quinta-feira, 13 de março de 2008

CAFÉ




Convite para um café
Carvão sobre papel Canson 40x50cm

- Quero uma bica!
Quase sempre, quando chego a um café, pastelaria, casa de chá, restaurante, bar, discoteca, tasca, cantina, taberna, e peço um café, ficam a olhar para mim com um olhar de enfado tão intenso que me dá vontade de cancelar o pedido e apresentar as minhas desculpas por ser tão ignorante.
- O café é normal?
E eu, obediente, respondo:
- Sim, é normal.
A minha frustração é que eu não queria responder. Se tivesse coragem para enfrentar uma acalorada discussão devia perguntar:
- Para si, o que é um café normal?
O empregado ficaria a olhar para mim, a pensar: “ Este gajo ou é estúpido todos os dias, ou tem a mania que é engraçado...” e diria o quê? À sua frente abria-se, de repente, um mundo de hipóteses, porque até para o café o conceito de normalidade varia com os locais e épocas.
Para um transalpino seria um pouco de espuma de café servido numa minúscula chávena bem aquecida, italiana, sem curvas, mas com muita espuma.
Para um americano, seria uma chávena, tipo balde, cheia até acima com um líquido acastanhado, a que eles curiosamente chamam “black”.
Se pedir um café em Espanha, trazem-lhe uma chávena de chá com um líquido castanho claro, obtido com uma mistura de café (?), água e leite, morna como a água do banho para o bebé. Para obter a bebida desejada é preciso pedir “café solo”.
No Porto, se pedir um café leva com uma chávena de café de saco e se protestar dizendo que é de máquina fica a saber que devia pedir “cimbalino”, nome obtido das primeiras máquinas que tiravam o café, cuja marca era “Cimbali”.
Para um turco, um café normal é uma chávena de chá cheia de borras de café, onde se vislumbra um líquido negro que se deve beber sem agitar as adormecidas borras.
Se pedir um café em Amsterdão, o normal é receber um café com natas. Para beber o que quer, terá de pedir “expresso”.
No Brasil não há café: só cafezinho. Depois de pedir, pode acontecer tudo o que eu disse para outros países...
...E é assim em toda a nossa vida: Pensar e agir “normal” é perigoso!

45 comentários:

Suzana disse...

Quando eu era mais jovem meus pais diziam que eu não era "normal".
Hoje todos tem certeza!
kkk
bjs

Fay van Gelder disse...

E na Turquia amigo António é café turco, onde temos de deixar acentar o pó do café para o conseguir beber. No entanto vale bem a pena, porque é delicioso :)

Bjoca Grande e um Super Fim de Semana :)

Anne M. Moor disse...

Que saudadesssssssssssssssssssss... Eu quero um café acompanhado de um bom papo, horas e horas de assuntos mis...
Beijos saudosos
Anne

Anne M. Moor disse...

Normal???? Os loucos sao os que vivem... :-)

Isabel disse...

Es una buenísima entrada, Antonio. Comparar el café con la vida, cuando para cada uno las cosas son a su manera. Yo no tomo café, pero comprendo la poca "normalidad" de pedirlo. Un beso. http://senderosintrincados.blogspot.com

A.Tapadinhas disse...

O caixote do lixo da história está cheio de coisas normais... e, felizmente, o mundo com muitas pessoas como a Suzana.
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Miss Slim:
Escrevi: Para um turco, um café normal é uma chávena de chá cheia de borras de café... Só não disse que era na Turquia... :)
Bom fim-de-semana (sol?)...
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Anneeeeeeeeeeeeeeee!!!!!
Estava a ver que tinhas tirado férias vitalícias, num qualquer paraíso, sem ao menos te despedires dos pobres mortais engolidos pelos problemas das suas vidinhas!
Um café normal e uma italiana! :)
Bla... bla... bla...
Temos muito que conversar!
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Ana:
Há pouco tempo li uma informação duma empresa produtora de café, que a chamada "bica cheia", que as pessoas pedem para ter mais água e fazer menos mal, afinal contém mais cafeína... e portanto é mais perigosa! O perigo espreita-nos: haja alguém que nos livre da normalidade (?) imposta por decreto...
Beijo.
António

Anne M. Moor disse...

