segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ALCOCHETE (CONCLUSÃO)


Cais de Alcochete Acrílico sobre Tela 50x60cm

Na parte final do trabalho, procurei dar o máximo de luminosidade ao céu para que o rio reflectisse e ampliasse a sua luz.
A ligeira brisa matinal a afagar a superfície da água, quebra os reflexos dos barcos e do molhe, provocando chispas de luz, como que a responder num eco à luz nascente.
A sombra dos barcos é viva e canta, com sons estridentes e vibrantes, como no caso do barco com o casco encarnado…
É uma obra que retrata um local, definido, concreto… Mas pretendo que, mais do que o local, seja a imagem da impressão de paz que senti, com o sol nascente, naquela manhã.
É esta a sensação que quero partilhar convosco!

sábado, 28 de novembro de 2009

ALCOCHETE (II)


Cais de Alcochete Acrílico sobre Tela 50x60cm

Quero jurar aos meus amigos que tanto gostaram das cores de base, que elas vão continuar a respirar na tela, embora não seja assim tão evidente na sua fotografia.
Já acrescentei os barcos que estavam fora do campo de visão, e que eram necessários para o equilíbrio da composição.
Deixei colada a pequena foto para ficarem com uma ideia do local e da minha interpretação dos sentimentos que ele me despertou.
Faltam os retoques finais.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

ALCOCHETE


Apeteceu-me escrever no título “Alcochete, sem Freeport”, tantos são os artigos que, nos últimos anos proliferaram nos media portugueses, por causa dessa catedral de consumo. Mas achei por bem não dar para esse peditório.
Alcochete é uma das mais belas vilas da margem esquerda do Tejo.
Deve ser o único ponto em que há consenso! Existem divergências quanto à data e por quem foi criada a povoação, e ao significado do vocábulo. Para mim, porque é a que mais gosto, deriva de “alca xête”, um campo deserto onde pastam ovelhas…





Cais de Alcochete Acrílico sobre Tela 50x60cm
(clic sobre a imagem)

Não ficava bem comigo próprio se não incluísse na minha exposição “Tejo Cintilante”, uma referência a esta terra situada na Reserva Natural do Estuário do Tejo.
Aproveitei os bons resultados conseguidos com o anoitecer e o amanhecer na zona do Barreiro, e resolvi aplicar a mesma receita para este “Cais de Alcochete”.
Esperei por uma baixa-mar que coincidisse com o nascer do sol, para tirar as minhas notas, sobre a maneira como a luz brinca sobre as águas e os fundos lodosos do rio.
No conforto do estúdio, ajudado pelas fotos tiradas no local, defini a linha do horizonte, desenhei cuidadosamente o cais e povoei o rio com os barcos de maneira a dar profundidade à paisagem.
Gosto da simetria criada no canto superior esquerdo e inferior direito, que sugere um caminho para guiar o olhar do espectador. Em contrapartida, sinto que é necessário criar um motivo de interesse na parte esquerda média da tela, para valorizar a composição…
Vou parar por agora.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

