terça-feira, 29 de janeiro de 2008
SÉRIE ÓPERA E BAILADO
Bailado "O Quebra-nozes" (Nutcracker ).
Acrílico sobre tela 70x100cm
“Festa da alta burguesia, na qual a pequena Clara, irmã de Fritz, filhos do casal Sthalbaum, recebe do padrinho, Herr Drosselmeyer, um quebra-nozes com a forma de boneco. Durante a festa, o padrinho entretém com mágicas e danças. Terminada a festa, enquanto todos dormiam, Clara volta à sala, junto à árvore de Natal, para ver o seu presente. Ela adormece e sonha que um exército de ratos está invadindo a sala. O Quebra-nozes ataca os ratos, comandando um exército de soldadinhos de chumbo”.
Estas palavras que resumem a história deste bailado, baseado no conto “The Nutcracker and the King of Mice” escrito por E.T.A. Hoffman, com música de Tchaikovsky, estão escritas à volta da tela...
De acordo com o espírito do conto e das encenações clássicas do bailado, utilizei cores puras, de que me servi para sugerir as diversas figuras que povoam a história.
Este é sem dúvida o bailado que mais me comove, ainda hoje. Está ligado ao culminar de alguns anos de esforços, para não faltar às aulas de ballet. Há 25 anos estava sentado na 1.ª fila do teatro onde ia ter lugar uma apresentação única e inesquecível: as minhas filhas Dulce e Elsa, iam dançar o Quebra-nozes, o bailado que pela sua estética, concepção e história, se tornou um clássico tradicional da época natalícia.
Não sei se dançaram bem ou mal: uma névoa toldava-me os olhos e não me deixava ver com nitidez o que se passava no palco. Lembro-me de estar a rir às gargalhadas, porque a mais pequena, de vez em quando, começava os seus passos ligeiramente atrasada, interessadíssima que estava em qualquer pormenor do seu lindo vestido, ou a ver o que se passava nos bastidores...
Espero que gostem!
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
HARÉM
Harém Óleo sobre tela 70x80cm
Hoje quero apresentar-lhes, Rocky, um macho adulto da raça Rottweiler, e as suas companheiras Bianca e Chippie, da raça Husky siberiana. Rocky é, como os seus antepassados oriundo da região de Rottweil, na Alemanha, um defensor dos seus amos e das suas propriedades, com grande disponibilidade para a brincadeira e o trabalho. As suas companheiras, são completamente diferentes no seu comportamento: Bianca, de frente para a câmara, é uma fêmea chefe de matilha, que se lhe derem uma oportunidade, desaparece, levando consigo, Chippie, que segue fielmente a sua líder.
Para esta composição, foram tiradas algumas dezenas de fotos, com os cães isolados ou interagindo. No conjunto, parece-me estar retratada a personalidade de cada um dos animais: Rocky, macho dominante, a vigiar as companheiras, Bianca, chefe de matilha, a olhar desafiadora para a câmara e Chippie, a doce...
Feitas as apresentações, quero chamar a atenção para um pormenor que penso fazer toda a diferença. A tela, apesar de bastante povoada, dá a sensação de espaço, essencial para que os elementos que interessam, os cães, respirem livremente. A grande mancha verde da relva na parte inferior do quadro, foi para o observador ficar com essa impressão. Sobre as cores e contrastes, julgo que já sabem tanto como eu...
Costuma dizer-se que os cães são o reflexo dos seu donos. Estou inteiramente de acordo, mas sobre esse assunto falarei num momento mais oportuno.
Será daqui a alguns meses...
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Lírios de Van Gogh, 1889, pormenor
Óleo sobre tela, 71x93cm
História de uma paixão
Em fins de Abril de 1997, recebi em minha casa um convite, acompanhado de um desdobrável com fotografias de artistas como Françoise Sagan, Frank Sinatra, Sofia Loren, Roger Moore, Arnold Schwartzenegger, em frente de reproduções de grandes obras, dos maiores mestres da pintura, para assistir á inauguração da exposição do Museu Imaginário, num hotel de Lisboa.
