sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
SÉRIE - VILAS HISTÓRICAS
Óbidos Óleo sobre tela 90x120cm
A HISTORIA DE ÓBIDOS
Gosto de passear num centro comercial. Quase o faço sem pensar. Durante muitos anos, por motivos profissionais, passava algumas horas por semana, nestes locais, para verificar in loco os meus produtos e analisar as actividades da concorrência. Nos primeiros tempos depois de reformado (para não dizer ainda hoje), era incapaz de comprar qualquer coisa como uma pessoa normal. Volta não volta, dava por mim a fazer esse trabalho por puro prazer: comparar preços, tomar notas de promoções ou de lançamentos da concorrência, corrigir posições nas prateleiras, escolher locais estratégicos para determinados produtos. Era tão absorvente que só via televisão para verificar se na altura dos anúncios, os meus produtos entravam na sequência certa.
Foi num grande centro comercial de Lisboa que aconteceu o que passo a relatar.
A galeria de pintura era um sítio obrigatório de passagem. Nesse dia, estava em grande destaque um “Cristo” de Bual (1926-1999). Foi um pintor pioneiro da pintura gestual em Portugal, entre a abstracção e a figuração, uma pintura de expressão directa, convulsiva e caótica, que sintetizava as contradições do homem contemporâneo. Já depois da sua morte (não é sempre assim?), a cidade da Amadora, prestou homenagem ao pintor com uma exposição de vinte e seis Cristos...
Quando entrei, só estava na galeria o seu dono. Começámos a conversar e, palavra puxa palavra, acabei por dizer-lhe que eu também era pintor. Perante a sua curiosidade, mostrei-lhe fotografias de algumas pinturas. O galerista mostrou-se interessado em expor uma obra minha na sua galeria. A escolha recaiu sobre “Óbidos” , nome de uma vila cuja origem remonta ao século I, tendo sido conquistada aos mouros em 1148 e, a partir daí, local escolhido para descanso ou refúgio de reis e rainhas, que foram deixando marcas, que se mantêm até aos nossos dias. Combinados os pormenores, no dia seguinte, entreguei-lhe a obra.
Fui passando pela galeria e um dia o meu coração disparou como um cavalo de corrida: na montra em grande destaque já não estava o Bual estava o Tapadinhas. Fiquei por ali, como uma alma penada, a esconder-me atrás de colunas, para não ser visto pelo dono ou as empregadas da galeria, a tentar ouvir os comentários das pessoas que paravam em frente da montra.
Passados poucos dias, telefonaram-me a dizer que a obra tinha sido vendida e a convidar-me para passar por lá, a fim de receber o montante combinado. Logo que me foi possível, assim fiz. Exultante, entrei na galeria e o dono, discretamente, fez-me sinal para ficar calado. Estava a falar com um cavalheiro, vestido impecavelmente, com uma bengala de castão de prata, estando na sua proximidade um calmeirão bem trajado, mas com músculos a mais para o fato e gravata lhe assentar decentemente. Ouvi o senhor dizer para o dono da galeria, que estava a desembrulhar o “Cristo”:
- Meu caro, não me surpreende que esteja maravilhoso! Tem de estar, atendendo ao que paguei... Quero é ver a outra peça: Óbidos...
Fiquei sem respiração. O dono da galeria, retirou o papel que embrulhava a obra e procurou um ângulo favorável, para poder ser apreciada. A peça tinha uma moldura de que eu pessoalmente não gostava, mas que lhe dava uma imponência e grandeza, de acordo com as vetustas pedras do castelo. Ouvi umas exclamações de prazer e umas palavras que não reproduzo, mas que foram muito agradáveis de ouvir...
