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Caldeira do Moinho Pequeno
Acrílico sobre tela 80x100cm
Tenho mostrado algumas das muitas telas que pintei em que os Moinhos de Alburrica são a figura central do quadro. Há outros moinhos, os de maré, que funcionavam com os ritmos da subida ou descida das águas.
O esqueleto da casa, que aparece na parte esquerda do quadro, é aquela onde funcionava o moinho de maré. Da língua de terra, em frente, vêem-se as entradas de água que faziam girar o sistema. Num dos meus passeios pela zona, apercebi-me das possibilidades pictóricas daquela casa e do seu moinho. Depois de estudar o horário das marés, e ver as condições do tempo, porque precisava de um céu sem nuvens para poder tirar o máximo partido dos surpreendentes e espectaculares reflexos dos tijolos na água, consegui realizar uma obra que me deu grande satisfação produzir.
O que eu não sabia é que, afinal, a história do moinho ainda não estava completa!
Um dia, fui ver uma exposição na escola Alfredo da Silva, que fica junto ao rio. Naturalmente, olhei para a caldeira e fiquei espantado com o grau de destruição atingido pela casa e moinho, em tão pouco tempo. E fiquei fascinado pelo esqueleto que parecia o resultado de um incêndio que tivesse atingido a construção.
Resolvi perpetuar na tela a destruição daquela casa que, ao contrário da adaptação cinematográfica do livro de Ray Bradbury, dirigida por François Truffaut, não precisou de nenhum bombeiro, Montag ou outro qualquer, para atingir um grau de destruição máximo. Esta obra é o resultado da falta de interesse pelo nosso património, não num futuro distante, não num regime totalitário, mas sim na actualidade e num regime democrático. Só falta, mesmo, dizer que a beleza faz as pessoas infelizes e improdutivas, como nesse livro/filme de culto.
Talvez seja a altura de lá voltar para ver o que aconteceu.
Os pintores consideram interessantes as coisas mais inesperadas, não acham?