O convite
No dia 5 de Maio de 1997, às 19:30, estava a aproximar-me da sala onde se realizava o cocktail de apresentação e, de repente, o meu cérebro, por muito que eu teimasse, recusava-se a apreender o que os meus olhos viam: Os Lírios de Van Gogh, estavam à minha frente, ao alcance de um abraço. Caí em mim: era “apenas” uma reprodução, feita por um mestre de pintura, com as tintas de que os pintores dispunham na época... Lá atrás, estava o certificado de “Falsi D´Autore”, para tirar qualquer dúvida...
Na sala, falsificações verdadeiras de Modigliani, Cézanne, Gauguin, Renoir, Corot, Manet... e de alguns pintores portugueses como Malhoa, João Vaz ou Columbano. Um verdadeiro festim...
Frente
Verso
Na altura, apesar da minha pouca experiência, como pintor, já notava umas “pequenas” diferenças... mas a concentração em tão pequeno espaço de tantas obras-primas, era suficiente para manter a euforia que sentira, ao entrar na sala dos sonhos.
Imaginem agora, o que senti quando visitei o Museu Thysen-Bornemisa em Madrid, por ocasião duma exposição temporária de impressionistas, post-impressionistas e expressionistas... em que pontificavam não sei quantos Van Gogh, a sério!
Lírios de António Tapadinhas, pormenor
Óleo sobre tela 71x93cm
Nesta minha reprodução dos Lírios, só tenho a fotografia que vos mostro, em que faltam 5 a 10cm, da parte inferior da tela. É algo que eu não posso corrigir, porque não sei quem me comprou este quadro... Não tenho registo de muitas obras dos meus primeiros tempos de pintor.
Já aconteceu, que um cidadão espanhol que me comprou meia dúzia de telas numa exposição, enquanto esperava pelo táxi no aeroporto de Barcelona, distraiu-se, e algum apreciador do alheio, roubou-lhe o embrulho que continha os quadros. Não sei se o ladrão era apreciador de arte... O mais certo, é que nalguma obscura galeria de Barcelona (atenção Jorge), estejam para venda umas paisagens da cidade de Barreiro, com a assinatura de um pintor português, conhecido na sua rua - A. Tapadinhas.
Regressando à reprodução.
As minhas cores estão mais vivas, porque sei que há cores que vão perdendo intensidade com o decorrer do tempo. Para apreciar a diferença, é ver a comparação das cores actuais, depois da sua restauração, dos frescos de Miguel Angelo, na Capela Sistina. Quando lá estive, a restauração ainda não estava concluída mas já dava para ver que a intensidade das cores tinha alterações abissais.
Mais uma vez, notar que os azuis fortes, violáceos, têm como fundo os seus complementares amarelos e laranjas, e por baixo dos diversos verdes, espreitam os tons da terra avermelhada... As cores parecem nascer do interior das próprias flores... E aquele lírio branco... é obra divina!
Aqui para nós, já utilizei algumas vezes o lírio branco, pintado em tela ou papel, para oferecer em ocasiões especiais. Por enquanto, Van Gogh ainda não protestou... e as minhas amigas também não!
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
BIBLIOTECA
Biblioteca Acrílico sobre tela 50x60cm
Biblioteca
Desenho a tinta da china sobre papel Canson 21x29cm
A obra que apresento, foi feita a partir de um esboço que fiz para ilustrar uma crónica de jornal. O esboço pareceu-me demasiado abstracto para poder ser considerado uma ilustração e resolvi fazer este desenho puro e duro que foi publicado com a crónica.
Esboço com caneta Rotring isograph, sobre papel, 17x20cm
Depois da publicação da crónica e do desenho, fiquei com um esboço a tinta da china de que eu gostava tanto que considerei a hipótese de o explorar noutras dimensões e com a adição de cor.