Cerca de duas semanas depois da cena que acabo de descrever, recebi uma chamada do dono da galeria a pedir-me o favor de fazer outra tela sobre Óbidos, para o mesmo senhor, que a queria oferecer à filha, como prenda de casamento. Ocorreu-me de imediato, a disparidade entre o preço da minha obra e o do Cristo de Bual. Acedi, a satisfazer a encomenda mas dupliquei o valor que queria pela nova pintura. A aceitação imediata do galerista, deixou-me a certeza de continuar a ser uma pechincha...
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22 comentários:
Hola querido amigo, hoy puedo hablarte poco de tus mágicos colores y luces, tan sabiamente mezclados, hoy vengo a invitarte a que me visites, para entregarte un trofeo que considero te mereces, un abrazo amigo Antonio.
Tenho uma queda muito especial por casas... Lindo este teu quadro e a história me divertiu 'vendo-te' escondido atrás dos pilares!!! :-)
Beijos
Paco: Já estive no teu espaço, Senhor das Estrelas, para te agradecer pessoalmente a honraria que me concedeste, tal como o faço aqui na minha casa.
Grande abraço.
António
Anne: Aconselho que leves uns sapatos sem salto alto quando visitares Óbidos. A calçada portuguesa é propícia a "quedas muito especiais"... :)
Afinal não estava bem escondido... tu viste-me... :)
Beijo, às claras.
António
yo tambièn te vì...y te sigo viendo .
Cada vez que entro a este sitio, es màs bello, interesante, ameno
y colorido.
Gracias bellò amigo!
:))))
Rendo-me à beleza da obra António.
O episódio que relatas parece-me ser um óptimo passaporte para fortalecer a auto-estima de qualquer artista, se ele já a tem melhor ainda.
Gosto desta tua faceta de paisagista e adoro Óbidos.
Um beijinho, resto de bom fim de semana
She: Também te sigo com todo o interesse, amiga. Espero manter a capacidade de te surpreender. O comentário que deixaste em "El Cascanueces", demonstra como é ténue a linha que separa música, dança, bailado, ópera, teatro. Onde começa um e acaba o outro?
Será importante estabelecer limites? A minha resposta é, não! São manifestações de uma mesma família: Arte, tout court. Que interessa saber se Van Gogh é pré-impressionista, impressionista, pontilhista, pos-impressionista, expressionista, ou o raio que os partam??? Ele é tudo, e não é nada. Está fora de qualquer catálogo! Ele é um génio, ponto final!
Não sei se consigo... mas lá vai:
Bejos mil! Uff!!!
António
Gi: Ainda bem que continuas a visitar-me... É sinal que estás melhor... ou que continuas a fazer sacrifícios para visitar os amigos? Por mim, estás dispensada: nunca te marquei uma falta de comparência... Adoro que me visites, mas não sou egoísta...
Beijo egoísta. :-)
António
Jorge: Não há receitas certas para comunicar e muito menos para chegar ao coração das pessoas, tantas as diferenças que existem entre elas. Nós comunicamos bem, parece-me, sendo nós próprios, sem artifícios, sem subterfúgios...
Não deixas escapar nada, mas não quero falar ainda dessa importante questão...
Abraço.
António
Querido Antonio, entro en tu casa y me encuentro con Óbidos y tengo la sensación de que en lugar de abrir mi portátil, he abierto una ventana. Qué espléndido se ve bañado en luz y abrazado por las murallas del castillo. Debe ser como hoy, una mañana de domingo, de un invierno que ya se va despidiendo. Sus calles huelen a leña y a pan recién hecho. Pronto sonarán las campanas de la Iglesia llamando a misa de doce. Hoy no madruga nadie, es día de descanso. Los niños saldrán a jugar a la calle y los novios a pasear por esa vereda que rodea la ciudadela hasta llegar al castillo. Y los más mayores irán a la plaza del pueblo para aprovechar los rayos de un sol invernal purísimo y allí, sentarse a evocar otros tiempos, adormecidos por el rumor del agua de la fuente.
Ya no podré olvidar Óbidos.
Beijo
Irene
Irene: ...e eu não poderei esquecer-me de ti!
