sábado, 31 de maio de 2008

FARENHEIT 451




Caldeira do Moinho Pequeno
Acrílico sobre tela 80x100cm

Tenho mostrado algumas das muitas telas que pintei em que os Moinhos de Alburrica são a figura central do quadro. Há outros moinhos, os de maré, que funcionavam com os ritmos da subida ou descida das águas.
O esqueleto da casa, que aparece na parte esquerda do quadro, é aquela onde funcionava o moinho de maré. Da língua de terra, em frente, vêem-se as entradas de água que faziam girar o sistema. Num dos meus passeios pela zona, apercebi-me das possibilidades pictóricas daquela casa e do seu moinho. Depois de estudar o horário das marés, e ver as condições do tempo, porque precisava de um céu sem nuvens para poder tirar o máximo partido dos surpreendentes e espectaculares reflexos dos tijolos na água, consegui realizar uma obra que me deu grande satisfação produzir.
O que eu não sabia é que, afinal, a história do moinho ainda não estava completa!
Um dia, fui ver uma exposição na escola Alfredo da Silva, que fica junto ao rio. Naturalmente, olhei para a caldeira e fiquei espantado com o grau de destruição atingido pela casa e moinho, em tão pouco tempo. E fiquei fascinado pelo esqueleto que parecia o resultado de um incêndio que tivesse atingido a construção.
Resolvi perpetuar na tela a destruição daquela casa que, ao contrário da adaptação cinematográfica do livro de Ray Bradbury, dirigida por François Truffaut, não precisou de nenhum bombeiro, Montag ou outro qualquer, para atingir um grau de destruição máximo. Esta obra é o resultado da falta de interesse pelo nosso património, não num futuro distante, não num regime totalitário, mas sim na actualidade e num regime democrático. Só falta, mesmo, dizer que a beleza faz as pessoas infelizes e improdutivas, como nesse livro/filme de culto.
Talvez seja a altura de lá voltar para ver o que aconteceu.
Os pintores consideram interessantes as coisas mais inesperadas, não acham?

26 comentários:

Isabel disse...

Sí que es interesante la asociación de ideas. Esa obra es estupenda, la de Bradbury y la tuya. Besos.
http://senderosintrincados.blogspot.com

Udi disse...

António, se quiser ver as proporções que esse fogo devastador de memórias pode atingir, venha a São Paulo.

Suzana disse...

Remeteu-me a sensação de abandono.
Muito triste.
bjs

Anne M. Moor disse...

Embora triste ver o patrimônio dilapidado ou delapidado(???) tua pintura me traz uma paz e me dá uma vontaaaaaaaaaaaaaade de estar sentada num daqueles barcos a olhar para a água e o movimento do céu...
Beijos aconchegados :-)

Azul Diamante azul disse...

Lindíssimo. As ruínas também me fascinam

Beijinho

Ernesto Dias Jr. disse...

Festa para os olhos, cada visita ao Sem Margens.
Me obriga a tirar das gavetas as aquarelas. Os pincéis já os resgatei.
Reforço o convite da Udi: Margem por margem, dá cá um pulo à outra margem.
E a propósito: No afã de colocar o novo Assertiva no ar, ficou para trás o seu blog na Aldeia. Já corrigi.
Cabrálicos abraços.

A.Tapadinhas disse...

Isabel: O filme, também com o mesmo nome, é um daqueles que marcam uma época.
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Acredito, Udi! Por cá, temos um ditado que diz: Deus dá o frio à medida da roupa de cada um. A região metropolitana de S. Paulo tem quase o dobro de toda a população de Portugal! Grande nau, grande tormenta!
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Suzana: Se pensarmos que é uma paisagem urbana, torna-se ainda mais triste. Ali vivem pessoas e por detrás das casas, passa uma avenida...
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Anne: Sempre a ver o lado positivo da vida, menina! Quem sabe um dia satisfaz essa vontade!
Beijo globetrotter.
António

A.Tapadinhas disse...

Bel: Estimulam a nossa imaginação, não é? Tudo o que é velho. já foi, em algum tempo, novo. Como seria então?

A.Tapadinhas disse...

