terça-feira, 27 de abril de 2010

INVERNO


Flor de Amendoeira Óleo sobre Platex 15x15cm
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Com o trabalho tudo correu bem, o último quadro foram ramos floridos – tu verás, entre as minhas obras talvez a que fiz com mais paciência e melhor, pintada com calma e uma maior segurança das pinceladas.

Estas palavras foram escritas por Van Gogh, numa carta ao seu irmão, depois de concluir um quadro, para oferecer ao seu sobrinho e afilhado, Vincent.
A obra, com o título, “Amendoeira em Flor”, óleo sobre tela, 73x92cm, está em Amesterdão, no Rijksmuseum Vincent Van Gogh. Todos os críticos, nos seus comentários, consideram este céu, o mais intenso, o mais brilhante, que o artista alguma vez pintou. Tinha a intenção de colocar aqui o quadro, mas fiquei completamente baralhado: se se derem ao trabalho, verificarão, nas centenas de reproduções que há no Google, as diferenças gritantes que existem entre cada uma delas.
Brevemente, estarei no local para saber qual é, afinal, o verdadeiro azul do mestre. Por agora, mais do que a queda de neve ou os gélidos ventos, imaginem as andorinhas pairando no ar, com o inconfundível aroma das amendoeiras em flor, anunciando a chegada da Primavera…
Pode escutar o concerto para violino e orquestra, “As Quatro Estações – Inverno”, em que, logo no início, os acordes dissonantes da orquestra lembram os gélidos ventos e a queda de neve, com o violino em escalas descendentes e harpejos, imitando o canto dos pássaros ávidos do calor do sol - como nós!

terça-feira, 20 de abril de 2010

OUTONO


Outono Óleo sobre Platex 15x15cm
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A mais popular obra de Vivaldi é, "As quatro Estações", em que o compositor expressa musicalmente, de uma forma simples, directa e descritiva a natureza. O Outono, estação da queda das folhas, é um concerto em fá maior para violino, cordas e cravo. Tem os três andamentos dos outros concertos e pela mesma ordem: “Vindima”, allegro, a bebedeira causada pelo vinho (adágio molto) e no último, o trepidante ritmo da caça, obviamente allegro, menos para o veado que é morto!
Diz-se que o Outono é uma estação calma, de meias-tintas. Tal como acontece com o veado, também as folhas ao morrer não me deixam indiferente: mostram com a violência das suas cores, o seu protesto pela morte que adivinham! E como são eloquentes!
Quando morrer quero ter cores assim!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

VERÃO COM VAN GOGH


Verão Óleo sobre Platex 15x15cm
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Sob a dura estação, pelo Sol incendiada, (Sotto dura Staggion dal Sole accesa), é assim que começa o poema que inspirou a composição musical. Este concerto, tal como o das outras estações, tem três andamentos: dois rápidos e um lento. Vivaldi escreveu para ele próprio ser o violinista solista, dando melodias mais ternas e suaves aos andamentos lentos, e grande vivacidade aos andamentos rápidos. Nigel Kennedy, o solista, deste III Presto, é o vulcão visível deste Verão de Vivaldi.
O que inspirou a série de girassóis que fui fazendo, pensando friamente, resultou de um acaso.
Já vos disse que tenho uma caturra que imita o meu assobio no "Hino Nacional", na "Quinta Sinfonia", de Beethoven, no "Jingle Bells", entre outras músicas. Ela come uma mistura de sementes. É muito temperamental, como todas as divas, e espalha-as por todo o lado. Recolho as sementes do chão e atiro-as para o terreno para que outras aves as aproveitem. Há uns anos atrás, duma dessas sementes, nasceu um espectacular girassol, com o qual fui gastando rolos e rolos de fotografias, de todos os ângulos e com todas as situações de sol e sombra.
Mas eu não acredito em acasos! E eu acho que não foi inocente o nascimento dessa flor no meu terreno: Van Gogh esteve lá a cuidar dele...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