Esta obra foi de execução aparentemente fácil. Todo o trabalho de luz e sombras estava definido no esboço. Os elementos concretos de que me ia servir para introduzir o observador na biblioteca estavam lá: os arcos da estrutura do edifício, as portas, os corredores, as escadas com os seus corrimãos, as prateleiras com os livros... Torná-la confortável era a missão que a cor teria de cumprir. Nunca ficou claro no meu espírito se devia ou não povoar a biblioteca de leitores...
Cobri toda a tela com yellow ochre e burnt umber, definindo logo as zonas mais luminosas e as mais sombrias. Naples yellow e titanium white foram as duas cores que deram mais luz a zonas pouco iluminadas ou que precisavam de contrastes mais fortes para dar vida ao conjunto. Com o burnt sienna dei o tom avermelhado quente para tornar a biblioteca confortável. A cor azul (cerulean blue hue) serve também para dar contraste ao tons quase monocromáticos utilizados, mas sobretudo para abrir janelas, por onde a luz do sol entra e se vê o céu. Indispensável numa biblioteca.
BIBLIOTECA, O PAÍS DAS MARAVILHAS
Sinto saudades, absurdas saudades, dos momentos angustiantes que antecediam a minha entrada na biblioteca.
Actualmente, entra-se e pronto.
Dantes, não era certo o direito de admissão, mesmo cumprindo todas as regras. A porteira, com os bigodes iguais aos dos actuais porteiros das discotecas, tinha o direito divino de inventar uma regra para só deixar entrar quem lhe apetecesse. Mas atenção: nunca houve tiros para forçar a porta. A nossa imaginação só chegava ao lançamento duma garrafinha de mau-cheiro, por alturas do Carnaval.
A cerimónia de recepção, era tão complicada, como o ritual de acasalamento dos papagaios. Depois de depositar o BI nas garras da seresma, ela olhava para mim, cheirava-me, via a sola dos meus sapatos, examinava as minhas mãos e unhas com o ar de um sargento de artilharia, a revistar soldados.
Nesses infindáveis momentos, nem conseguia respirar o prazer de ter pulmões. Fazia o meu sorriso mais cativante mas só com muito custo conseguia evitar que raios paralisantes saíssem dos meus olhos, directos ao coração da megera.
Um último olhar para examinar os cabelos e levantava um braço, que tinha na ponta a mão, mas donde eu via sair um martelo que me atingia a cabeça. Algumas vezes, que maravilha, tinha uma senha azul e um dedo que me apontava o cimo das escadas.
Já sabia todos os truques para aumentar as hipóteses de subir ao paraíso: para eliminar cheiros suspeitos, tinha nos bolsos bolas de naftalina, misturadas com os bugalhos e abafadores, molhava os cabelos para baixar os remoinhos, calçava botas cuidadosamente ensebadas para não rangerem, com solas de borracha para não fazer barulho.
Apesar de tudo não era certa a entrada. O Zé Mocho ficou uma vez à porta porque tinha o risco do lado errado da cabeça.
Era preciso subir o primeiro lanço de escadas com muita calma: correr, era proibido!
Chegava a uma porta envidraçada. Esperava, sem sinais exteriores de impaciência. Bater, nunca! Quando a cabeça da senhora, com o nariz pousado numa montanha de papéis, se levantava para olhar o verme que se atrevia a incomodá-la, eu levantava, lentamente, a mão para lhe mostrar a senha.
A senhora recebia o passe e ciciava: “Sssegue-me, sssem barulho.”
Em bicos de pés, num ballet estranho, tic, tic, tic, chego a uma mesa comprida cheia de pessoas mergulhadas nas ondas de perfumes de tintas e bolores, drogas alucinógenas, cujo perigo ainda não tinha sido detectado pelos guardiões do regime. Sento-me numa cadeira vaga. Preencho a ficha com o pedido do livro a que tenho direito: a senha azul limitava o acesso a obras indicadas para meninos até aos catorze anos e para meninas até aos dezoito anos. Nunca percebi porquê. Passados uns eternos instantes, a bibliotecária deixa o livro requisitado na minha frente.
