segunda-feira, 29 de outubro de 2007

SÉRIE - AS CIDADES DAS EMOÇÕES

Igreja de S. Miguel, Alfama, Lisboa - óleo sobre tela (80x60)



A Cidade do Sol - Acrílico sobre tela (4 telas de 35x40)

O olho humano distingue uma grande variedade de cores e tons , sem limites definidos. Este espectro visível abrange uma certa gama de frequências que correspondem a seis cores: vermelho, laranja, amarelo - cores quentes e verde, azul e violeta – cores frias.
Gostei tanto do resultado da inspiração momentânea que me levou a executar o políptico “A Cidade dos Sonhos”, utilizando a gama de cores frias, que parti para a “Cidade do Sol” com a ideia precisa do que pretendia. Em quatro telas com as mesmas dimensões (35x40 cm) esgotar a minha paleta de cores quentes na transmissão da sensação do sol a aquecer o ar, as casas, a alma da gente da minha Lisboa. Com uma condição: deixar a gama de frequências mais elevadas para a obra que ficaria a seu lado - Igreja de S. Miguel, em Alfama, Lisboa.
Parece-me ter atingido o objectivo pretendido: fazer sentir que, com a mesma gama de cores, se podem obter contrastes e sensações diferentes, naturalmente potenciadas pelas evidentes diferenças de estilo.

sábado, 27 de outubro de 2007

SÉRIE - AS CIDADES DAS EMOÇÕES

Lisboa - Elevador de Santa Justa - óleo sobre tela (80x100)


Lisboa - Elevador de Santa Justa - Óleo sobre tela (80x100)
A LUZ DE LISBOA
Estas duas telas estavam juntas na exposição referida. Tinham em comum as cores utilizadas e um elemento colocado na Secção de Ouro, ou Divina Proporção, como lhe chamou mais tarde Leonardo da Vinci no seu Tratado da Pintura – o elevador de Santa Justa.
Uma obra procura transmitir a sensação das cores quentes e da luz estonteante nos telhados de Lisboa. A outra, apelando mais à imaginação do observador, tem a construção cubista/cézanniana do mundo.
O movimento cubista, iniciado por Braque e Picasso, divide-se normalmente em três fases. A primeira, Cézannianna, dizia que tudo se pode reduzir a cones, cilindros e esferas. A segunda, Analítica, em que as obras são trabalhadas numa cor base, e por fim a fase do Cubismo Sintético, que é a mais geometrizada e a mais abstracta de todas. Todos os pintores de qualquer destas fases tinham em comum a admiração, a veneração por Cézanne e a sua visão construtiva do mundo.
Eu também!

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

SÉRIE - AS CIDADES DAS EMOÇÕES

Sé de Lisboa - óleo sobre tela (90x100)
A IMPORTÂNCIA DA EMOÇÃO

Conforme disse na apresentação desta série, coloquei lado a lado, quadros com estilos diferentes, para incentivar a reflexão sobre um tema quente, sempre actual, da Arte contemporânea.
Era esta obra que estava ao lado da “Cidade dos sonhos”. As cores que utilizei para o “sonho”, foram transpostas para esta visão de Lisboa.
No comentário sobre “Siderurgia”, mencionei a diferença entre a visão “objectiva” da máquina fotográfica e “subjectiva” do pintor. As aspas que então coloquei tinham um significado que merece ser esclarecido.
Nas exposições o criador é naturalmente procurado para explicar determinados pormenores das obras, ou para receber uma grande variedade de comentários ou elogios dos visitantes. Um dos mais comuns para uma obra deste género é: “Oh!, está tão realista! Parece uma fotografia”. Estas palavras ditas como um elogio, limitam-se a constatar a capacidade técnica, académica, do artista. No início das minhas apresentações em público, este “elogio” satisfazia o meu ego. Agora, prefiro ouvir um comentário sobre o ambiente, a sensação, a emoção que a obra causa. Quando ouço aquele elogio, apetece-me gritar:
- Por favor, emocione-se!