THE UNKNOWN GOD (II)


Queda de um Gigante Acrílico sobre Tela 30x40cm
(clique sobre a imagem para ver pormenores)

Eu fui um dos braços amigos que amparou o pinheiro, se a força do pensamento o conseguir fazer…
Olhando a terra esventrada pelas raízes que teimosamente se mantinham, e subindo o olhar para o céu filtrado pelas ramagens finas e pelas carumas, a sua cor era o complemento das que lhe faziam de filtro. A brisa ligeira, que afagava os ramos, fazia desfilar perante os meus olhos extasiados, um caleidoscópio de cores que me deixava sem respiração.
E já olharam bem de perto a casca de um pinheiro-manso? As suas diversas camadas estão perfeitamente definidas, consoante o tempo de exposição ao sol, com uma inenarrável gama de cores quentes, delimitadas por traços de tinta-da-china preta, num trabalho delicado, que só pode ser de algum “UNKNOWN GOD”…

quarta-feira, 7 de abril de 2010

THE UNKNOWN GOD


Queda de um Gigante (em construção) 30x40cm

Os atenienses, apesar dos seus doze deuses principais, com receio de ferirem susceptibilidades, criaram um templo dedicado ao deus desconhecido. Se não serviu para mais nada, a sua existência ficou justificada com a obra-prima, “A um deus desconhecido”, de John Steinbeck.
Nesta novela telúrica, panteísta, Joseph Wayne, para cumprir o desejo do pai, vai viver para uma terra de vales imensos e de majestosas árvores. Depois da sua morte, Joseph acredita que a alma do pai se recolheu no imponente carvalho, junto da casa. A partir desse momento, a sua vida fica ligada umbilicalmente, de uma forma mística, ao destino da árvore. Como quase sempre acontece, é por uma boa razão, em nome de Deus, para o salvar do fogo do inferno, que seu irmão assassina o velho carvalho, cortando-lhe as raízes. O sentimento de tragédia, presente nas páginas da novela, começa a adensar-se com a seca que invade a terra e atinge o seu paroxismo quando Joseph se suicida. Com “o sangue a gorgolejar das artérias abertas”, ele diz: “Eu sou a terra e sou a chuva. A erva brotará de mim dentro em pouco.”
No passeio pelos sapais do Tejo, do qual falei anteriormente, logo a seguir ao Moinho da Charroqueira, encontrei um sinal das intensas chuvadas e fortes ventos: um pinheiro-manso (Pinus pinea) caído, suportado, de um lado, pelas suas raízes, e do outro, como que amparado por braços amigos, com as ramagens na terra. Lembrei-me de imediato da árvore assassinada em nome de Deus.
“E a tempestade recrudesceu e, com um enorme cachoar de águas, cobriu de sombra o mundo.”
Este desenho está mais pormenorizado do que é costume, porque é minha intenção dar-lhe a aparência de um vitral, que poderá ser colocado, quem sabe, numa UNKNOWN CHURCH.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

PRIMAVERA


Primavera Óleo sobre Platex 15x15cm

Esta é a imagem sonora de Antonio Vivaldi que podem ouvir aqui.
Descreve a chegada da Primavera como uma festa da natureza. Nos solos dos violinistas, está reproduzido o canto dos pássaros e o murmúrio dos riachos afagados pela brisa suave e fresca. Podemos imaginar a dança das ninfas e dos pastores, sob o brilho do sol primaveril, depois do rugido dos trovões e da luz lívida dos relâmpagos iluminando o manto negro das nuvens características do Inverno.
Esqueçam os produtos que esta música já vendeu, nos spots publicitários – se puderem…
A imagem visual da Primavera, de António Tapadinhas, tem as flores mais singelas – umas papoilas saltitantes…
São estas flores que eu ofereço aos meus amigos, desejando a todos uma Páscoa Feliz!