António, ainda ando num paraíso mágico... Segunda estarei em casa...

T S disse...

Esse seu convite me fez ter vontade de tomar um cafe quente,e saboroso...
eu acho que é assim que se deve disfrutar de um blog como o seu,com calma e com gosto...
um bjo
ts

KLAU disse...

ANTONIO, VE A BUSCAR TU PREMIO Q DEJE EN EL BLOG PARA QUE TRAIGAS MIENTRAS PREPARO UN CAFE ARGENTINO PARA TI.
AQUI EL CAFE ES EN TAZA GRANDE Y CON LECHE, MEDIAS LUNAS TOSTADAS Y DULCE DE LECHE ÑIM ÑUM NO TE TIENTA????

ERES BELLO COMO TU RELATO

GRACIAS POR TU EXISTENCIA
UN BESINHO
KLAU

Patricia Cruzat Rojas disse...

Para una Chilena como yo, un Café norma es:
Café 3/4 partes de un tazón,
luego leche descremada y
nada de azúcar!!!!
Mmmm que rico me lo iré a preparar.

Para entender lo que lees, leo rápido sin detenerme, ahí capto la escencia de tu escrito....espero.

Un abrazo de Chile

Paty.Difusa

Fernanda Irene disse...

Querido António, deduzco por tu texto, que eres un "especialista cafetero". Leyéndote he recordado que estando en Lisboa, y después de cenar en la terraza de un magnífico restaurante, el maître nos ofreció café. Rechacé amablemente su oferta alegando que si lo tomaba, esa noche no podría dormir; él, con una perfecta sonrisa me dijo que no tenía que preocuprme por eso, que me lo pondría descafeinado. Le dije que no me gustaba el café soluble,el maître volvió a regalarme su mejor sonrisa mientras me decía que el café sería de máquina. De esto hace ya 15 o 16 años y aún recuerdo ese café riquísimo, negro, espeso, aromático, buenísimo. Esa noche, por supuesto, dormí como un bebé.

Me gusta el carboncillo que nos traes en esta ocasión, miro casi con nostalgia esa silla de madera y anea, tan humilde y acogedora a la vez; y esa tacita de café, sin plato ni cucharilla, sola en la mesa esperando a ser tomada antes de quedarse fría. Es toda una invitación, si señor.

Un abrazo enorme

Irene

ana disse...

Hola, la silla estaba vacía y me he sentado un rato. Supongo que dentro de nada vendrá el camarero a decir: Qué desea tomar?,
le pediré un café y el me preguntará si lo quiero normal.
Yo le contestaré que lo quiero:

C de caliente
A de amargo
F de fuerte
E de espeso

En España no hay tan mal café, eh?
Precioso dibujo,
Un beso Antonio,
ana.

ZULMA disse...

António: Nada más acogedor que un café...abarca todos los sentidos...
el olfato...nada más inspirador y misterioso que su aroma;
la visión...y los dibujos que realiza una humeante taza de café;
el gusto...intenso y suave, a la vez;
el tacto...¿probaste tener en la palama de tu mano a unos cuantos granos de café?
el oído...porque no existe nada mejor que saborearlo en el contexto de un cálido ambiente y con un o un interesante interlocutor

Estudo Geral disse...

Amigo, hoje não posso deter-me por muito tempo, mas num espaço como este todos os cafés serão sempre poucos.Volto já.

A.Tapadinhas disse...

Anne:
É verdade que vais dirigir o filme,
"Uma semana no paraíso", em que és simultaneamente a principal actriz feminina?
Estou muito curioso com o argumento (br. roteiro)... :)
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

ts:
Com calma e com gosto e com uma boa companhia... do outro lado da mesa está o interlocutor ideal...
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Klau: Esse teu convite para o café argentino, parece-me mais um pequeno almoço... e eu adoro-os, se tomados com boa companhia. Para ter essa chávena de café com leite em Portugal pedimos "meia de leite". A ti, quero-te inteira...:)
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Paty: Espero que não te importes que o meu leve uma colherada de açúcar, ou pelo menos, de adoçante... Sou muito guloso!
No próximo artigo que escrever sobre café terei muito mais coisas para dizer...
Un abrazo cariñoso.
António

A.Tapadinhas disse...