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

SÉRIE - AS CIDADES DAS EMOÇÕES

A CIDADE DOS SONHOS - óleo sobre tela (4 telas de 25x30)
O caminho faz-se caminhando.
Esta obra, pouco ambiciosa no princípio, começou a ganhar forma na minha imaginação, à medida que a executava. Tinha planeado nesta série fazer uma cidade de sonho, com as dimensões de 100x120 cm. Para transmitir a sensação de misticismo, pensei executar a obra com uma paleta de cores dominada pelas cores-pigmento terciárias. Abro um parêntesis para explicar aos meus amigos mais interessados o que é isto de cores terciárias.
Para os pintores o vermelho, o azul e o amarelo, são consideradas as cores primárias. Nenhuma combinação de outras cores pode reproduzir uma cor primária. No entanto, com estas três cores, mais o branco e o preto, podemos reproduzir todas as cores da natureza. A mistura por pares das cores primárias produz as cores secundárias. Misturando uma cor secundária com uma primária, obtemos uma cor terciária. Chegados aqui fecho parêntesis.
De entre as cores terciárias queria usar e abusar do violeta, combinando-o preferencialmente com carmim, azul ultramarino e verde esmeralda. Como esta era uma gama de cores que eu pouco usava cortei uma tela de 25x30cm, que era um quarto da dimensão que pretendia e lancei mãos à obra. Esta seria “um quarto de sonhos” :)
Adorei a tela acabada. Sabia que seria irrepetível o resultado. Tive uma daquelas ideias brilhantes que, de vez em quando, nos assaltam: continuar, sem deitar fora o trabalho já feito, com mais três telas, que completassem a dimensão que tinha planeado para a obra final.
Assim fiz... e o trabalho aí está para a vossa apreciação crítica.

domingo, 21 de outubro de 2007

CONVITE PARA UM CAFÉ

Convite para um café - óleo sobre tela (80x100)
CONVITE PARA UM CAFÉ
Esta tela está em Zambujeira do Mar, num monte alentejano que pertence a um grande amigo meu. Está lá, porque um grupo de nossos amigos convidados para o seu aniversário, soube do seu interesse por esta obra e, com muita pena minha em desfazer-me dela, foi a prenda de anos que lhe ofereceram.
De vez em quando, passo uns dias no monte para fazermos grandes (ás vezes pequenas, mas não é o mais importante) pescarias na foz do rio Mira, ou nas praias da costa alentejana. No monte, sento-me numa cadeira com fundo de palha, semelhante à que tenho na tela, frente a frente, separados por uma mesa. Porque aquele lugar na cadeira, não está vazio: Vincent Van Gogh está lá sentado. Eu vejo-o lá: os seus cabelos e barba vermelhos, o seu rosto anguloso com rugas bem vincadas e, sobretudo, os seus penetrantes olhos verdes a dizer-me ... não me atrevo a dizer o quê....
Lembrei-me de incluir este trabalho no blog por causa da senhora, a quem o nosso bom amigo Gorrion chamou de “princesa del Altillo”, me ter felicitado pela inclusão de “A casa amarela”, do grande mestre Van Gogh. Pensei comigo: afinal não sou só eu que o adoro. Esta obra foi feita em sua homenagem.
Obrigado a todos pelo calor das vossas palavras e faço-lhes um convite irrecusável:
Vamos beber um café com Vincent?

sábado, 20 de outubro de 2007

MARIONETAS



Marionetas - aguarela sobre papel (33x28)

MARIONETAS

Desculpem a má qualidade da fotografia mas é a única que tenho capaz de ilustrar a explicação que se segue. Sei quem me comprou esta obra, mas até tirar nova foto o comentário iria perder actualidade.
Devem ter notado que adicionei uma foto no meu perfil. Desde o princípio, era minha intenção fazê-lo mas por um motivo ou outro (aqui para nós, o principal é a minha falta de competência/má relação com o computador), o raio da foto nunca ia parar onde eu queria! Com a dica dum amigo, resolvi o problema. Já não me sinto como alguém que num baile de máscaras, quando toda a gente tirou a sua, teimosamente, mantém a caraça a ocultar-lhe o rosto.
Agora mostro a cara.... o meu coração estou a desvendá-lo desde o início.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