A descrição que fazes, do ambiente típico da vila medieval, descreve na perfeição as reconstituições históricas. No outro quadro, que irei apresentar,vamos observar mais pormenorizadamente os edifícios e janelas... e vou descobrir-te lá, certamente...
Beijo.
António
Anonio, yo no voy a comentar nada hoy acerca de tu blog, sino lo que significa tu presencia en
mi vida.
Eres alguien adorable, màgico, "iluminado "
Donde tu vas dejas huella, dejas enseñanza dejas color y luz en nuestras vidas.
Exùdas bondad,amabilidad, lealtad y cariño para quienes te leemos´
Hoy quiero decirte algo, lo màs importante para mi en la vida:
Gracias por tu amistad.A ti en primer lugar te doy la muestra de aprecio màs grande que he tenido en mi vida blogera.
Te quiero mucho.
Nem sei que te diga: fascinação, pura fascinação. Contente porque te reconhecem e "já não vendes" produtos mas belezas de olhar!!!
Vitória da ARTE!
O Klimt é copiado por mim ...acrílico... às vezes copio o que gosto, para ter eu. Ao contrário de ti, é uma "pequena" paixão em mim, pois que exige muita entrega. Da qual não sou capaz, agora, por motivos de saúde.
Gostei e agradeço a tua passagem, caminhos de conhecimentos não-físicos. Belos, importantes!
Felicidades e
Abraços
She: Por que não comentaste o meu blog? Assim, deixas-me envergonhado, perante os meus amigos... Ainda hoje não consigo dizer abertamente, neste espaço, aquilo que gostaria... e muito menos ler (e reler), quando são palavras tão carinhosas, de alguém que admiro. É ainda ruborizado, que te dou um beijo, beijo.
António
Bettips: Foi exactamente Klimt a ponte que nos uniu para este primeiro contacto. Não sei qual é o problema, mas lembra-te que pintar, ou mais abrangente, criar é uma actividade muito egoísta: o criador tem de ser o primeiro, não importa com que sacrifícios ou penas, a retirar prazer da sua obra.
As tuas "vivências" são belas.
Beijo.
António
Uma experiência e tanto!
Para um artista não há nada mais gratificante que ver reconhecido o seu trabalho.
Você é um dos melhores!
Parabens
Talentoso e Estimado Amigo António:
De Madrid, Espanha, para si.
Afinal, a Arte tem um poder fabuloso de simpatia e amabilidade.
Conservo em mim, um poderoso sentimento de beleza e encanto pela sua Arte. Deslumbra, arrebata, conquista.
É um prodigioso talento, acredite?
Abraço forte de estima e consideração.
Respeitosamente
pena
O seu comentário lindo no meu "cantinho" deixou-me atrapalhado. OBRIGADO!
Sempre a lê-lo com emoção e delícia.
A sua obra é de maravilhar. É de fascinar.
OBRIGADO!
Jorge Lemos:
Sinto-me honrado com a sua pendular visita e os seus comentários. Acerta naquilo que os artistas gostam... e por isso lhe agradeço, agora, penhoradamente. Duvido que queira, ou sequer ter a capacidade para agradecer as homenagens que me irão fazer, a título póstumo...
Abraço.
António
Amigo Pena:
Ainda bem que ficou atrapalhado, e não zangado! Depois de colocar a minha mensagem, fiquei com receio que não achasse graça, à minha sugestão para se mascarar. Mas aqui, como na vida a pedra ou a flor que lançamos já não pode ser recuperada...
O seu sentido de humor tem a medida da sua grandeza.
Um abraço.
António
jajajajajaaja! X D! pues anda, dilo Anotnio , dilo!
ya vez? tienes gracia!
repito
TE QUIERO MUCHOOO AMIGOOOO!
She: Já disse: o segredo mais bem guardado, é aquele que está em plena luz...
Beijo luminoso.
António
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