Ernesto Dias Jr.
Pode ser que um dia, sr. Dias, eu pegue numas quantas telas, junte às suas aguarelas, e façamos aí uma exposição... sem esquecer Walmir, e creio, mais uns pintores meio envergonhados, que vivem na Aldeia... Ia ser um estouro, não acha?
Abraço.
António

Anne M. Moor disse...

Uma exposição bloguenígena... hmmmmmmmmmmmmm interessante. Ia ser um arraso. Meninos, mãos a obra!!
Beijos aos pintores

Azul Diamante azul disse...

António tenho estado a lêr todos os dias 2 ou 3 posts dos antigos e gosto muito de ver os seus quadros muito ao estilo Van Gogh.Eu vou pintando conforme me dá na telha mas últimamente tenho posto um pouco a pintura a óleo de lado porque estou a pintar porcelanas.Mas gosto mesmo é do cheiro da terbentina. Bjs

Suzana disse...

Uma exposição acompanhada com textos do Ernesto, Jorge, Wlamir, Zuleica!
Imperdível!
bjs

Anne M. Moor disse...

Com quadros do Ernesto, Jorge e Walmir... :-) Os nossos pintores 'quietos'...

Jorge Lemos disse...

Com prazer abririamos a exposição em Vinhedo, com passagem por Jundiai e Campinas. Acrescentaria os barcos e casarios do meu Georginho.
A Academia estaria enriquecida com as presenças dos Acadêmicos Correspondentes.
Irei desenterrar os meu óleos sobre telas da década de 70.

Antonio
Cada vez mais me encanto com suas
telas. Toda a história do nosso povo (Luzitano) por ti retratada.
Parabens. Textos vivos e o clamor
das necessidades do momento: preservar a história.

04 de Setembro 2008, no Teatro Municipal de Vinhedo - Posse de novos acadêmicos e e novo diretoria na
AMLAC - DEIXO A PRESIDENCIA EXECUTIVA, assum a presidência do Conselho. Todos convidades.

Ernesto Dias Jr. disse...

Caro António:

Não provoca que a gente acaba montando mesmo uma exposição por aqui. E melhor se a missa for de corpo presente, não acha?

A.Tapadinhas disse...

Anne: Hummm?! Dúvida... Arraso!!!
Entusiasmo... Mãos à obra! Sentido prático das mulheres...
Em poucos segundos, o teu cérebro processou toda a informação e não tardou a tomar a decisão...
Quem sabe? É uma possibilidade...
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Bel: É verdade! Quem já cheirou a terebintina, fica sempre com a nostalgia desse aroma e, mais tarde ou mais cedo, acaba por ter uma recaída. Espero que retire prazer e proveito, dessa sua leitura.
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Suzana: Ilustres pensadores e escritores, com a pintura inspiradora, só pode dar festival!
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Anne: ...e tutti quanti!

Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Jorge Lemos: Esse entusiasmo juvenil, para realizar projectos é deveras inspirador! Estarei consigo, convosco, em todas as acções promovidas para melhorar o intercâmbio de idéias e experiências. Agradeço, penhorado o convite.
Abraço.
António

A.Tapadinhas disse...

Ernesto: Sinto que cutuquei onça com vara curta! Francamente, só pensei naquilo que poderá ser mais interessante, como por exemplo a obra "WEB", que tem tudo a ver com esta nossa experiência transatlântica.
Abraço.
António

Fernanda Irene disse...

Querido António, me temo que mi imaginación es demasiado... romántica. No sé, pero al ver esa casa y su molino en ruinas, y leer lo que dices del incendio y el abandono que sufre la zona, no he podido evitar acordarme de "Jane Eyre" la gran novela se Charlotte Brontë, donde, al final, la mansión del Sr. Rochester es pasto de las llamas por culpa de su esposa demente. Ay, nunca puedo evitar que vuele mi fantasía.

Un beso

A.Tapadinhas disse...

Fermina Daza: Que as minhas telas tragam à tua memória mitos tão poderosos como o da Cinderela, a rapariguinha pobre que casa com o príncipe, é uma boa razão para me sentir orgulhoso. Muito mais, porque Charlotte Bronte conseguiu conciliar o romance e o realismo, como eu procuro fazer nas obras, que retratam locais da minha terra...
Beijo.
António