Ana: Infelizmente não tenho nenhum mordomo! De qualquer maneira, faria questão de ser eu a servir os meus amigos... As condições para o teu café servem para mim. Quando Potugal e Espanha tinham fronteiras, os portugueses iam a Espanha comprar caramelos, chocalates, vidros e os espanhóis vinham a Portugal comprar café... Tens razão: agora já se esbateram as diferenças...
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Irene: "Cada povo com seu uso, cada roca com seu fuso", provérbio português que espelha e aceita a diversidade dos costumes dos diversos povos. Não podemos e não devemos fazer juízos de valor: simplesmente aceitar. Lá está, em Roma, sê Romano! Como sempre, descreves a situação com uma tão perfeita clareza que te vejo no Café terraço do Sheraton, a sorver o teu café, a olhar Lisboa, iluminada, os pensamentos perdidos nos refexos cintilantes do Tejo...
A cadeira vazia é um convite para os amigos...
Un abrazo cariñoso.
António

A.Tapadinhas disse...

Zulma: Estive no Norte de Angola dois anos, e vivi de perto todas as fases do ciclo do café: chamavam-lhe o ouro negro. A variedade que mais se produzia lá chamava-se "robusta" e servia principalmente para dar "corpo" a misturas que se faziam com o café de Timor, ou de algumas variedades brasileiras... Todos os pretextos são bons para uma conversa interessante, mas com café é melhor...
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Luís: Espero ter ser sempre para ti, um café acabado de fazer, bastante aromático, com sabor forte e estimulante, para ser saboreado calmamente...
Até lá, abraço.
António

Jorge Lemos disse...

Antonio:
Convido-o para um café caboclo. Colhido em minha quinta. Sol quente queimando a casca vermelha da Rubiácea, descascado no rude pilão manual dos velhos colonizadores, torrado e moido ainda no pilão. O cheiro do Arabian Rubiacea invade a casa.
Agua na vervura certa e o filtro de papel. Três colheres do pó para meio litro da fervente água.
Num copo lavrado, mostrando a cor negra do Café tipo Capitania, dá a nota de fidalguia própria para receber amigos.
Em nossa casa nunca faltou o cafésinho e o papo. Ambos valem a pena.
Anne já experimentou e diz que voltará.
Abraços Jorge

Walmir Lima disse...

Mas, amigo Tapadinhas, sei bem o que te digo, cuida, que quem bebe desse café do Jorge e Estephania quer sempre voltar, nem que seja d'além mar.
Tua postagem mexe com o que temos em nossa raiz mais profunda.
Ontem nos reunimos no Café Milkshakespeare, em Jundiaí, onde moro, e tomamos um maravilhoso café 'Fazenda Pessegueiro' feito por jovens especialistas e conversamos por várias horas. Como gostaríamos que você aqui estivesse. Creio que ia gostar muito, e nós também, da tua presença.
Um forte abraço.
Walmir

Walmir Lima disse...

Estiveram alí reunidos os seguintes Bloguenígenas:
Jorge e Estephania Lemos, o filho deles, George, que é seu colega, pintor, de velas ao vento e de velhos casaríos, Ernesto Dias, Udi Tarora, Flávio Ferrari, Ti (Amélia Caetano), Raquel Mello e eu.

Walmir Lima disse...

Em nossas conversas fostes muito lembrado. Entre tantas citações a teu respeito, o destaque feito por Ernesto, foi à tua obra "Net", que ele disse que gostaria de comprar, se pudesse. Ao que, todos concordamos.

Walmir Lima disse...

Correção: o nome do quadro é "WEB".

Walmir Lima disse...

Net... Web... é tudo a mesma Rede.
O quadro, seja qual for o nome, é que enreda toda a beleza.

A.Tapadinhas disse...

