quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

VIGIA


Vigia Óleo sobre Tela 100x100

Perto de minha casa há uma unidade industrial de desmantelamento de navios de grande porte. De vez em quando, passava por lá para tirar umas fotografias a pormenores dos gigantes prestes a serem trucidados. As tintas degradadas que deixavam ver os primários aplicados, as chapas corroídas pela água e pelo sal, ofereciam cambiantes que me deixavam com inveja dos elementos naturais que os transformavam em objectos de arte. Na fotografia não se distingue muito bem, mas procurei com a grande quantidade de tinta aplicada, dar a textura da chapa corroída. Fiz uma série de pinturas com estes elementos que foi interrompida, quando um dos seguranças da empresa me ameaçou com uma tareia (maneira suave de dizer que me partia os cornos), por andar a fotografar e a espiar um local privado. Apesar dos meus tímidos protestos: "Eu sou um pintor, não sou um espião ao serviço de qualquer potência estrangeira", acho que ele não acreditou. Quem acreditou nas suas ameaças fui eu: ele tinha na mão um ferro mais duro que a minha cabeça. Julguei eu, na altura... e continuo a julgar, porque nunca mais lá voltei!

22 comentários:

Myriam disse...

Tus bellas pinturas me recuerdan "las cuatro estaciones de Vivaldi"

Bejsos y abracos

Myriam disse...

Me referia a las pinturas de mas abajo, cuando dije lo de VIvaldi.
COloque el comentario en el lugar equivocado.

Con respecto este VIGIA, me gusta la idea de usar objetos corroidos o partes desarmadas para darles un nuevo significado artistico.... es como si volvieran a nacer! Es resignificar una historia...

Es como cuando al paciente en mi consultorio le pido que reescriba su historia personal y que lo haga de una forma creativa, modificado cosas.

Un abrazo

€_r_i_K disse...

Uma lástima ter que aprender a lição.... Há um dito em meu pais: Quem a ferro mata, a ferro morre.... Abraços.....

jorge disse...

O quadro precioso.

Encanta-me essa mistura azul-vermelho.

A experiência: Eu sempre salia correndo.

Desabafosescritos disse...

Muito curioso, António. Beijo.

Anne M. Moor disse...

As tuas aventuras a sair por aí fotografando me divertem! E me fascinam - tu fazes leituras incríveis de 'coisas' transformando-as em arte. Este, por exemplo, tem uma profundidade na vigia mesmo e nos azuis que além de levar nossos olhos num movimento espiral dão vida a algo parado.

Beijos azuis

Beatrizl10 disse...

Muchas gracias por dejar tan bellas palabras en mi blog. Un abrazo.

A.Tapadinhas disse...

Myr: As tuas observações são muito interessantes. Com muito treino e alguma apetência, as pessoas, segundo as suas especialidades, descobrem pormenores que fazem toda a diferença. No caso dos artistas, falando na pintura, quando saio estou sempre a procurar ver (e a descobrir) combinações de cores que me deixam extasiado. No teu caso, então, as combinações são infinitas...
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

€riK: Não somos assim tão diferentes: também dizemos que quem com ferros mata, com ferros morre. O injusto, é que há quem não mate ninguém, e morra com ferros...
Abraço.
António

A.Tapadinhas disse...

Jorge: Sabes que a fuga da presa faz explodir o instinto do predador? Se o enfrentares ele é muito capaz de hesitar. Experimenta com um leão, de preferência, por detrás das grades!
:)
Abraço.
António

A.Tapadinhas disse...

Desabafos:
Apenas para te deixar um beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Anne: Tu sempre tocas no ponto certo: olhando este quadro parece que somos sugados por um vórtice, nas profundezas dum buraco negro, abissal, hipnótico...
Estás a sentir um beijo?
:)
António

A.Tapadinhas disse...

Beatriz:
Agradeço a visita... volta sempre!
Beijo.
António

Anne M. Moor disse...

António: :-) :-) :-)

Acho que a gente se conheceu em outras vidas... :-)

A.Tapadinhas disse...

Anne: ...e nesta também! O mundo é cada vez mais pequeno.
Beijo.
António

Isabel disse...

No tiene sentido molestar al artista, con la de cosas peores que hay en el mundo... lo que se ve tras ese ojo de buey, quién lo sabe. Besos.
Isabel
http://senderosintrincados.blogspot.com

Renzo disse...

Bonita pintura, me hizo recordar tu cuadro del Ojo de Ulises ... Te cuento que la otra noche vi la pelicula "Troya" por cable y al ver el barco de Ulises con el ojo vigilante, recorde tu cuadro.
Hasta siempre

A.Tapadinhas disse...

Isabel: Agressões de brutos não incomodam, porque são esperadas! As que doem mais são as inesperadas...
Beijo.
António

A.Tapadinhas disse...

Renzo: Interessante teres lembrado o "Olho de Ulisses". Estes são símbolos que os povos mediterrânicos continuam a usar até aos nossos dias. Nem sempre como ornamento, porque às vezes têm um sentido místico...
Abraço.
António

Ernesto Dias Jr. disse...

Agora entendo porque a era dos grandes descobrimentos se acabou.
Os portugueses agora andam a desmantelar os seus navios.
Volta lá sorrateiramente e, se achares um naco da caravela de Cabral, manda para cá que a botamos num museu.

A.Tapadinhas disse...

Ernesto: Pagas o meu seguro de vida?
Abraço.
António

Flavio Ferrari disse...

Mais duro que a sua cabeça ... deve ser de uma liga especial ...
Adorei esse quadro. Simples e forte.