CRITICO, LOGO EXISTO


Olival Óleo sobre Tela 30x40cm

Na pintura, o artista procura transmitir mensagens e emoções, tanto mais eficientes quanto menos utilizar a muleta da escrita ou da fala, para a sua interpretação. De tal maneira, que para apreciar a qualidade do pintor, deveria ser suficiente analisar a sua obra. O que é uma tarefa impossível - só o tempo dá a exacta medida do seu real valor. Por agora, tudo é considerado Arte - um imenso saco onde convivem ovas de carapau com caviar, lixo com obras-primas, dependendo de lóbis, partidos, camas, tachos… E não são os críticos que nos podem ajudar: o fantasma de Nadar paira sobre eles. Em 1874, o fotógrafo Nadar acolheu no seu estúdio uns quadros que pareciam inacabados, pintados ao ar livre, com pinceladas rápidas e nervosas, plenas de matéria e de cores puras, fortes e contrastantes. Estas pinturas eram sistematicamente recusadas pelos académicos que seleccionavam as obras que tinham qualidade para figurar no Salon, a grande mostra que se realizava de dois em dois anos, em Paris. Na primeira exposição das obras recusadas, um jovem pintor, Monet, apresentou uma cena marinha a que chamou “Impressão - Sol nascente”. Um crítico conceituado (Louis Leroy) considerou um papel de parede mais elaborado do que aquela obra, num cáustico e corrosivo artigo intitulado: “A Exposição dos Impressionistas”. Ironicamente, esta expressão depreciativa começou a ser utilizada para definir o género de pintura que se transformou numa das mais valiosas da actualidade. No top das obras vendidas estão alguns desses artistas recusados do Salon e, entre elas, destacam-se “Retrato do Dr. Gachet e “Auto retrato sem barba”, de Van Gogh que em toda a sua vida vendeu apenas um quadro. Foi sustentado pelo seu irmão Theo que encheu a casa de obras que não conseguia vender.
Sempre me fascinou o trabalho de Van Gogh. Depois de ler as suas cartas, com a descrição dos seus mais profundos sentimentos, para além de me fascinar, comove-me…
Esta obra é a minha homenagem a Van Gogh, do qual digo, como diria Óscar Wilde:
Não tenho nada a declarar a não ser a sua genialidade!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O PÊNDULO


O Pêndulo e o Canário Óleo sobre Tela 29x35cm
(clic sobre a imagem para ver em pormenor)

Em mecânica, o pêndulo é um objecto que oscila em torno de um ponto fixo. A descoberta da periodicidade do movimento foi feita por Galileu Galilei, esse, o tal da frase “Epur si mueve!”, para se salvar da Inquisição.
Em, “O Pêndulo de Foucault”, de Umberto Eco, são as sociedades secretas que desenvolvem tramas para governar a humanidade, com referências à Kabbalah e a teorias conspiratórias.
“Estava exausto, mortalmente exausto com aquela longa agonia e, quando por fim me desamarraram e pude sentar-me, senti que perdia os sentidos. A sentença – a terrível sentença de morte – foi a última frase que chegou, claramente, aos meus ouvidos. Depois, o som das vozes dos inquisidores pareceu apagar-se naquele zumbido indefinido de sonho. O ruído despertava em minha alma a ideia de rotação, talvez devido à sua associação, em minha mente, com o ruído característico de uma roda de moinho. Mas isso durou pouco, pois, logo depois, nada mais ouvi.”
Este é um extracto do conto “O poço e o pêndulo”, de Edgar Allan Pöe, em que nos vemos dentro da mente de um homem, do qual nada sabemos, com uma excepção: dentro de momentos será condenado pela Santa (não é ironia) Inquisição, por actos de bruxaria.
Em todos estes casos (poderia citar mais) o pêndulo é o detonador de algo de trágico que irá acontecer, tão previsível como o seu movimento oscilatório.
Terá o pobre canário consciência do que lhe vai acontecer? Salvar-se-á?
E nós?

domingo, 8 de novembro de 2009

A VESPA


A Vespa, a Taça e os Pregos Óleo sobre tela 35x27cm
(clic sobre a imagem para ver em pormenor)

Pronto! Já tenho um computador que, por enquanto, não é o meu. O seu coração (o disco) estragou-se. Não sei onde este guarda os seus segredos, onde esconde algumas das imagens que foram recuperadas, os endereços dos amigos… Vai ser um relacionamento difícil, até nos conhecermos! Ela (a máquina) e eu vamos ter de mudar alguns dos nossos hábitos. A vida é feita de mudança e qualquer relacionamento, para resultar, é mais feito de cedências do que de vitórias…
Aí está o segundo quadro da prometida série de três. Todos os elementos essenciais para manter o referido desassossego paranóico-crítico de Dali, lá continuam,agora reforçado pela ameaça latente protagonizada pela vespa.
Pedi inspiração a António Aleixo para concluir:

Uma vespa sem pudor
Pica com a mesma energia
Na cabeça de um doutor
Ou na bunda da Maria.