SÉRIE - AS CIDADES DAS EMOÇÕES


A cidade da noite - acrílico sobre tela (40x50)
A cidade da noite

Nesta obra, entre a concepção, o esboço inicial e o resultado final, qualquer semelhança é pura coincidência. Pensei dividir uma tela com duas cores de forte contraste – magenta e azul da Prússia. Depois da aplicação generosa com a espátula, planeei fazer cortes longos na vertical e curtos na horizontal de maneira a sugerir uma grande metrópole. No esboço em papel, aumentei, através da cor, a sensação que pretendia provocar.
Atirei-me decidido para tela. A espátula carregada de cor cobria a tela branca e a navalha abria as janelas de imediato para não deixar secar a tinta acrílica que, ao contrário do óleo, seca rapidamente. No momento certo (?) parei para ver o progresso da obra e planear os passos seguintes. Recuei até à extremidade do meu estúdio para apreciar o trabalho produzido. Fiquei siderado – senti que a obra estava pronta. Quando me aproximei dela, foi para a assinar.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

SÉRIE ÓPERA E BAILADO


D. Quixote - óleo sobre tela (80x100)

Foi há quatrocentos e dois anos que saiu a primeira edição do livro El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de La Mancha – quatro séculos de influência na cultura do mundo moderno. Tanto tempo decorrido e continua a fazer falta o nosso herói : “Vou a castigar insolentes e a endireitar tortos”.
Com esta minha obra aconteceu um facto estranho.
No segundo dia da exposição, já perto da hora do fecho, passei pela galeria para saber das impressões do público. Qual não é o meu espanto quando vejo, no sítio onde devia estar a obra, um letreiro a dizer vendido. Tinha dado instruções para que todas as obras ficassem em exposição, e só no final deveriam ser entregues aos eventuais compradores. Perguntei à encarregada da galeria o que se tinha passado. “Muito simples – disse ela – uma senhora nova, muito bonita e elegante (não são todas?), tinha de apanhar o avião para Buenos Aires e queria levar o quadro. Depois de pensar o que devia fazer, disse que o entregava mas exigi que me pagasse em dinheiro. Ela disse que sim, foi ao Banco ali ao lado e deu-me o dinheiro todo. Saiu toda contente”.
Quem não ficou muito feliz com a história fui eu. Até hoje não sei onde para esta obra. Refiro o caso porque (quem sabe?) pode dar-se a coincidência do meu blog ser visitado pela pessoa que o comprou e contactar-me. Seria uma grande alegria reencontrá-lo.
Disse Woody Allen: “Por que Deus não fala comigo? Se Ele pelo menos tossisse”.
Quixotesco, não acham?

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Baixa-mar - Tinta da China sobre papel Kraft (100x100)
Esta peça ganhou a menção honrosa no "Prémio de Desenho Américo Marinho", da Câmara Municipal do Barreiro.
Siderurgia - Óleo sobre tela (73x92)

AS CIDADES DAS EMOÇÕES

AS CIDADES DAS EMOÇÕES

Na procura de temas para as minhas pinturas, a cidade mais próxima da minha casa é o Barreiro. É uma cidade de contrastes e por isso mesmo, muito interessante.
Foi o principal eixo da ligação Norte Sul, por causa do Caminho de Ferro e da travessia entre as duas margens do Tejo. Foi um importante centro corticeiro. A indústria química, cujo expoente máximo foi a CUF – Companhia União Fabril, onde chegaram a trabalhar mais de 8.000 operários, era a maior do País.
Em frente, separados pelas águas do Tejo, florescia a Siderurgia Nacional.
Qualquer destes pólos de desenvolvimento apresentados como um alicerce da economia, foi ultrapassado pela dinâmica do sistema, deixando feridas ambientais que só agora começam a ser tratadas.
Quando fui convidado pela câmara Municipal do Barreiro para fazer uma exposição, pensei apresentar o contraste entre a visão objectiva (?) da máquina fotográfica e a visão subjectiva (!) do pintor.

domingo, 14 de outubro de 2007

PÁSSARO AZUL

O pássaro azul - acrílico s/tela (60x30)

PÁSSARO AZUL

Pintor e o Pássaro Azul

Numa doce manhã
um suave regresso
qualquer coisa que há no ar, um passarinho azul
está pairando, esvoaçando
a cantarolar, dá uma volta
uma volta e meia
e quando volteia pousa no seu olhar
No coração que meigo e terno bate
está uma ideia
feita uma aguarela, amarela
que volteia na tela
e do meio do branco vazio
que era nada
um passarinho azul que sai
correndo através da manhã
Feito um pedacinho de lã
vai voando, cantarolando
da fantasia que foi um dia
da saudade de partir, do regresso
até que de novo encontra um papel
um outro olhar
uma ideia feita um arco íris
qualquer coisa que está no ar

P.S.: Este Pássaro azul, bem real, usufrui de uma constante capacidade de mutação. Primeiro pássaro verdadeiro, depois poema e música, um outro poema a seguir que o transforma na tela, e de novo bem real vem comer milhos à mão. Está inscrito num livro de contos, de seu nome "O Espírito dos Pássaros", que tem uns meses de acabado e, talvez, acabe publicado um destes dias, provavelmente, pela Editorial CÊAV. Aguardemos. Para já está disponível em word e será gentilmente cedido a quem por ele se interessar.
A pintura é do António Tapadinhas e o poema é do Luis Carlos dos Santos.