A partir desse momento esqueço a humidade desta sala bafienta, mal iluminada, ou os cadáveres sentados em cadeiras, a voltarem folhas de papel cheias de carunchos esfomeados, crac, crac, crac…
Lá fora podia subir ao sol, beijar as nuvens, falar com os pardais, afagar ou chutar uma bola… Tudo passava para segundo plano.
Com a ajuda do meu amigo, il Signor Emílio Salgari, vou derrotar todos os piratas, vou descer ao fundo dos oceanos com Monsieur Júlio Verne, com Mister Mark Twain vou ganhar amigos para sempre, ou vingar-me de todas as traições com Monsieur Alexandre Dumas.
Foi numa destas salas que Einstein formulou a teoria da relatividade. Assim também eu: lá dentro o tempo voa!
É sempre com um sobressalto que oiço ao meu ouvido:
- “Faltam dezzz minutossss”.
Agora, que tinha descoberto a palavra mágica para entrar na caverna do tesouro…
Nas bibliotecas actuais sinto a falta do barulho do caruncho, acho estranho estar a ver o sol a entrar pelas grandes janelas, enquanto, conduzido por Mary Shelley, entro num castelo sombrio, com perigosos vampiros sedentos de sangue, à espera da chegada da noite para beberem tudo.
Acho excessiva a familiaridade, com que posso ir buscar à prateleira, sem uma requisição em papel selado, Saramago
- Com que então, um Nobel, pá?
digo, dando-lhe uma palmada na lombada, ou Camões
- Tás bom, ó zarolho?
para não falar do disparate que é, deixarem qualquer pessoa sair pela porta fora com o Lobo Antunes na mão. Coitado, nem nas prateleiras o deixam sossegado.
Melhor, melhor mesmo é o sorriso simpático com que sou recebido na biblioteca. Mas, mesmo assim, não sei…É demasiado fácil. Acho que falta a incerteza, a angústia de poder, ou não, entrar. Ninguém me pede uma senha!
Serei masoquista?
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
FERNANDO PESSOA
Retrato de Fernando Pessoa, 1954
Pintado por Almada Negreiros, Óleo sobre tela (201x201)
Almada Negreiros quis homenagear o seu amigo com esta obra magnífica. Toda a cintilante luz que percorre o café, e faz vibrar os soberbos vermelhos que envolvem o poeta, criam um contraste com a sua indumentária negra, que permanece impassível, concentrado na busca que marcou a literatura portuguesa e a mítica Geração do Orpheu.
Por diversas vezes tenho visto blogues portugueses e estrangeiros com poemas ou citações de Fernando Pessoa, que mostram a sua universalidade. Nessas alturas lembrava o desenho, que fiz para ilustrar uma crónica de jornal:
Fernando Pessoa
Tinta da china sobre cartolina rosa, 27,5 x 27,5 Pormenor
(O meu scanner não tem largura suficiente para apanhar todo o desenho).
A minha crónica dizia:
NA MESA DO CANTO
Os cafés são recintos onde só com muita dificuldade, actualmente, duas pessoas podem conversar naturalmente, devido à poluição sonora. Em compensação, tornou-se um local privilegiado para se saber as últimas novidades da vizinhança e os palpitantes desenvolvimentos das telenovelas da vida real.
Aquele que eu frequento mais assiduamente, fica em frente a um notário e perto do quartel dos bombeiros. É lá que tomo o café adoçado com meio pacote de açúcar e mexido com uma colherada das notícias do dia.
