas às paredes... Não tenho o original do cartaz, tenho o diploma e devo ter por aqui algumas revistas e jornais com o anúncio.
Beijo sem teias de aranha.
António

A.Tapadinhas disse...

Miss: O vosso optimismo contagia-me... e faz-me bem à saúde! É o meu exercício física da manhã! :)
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Mera: Seja bem-vinda! É sempre com alegria que recebo em minha casa novos amigos! E amigas da Irene minhas amigas são!
Un saludo cariñoso.
António

PS. Entrarei em conctato consigo, conforme pediu.

A.Tapadinhas disse...

Jorge: O engraçado é que a tela já esteve uns tempos na minha sala de jantar. Numa parede estava a tela, na parede em frente está um grande espelho e no meio está a mesa. Olhando do ângulo certo, consegui sentar à minha mesa o amigalhaço, com o qual bebi um copo de água-pé! Mas não consigo acompanhá-lo: ele não para de beber...
Abraço.
António

A.Tapadinhas disse...

Anne: Obrigado pelas tuas palavras. Vou a correr ver o que tens lá para mim. Vai ser coisa gostosa: só pode! Tu és uma querida!
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Ana: Acredita em mim: com o tempo conseguimos ler e compreender a nossa língua, sem grande esforço. Estou a referir-me a Português e Espanhol. Se meter sueco ou finlandês... nada a fazer... :)
Abraço carinhoso.
António

A.Tapadinhas disse...

Ernesto: Tens toda a razão: o dinheiro já tinha voado e assim quando vou comer ao restaurante, é um gozo renovado, olhar para o cara que está a ver-me com os olhos meio tortos, mas que mesmo assim gosta de mim: está a oferecer-me um copo...
No cabeçalho do Assertiva, diz você? Sinto-me muito honrado com tão ilustre companhia. Obrigado amigo!
Abraço.
António

Udi disse...

eu mesma cheguei aqui pelo cabeçalho do Assertiva.
...e me diverti com essa história! Tava na cara que um construtor civil com idéias não iria muito adiante com elas.

Sibyla disse...

Hola Antonio!
Como siempre disfrutando de las explicaciones que das sobre el pintor
José Malhoa.
Cómo me gustan los fados, ese vídeo retrata la angustia de las mujeres que quedan en casa esperando a que sus maridos, vuelvan de la mar.

Abrazos:)

jorge disse...

Bueno, cliente que se escapa, Bernardo que se pone contento.
¿el pintor? Es un artista y todos sabemos que los artistas no comen.

Los personajes del cuadro son de la liga anti-alcohol ¿no?

A ver si comes mas con tu mujer!!

Abrazos

A.Tapadinhas disse...

Udi: Olha que eu a princípio não achei muita graça! O tempo é um grande médico: cura muita desgraça...
Bem-vinda!
António

A.Tapadinhas disse...

Sibyla: O fado é uma canção tipicamente portuguesa mas cujas origens continuam a ser discutidas. O que não se discute, actualmente, é o valor das obras de Malhoa, que sempre que vão a leilão, batem recordes.
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Jorge: Então é assim que tratas os amigos? Artistas não comem?! Quando vieres a Portugal logo ajustamos as contas... com ou sem vinho...
Abraço.
António

SHE disse...

Tu alma encanta! tener la sencilles de contarnos tu "plantòn"!
Dulce Pontes me empieza a gustar gracias a tì.Linda canciòn acorde.
Y bueno , en la historia del arte
siempre alguien sale ganando.

Me gusta todo, mùsica, pintura, narraciòn.

besos mil y un abrazo fuerte!

Gracias Encanto!

A.Tapadinhas disse...

She: Agora já era eu que começava a achar a tua falta! Dulce Pontes merece que gostes dela e, fico encantado, porque continuas a gostar da minha pintura!
Beijo.
António