História do Pássaro Azul

Uma noite, depois da reunião do Conselho Editorial do jornal “O Rio”, estava em amena cavaqueira com o meu amigo Luís Santos, quando fomos surpreendidos pelo bater de asas de uma ave que tentava desviar-se do candeeiro que iluminava a rua. Não conseguiu evitar o choque e a queda a nossos pés. Num movimento instintivo apanhei-a do chão e como recompensa levei uma forte bicada no dedo. Apesar da dor não larguei a ave que Luís disse ser uma caturra. Confessei-lhe a minha surpresa porque, uns dias antes, eu tinha apanhado um periquito azul, que parecia estar à minha espera na rua. Dois casos com duas aves exóticas que estão agora na minha casa (A propósito, a caturra imita o meu assobio na perfeição: já sabe “a raspa”, as cinco estrofes da “5ª. Sinfonia de Beethoven”, “parabéns a você”, o hino nacional, o hino do Benfica, “jingle bells”).
Luís achou estranha a coincidência porque também ele tinha uma história recente com um pássaro azul que o tinha inspirado para um poema. Disse-lhe que gostava de lê-lo e no dia seguinte recebi no meu correio o belo poema “O pintor e o pássaro azul” do meu amigo Luís Carlos Santos. Do poema recolhi a inspiração para a tela que chamei “Pássaro Azul”. A história que a obra pretende contar é propositadamente dúbia: a criança está a chamar ou fazer adeus à ave que acabou de libertar?

sábado, 13 de outubro de 2007

Sagração da Primavera - acrílico sobre tela (60x100)
A execução desta tela, foi o oposto do que aconteceu com "Rhapsody in blue". O que a outra teve de instintivo, teve esta de intelectual. Fiz uma série de esboços, experimentei toda a minha paleta, fiz transparências, empastes... Nada me satisfazia. Parecia estar num beco sem saída. A dada altura, quase a desistir, porque não encontrava "a" solução, inconscientemente ia garatujando no papel figuras estilizadas de bailarinos. Quando olhei para a folha e vi o que tinha desenhado, fez-se a luz... A partir daí foi fácil.
Stravinsky disse sobre a sua obra: "Sonhei com um grande ritual pagão! Tive uma soberba visão repleta dos mais inutisados efeitos sonoros"...
Acho que na apreciação da minha tela eu só substituia "sonoros" por visuais.

SÉRIE ÓPERA E BAILADO

“Sagração da Primavera", bailado em dois actos composto por Igor Stravinsky, é a obra que marca o início do modernismo na história da música. Para além do desafio às regras musicais o seu tema também foi controverso. É a história de uma virgem imolada como oferenda ao Deus da Primavera, num ritual exótico, primitivo e violento, com o objectivo de conquistar as suas boas graças para a tribo obter boas colheitas.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

RHAPSODY IN BLUE

Para simplificar a audição poderá ser feita no arquivo do blog http://clubedomaestro.blogspot.com . A data é sexta-feira, 1 de Junho de 2007 -Rhapsody in Blue de George Gershwin.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

SÉRIE ÓPERA E BAILADO

Rhapsody in Blue - Óleo sobre tela (80x100)


Esta obra foi inspirada na Ópera “Porgy and Bess” de George Gershwin.
Foi criada com o som no máximo, as latas e tubos de azul já abertos, prontos a usar, pincéis alinhados como batutas prontas a ferir o ar, as espátulas como as baquetas dos bombos para ritmar o concerto, a navalha a raspar a tinta, a rasgar a tela, como aquele clarinete que fere os ouvidos e rasga o coração...