Na maior parte dos casos a reportagem é feita pela Dona Rosa, uma senhora de meia idade, de carnes generosas e voz de soprano a frequentar as primeiras lições de canto. Entra sempre cansadíssima, porque as suas mãos transportam vinte ou trinta sacos da Cooperativa “A Vontade do Povo”, do Intermarché, do Continente, da Feira-Nova, num “frou-frou” de plásticos, mistura de proletários e capitalistas, de couves e brócolos, onde convivem carapaus e petingas, com iscas e couratos.
Não sei como é possível uma simples dona de casa do terceiro esquerdo do Bairro da Caixa, ter tantos e incríveis acontecimentos para contar a toda a gente. A televisão sempre a vomitar colcheias, daquele incrível canal que tem a mesma música durante vinte e quatro horas por dia, serve apenas para sublinhar com uma banda sonora, as aventuras e desventuras dos seus personagens, num aumento de decibéis, à medida que as histórias se desenvolvem, entrelaçadas como pétalas de rosa.
Entre os frequentadores do café contam-se um avô e seu neto, Carlitos. O seu relacionamento, pode considerar-se perfeito. Tudo o que vai para a mesa é sistematicamente recusado pelo miúdo, sem razão aparente. Tudo o que a criança escolhe é recusado pelo avô: por ter creme a mais “ficas todo sujo”, ou demasiado gás “faz doer a barriga”, ser muito doce “faz mal aos dentes”, ou ter muito sal “faz muita sede”. Como se constata, por muitas e boas razões, todas ultrapassadas com facilidade, quando o petiz se lança para o chão aos gritos, numa simulação oscarizável de um ataque epiléptico. Claro que a partir desse momento, pode comer o quiser.
Segue-se a invasão dos bombeiros que saem do seu turno. Chegam em grupos de três ou quatro envergando a farda de trabalho, o fato de macaco e pedem invariavelmente sandes e cervejas. Falam só por monossílabos, cansados e, talvez, ainda impressionados com a dureza das nobres missões cumpridas durante a noite.
Segue-se um espectáculo de som e cor: o café transforma-se num estuário onde o azul, profundo como o mar da ganga viril dos bombeiros, é invadido pelo verde das fardas de terilene das técnicas de limpeza e conservação de espaços urbanos (como diria a D. Rosa, mulheres do lixo) que, como um bando de gralhas fugidas do jardim, pousam entre as mesas, grasnando entre si, novidades para todos os presentes.
Um pouco mais tarde, começam a juntar-se os herdeiros. Reconhecem-se com facilidade: vestem de preto, têm os olhos vermelhos e embora sejam todos familiares, dividem-se em grupos, crocitando entre si, como abutres a disputar bocados de carniça.
Saio rapidamente, enquanto o bando se reúne na árvore a espiar a abertura da porta do cartório, esticando os pescoços como as mãos de arrumadores de automóveis na caça de moedas.
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
CONVENTO DE JESUS - SETÚBAL
Convento de Jesus - Setúbal Óleo sobre tela (60X100)
Fui contactado por um amigo para me encontrar com um casal que me queria fazer um pedido para a execução dum trabalho. No encontro que tivemos, fiquei a conhecer o jovem e simpático par e o que pretendiam. Moravam na cidade de Setúbal, em frente do Convento de Jesus, um dos marcos do estilo manuelino, datado de 1490. Queriam ter uma tela com o monumento que fazia parte das suas vidas. Concordei quase de imediato, com a condição de colaborarem na sua execução, como modelos.
Já devem ter visto nas séries policiais, que os fotógrafos ao registar um indício encontrado no local do crime, colocam ao seu lado uma régua e, na sua falta, um objecto com uma dimensão perfeitamente definida, normalmente uma moeda, para se ficar com a noção exacta do tamanho da prova. Da mesma forma, os pintores quando consideram importante realçar a imponência do motivo, servem-se de alguns truques que os ajudam a conseguir esse objectivo.