Jorge Lemos: Convite aceite! Todo o ritual que descreve, dá para entender que está a falar a sério e eu sinto-me honrado por tomar o cafésinho nessa baixela, batendo um papo gostoso, com amigos que não são do peito porque não ainda não nos abraçámos. Até lá, o abraço comovido do amigo,
António

A.Tapadinhas disse...

Walmir: Olha amigo, vocês estão mesmo a mexer comigo: não sabe mesmo a honra (e inveja) que me dão com o que me conta da vossa reunião... Os nomes que refere já fazem parte do meu dia-a-dia e por isso torna-se mais fácil imaginar como é estimulante ficar, saboreando um café gostoso, batendo um papo com amigos... Sabe, a WEB está comigo no meu estúdio, no cavalete, e verdadeiramente, não decidi o que vou fazer com ela: ainda continuamos eu e ela, namorando... Agradeça a Ernesto, o interesse, mas deixo a pergunta: Um durão como ele, apaixonar-se assim, como é possível? :)
Os meus cumprimentos para todos. Para si, um grande abraço.
António

Recomenzar disse...

bello es tu blog.La musica de hoy sensacional

paper-life disse...

Ah a "normalidade"!
Não mata só a criatividade. Vai matando a humanidfade de morte lenta ou em fogo brando. Mas matando, vai.

:)

paper-life disse...

Ah a "normalidade"!
Não mata só a criatividade. Vai matando a humanidfade de morte lenta ou em fogo brando. Mas matando, vai.

:)

A.Tapadinhas disse...

mi despertar: Recordei-me ontem de ti: estive a ver um filme de acção passado em Miami, mas infelizmente, não te vi... :) Para compensar a desilusão logo vou visitar-te...
Abrazo cariñoso.
António

A.Tapadinhas disse...

Barqueira: O teu é o "Auto da Barca do Céu", não é verdade? Tenho um cais, pronto para te receber e logo seguirei viagem até ao teu...
Beijo.
António

arianams disse...

Quando a minha mãe faz assim um comida "diferente" lá vem o meu pai com a normalidade: "Eh pá, lá estás tu a inventar, Fernanda! Faz uma comida normal!!!!"
Ai o que eu me farto do rir com "o normal"! Normal para ti, português lisboeta, normal para um chinês, para um africano, para um budista, para um vegan...
Outra que gosto muito é o "dentro do género". "Gostas do livro? Hummmm, dentro do género..." Mas que género, senhores?! Que género?!?

A.Tapadinhas disse...

Ariana: A normalidade é uma coisa efémera, que parece areia a escoar-se pelos dedos, ou uma bola colorida nas mãos duma criança: pula, muda, avança... e não há nenhum Zé ou Tó que a faça parar...
De criança e de louco todos temos um pouco... Não devo ter muito de criança, espero ter alguma coisa de louco...
Um género de beijo ternurento.
António

jorge disse...

El dibujo al carbon es precioso.
La normalidad ¿que es?
Estoy contigo, en Roma se romano.
No tenemos que llevar nuestra verdad (normalidad) con nosotros.
Ya sabes lo que me gustan los cafes, tendre que pasar por la terraza del Sheraton.

A.Tapadinhas disse...

Jorge: Com esta minha entrada, aumentei os meus horizontes para limites impensáveis... E não me refiro só aos cafés, às suas variedades e aos rituais a ele associados... Café, conversa, sítio acolhedor, paisagem fascinante... o paraíso é ali ao lado...
Abraço.
Amigo

Nocturna disse...

Jajaja!
António, me encantaron las teorías de tus cafés...

¡Y yo adoro el café!

(Aunque sea peligroso para mi hígado... jaaa!)

Nocturna disse...

Y Chris Rea... fantástico!
:)

A.Tapadinhas disse...

Danhir: ...e a partir deste post nada mais será igual, tantos foram os conhecimentos que foram acrescentados, de diversos pontos do globo. Em Portugal, há um café mais fraco, a que chamamos "carioca" que podes tomar: contém todo o sabor e não faz mal...
Beijo com aroma de café.
António

PS. Podes dizer-me como se pronuncia DANHIR?