No dia e hora combinados, montei o cavalete em frente da porta do convento e esperei pela chegada dos modelos. Tinha pedido ao elemento feminino que vestisse uma blusa vermelha, com saia ou calças escuras, e para o elemento masculino uma camisa clara e blue jeans. Cuidei desse pormenor (?) da cor das roupas para dar os contrastes, às grandes extensões quase monocromáticas do largo. Todas as figuras estrategicamente colocadas em diversos planos são os actuais donos da obra, que se prestaram, com muita paciência, a percorrer diversas vezes o espaço entre mim e o convento. O lindíssimo cruzeiro que se vê no lado esquerdo da tela, foi executado em mármore vermelho da serra da Arrábida, por ordem de D. Jorge de Lencastre. Para além da sua beleza é um elemento essencial para forçar o olhar do espectador, a voltar ao lado esquerdo da tela que é um local observado com apenas um relance de olhos, na apreciação duma pintura. Utilizei o método pontilhista, com bastante matéria, para sugerir as protuberâncias e reentrâncias que a provecta idade do monumento, aliada à maciez do mármore, propiciam, num interessante jogo de luz e sombras.
Normalmente não coloco nenhuma figura no centro e nunca tão frontal para o observador. É contra as regras. As regras são feitas para ser quebradas – é uma regra! Neste caso, foi plenamente justificado pela alegria com que se reconheceram e são reconhecidos pelos amigos a passear num sítio tão emblemático.
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
MERCADO DE PINHAL NOVO
Mercado Óleo sobre tela (50x40)
O mercado que se realiza no segundo domingo de cada mês no Pinhal Novo, depois da construção da estação de caminho de ferro, tornou-se um dos maiores do país, um autêntico hipermercado ao ar livre, onde a população de toda a região compra e vende de tudo um pouco.
A partir duma fotografia histórica, datada de 1908, que mostra a zona fronteira à capela e a importância que já tinha nessa altura o mercado, fiz uma tela de grandes dimensões que se encontra na sede da Junta de Freguesia de Pinhal Novo.
Foi neste local que foi captada a imagem que serviu para a execução desta obra. Para não ferir susceptibilidades, ou levantar suspeitas sobre as minhas intenções, levei comigo o meu irmão que se colocava em locais estratégicos para eu fotografar aquilo que realmente me interessava. Os ciganos não sei porquê, não gostam muito de ser fotografados ou, ainda menos, que tirem fotografias às suas companheiras...
Esta tela, cujo tema e resultado são aparentemente tão diferentes de “Discoteca” , foi na sua execução, muito semelhante.
A pintura base aplicada é o cadmium yellow, para todas as cores terem o brilho do sol e a tela respirar Verão por todos os poros. Não precisava de roxos, por isso o laranja como base não foi necessário.
O céu, o sol, a saia da vendedora, os eucaliptos, garantiram-me os necessários contrastes com as cores primárias e complementares, para a cena ter a vivacidade electrizante que o local transmite ao mais indiferente.
Espero que o cheiro dos animais, das bifanas e dos couratos, misturados com a poeira que paira no ar, não afaste os menos sensíveis a estes prazeres típicos da região caramela.
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
DANÇA DO AMOR
Discoteca Acrílico sobre tela (33X41)
Bom Ano Novo!
Estive a procurar no meu arquivo uma tela para ilustrar as palavras que queria escrever, neste primeiro dia de 2008. Escolhi esta... Assinala momentos de descontracção, do prazer de dançar, de ouvir música, de convívio...
A cor base com que cobri a tela foi uma mistura de amarelo com laranja, com o objectivo de salientar as suas complementares, o roxo e o azul, que iria utilizar nas sombras. Os verdes e vermelhos criam os contrastes agressivos que pretendia para o ambiente. A cor base, que fica a respirar por toda a tela, julgo que harmoniza o conjunto, dando o toque final de suavidade, como se o amor pairasse no ar...
Espero que os meus amigos também sintam o seu perfume!
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