Quem não conhece ou não se lembra desta obra, recomendo uma consulta ao blog http://clubedomaestro.blogspot.com/ e ouça a peça pt 1/2, Maestro Leonard Berstein.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

INADAPTADOS

Inadaptados - acrílico sobre tela, 100x100

Conforme previsto, fim-de-semana em Islantilla. Uma noite em Sevilha, para jantar no “Palácio Andaluz” e absorver a energia transmitida pelo flamenco – bailado e música. Mais uma vez, “nuestros hermanos” espanhóis, profissionais impecáveis no aproveitamento das condições com que foram brindados pela mãe natureza. Muito obrigado a todos pelos comentários agradáveis que tinha no meu blog e a que eu irei responder individualmente, à medida que for consultando os trabalhos dos meus amigos. A todos um abraço.
E agora, ao "trabalho":
Na apresentação da tela “A grande caminhada”, afirmei que, em princípio, seria um estudo para uma obra de maior fôlego para ser apresentada em concurso. Faltou mostrar o resultado do estudo. A obra foi aceite a concurso e dei-lhe o título "Inadaptados". Os comentários e comparações deixo convosco. Curiosamente, nestas duas obras, alguns críticos e outros observadores, viram nelas sequências de ADN.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

FIM-DE-SEMANA

Grand Hotel - Puerto Antilla, Islantilla - Espanha

Amanhã parto para Espanha, para um fim-de-semana alargado, aproveitando o feriado que comemora a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910. Foi nesta data que se deu a rendição do Governo às forças comandadas por Machado Santos e a deposição e exílio do último rei de Portugal, D. Manuel II.
Veremos que novas cores irão impressionar as minhas telas depois desta viagem.
Peço desculpa aos meus amigos de Portugal por este pedaço de história que obviamente se destina aos de outras nacionalidades.
Bom fim-de-semana a todos SEM DISTINÇÃO!

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

A GRANDE CAMINHADA


A grande caminhada (Estudo) - Acrílico s/tela (60x60)
Esta obra ganhou vida por ela própria. A ideia inicial era, numa tela já pintada com cores ocre, texturada, com incisões horizontais espaçadas e verticais mais próximas, pintar uma série de cores frias e quentes, no plano horizontal. Queria incutir no espectador uma sensação de grupos heterogéneos a caminhar, determinados, na obtenção de um objectivo misterioso. Este estudo serviria para preparar uma tela mais ambiciosa para uma bienal de prestígio - Prémio Vespeira. O problema foi que gostei tanto deste estudo que não me quis copiar. Na versão final, mais elaborada e de maiores dimensões, nem o título mantive. Esta tela continua comigo e não é mais um estudo - tem um lugar de destaque entre as obras que criei.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

BANHO DE LUZ

Banho de luz - acrílico s/tela (80x60)

O meu amigo Tino Cassi publicou um poema no seu blog, que parece feito à medida para esta tela.

ERA

era
una fusión
inconclusa
a media luz

la transparente intensidad
que aqui dejaste
olvidada

en siete lágrimas
cromáticas
deseando escapar de ti...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007


King - Tinta da China s/papel (29x21)

UM MUNDO DE CERTEZAS

UM MUNDO DE CERTEZAS

Acordei com o chilrear das diversas gerações de pardais que, sem minha licença, paulatinamente, ocuparam o sótão de minha casa.
A minha saída, só foi notada por King, o Serra da Estrela que, bem educado, me ladrou o seu bom-dia.
Dirigi-me ao quiosque, onde comprei o jornal.
Pouco depois, entrava no café.
Não foi preciso pedir nada. Passados alguns instantes, tinha na mesa o bule com o chá preto e a meia torrada de pão caseiro.
Todos estes movimentos complicados, foram feitos sem hesitações, com simplicidade, quase maquinalmente.
É tão cómodo ter certezas!
Aterroriza-me a possibilidade de ficar indeciso, perante qualquer situação imprevista. Tomar uma decisão, apavora-me. Perco o tempo, que não tenho, para fazer o que quero e para o qual o resto da minha vida não vai chegar. Ao ocupar o cérebro com a resolução de pequenos problemas, corre-se o risco de esquecer o que é fundamental.
Aquilo que alguns podem admirar como segurança de atitudes ou opiniões, não passa de uma defesa à minha recente incapacidade de tomar decisões. Para ser mais correcto, digamos que fiz uma troca - fico afectado na aptidão de decidir, logo aumento a minha gama de certezas. Até aí, para além da existência de Deus, só tinha uma certeza: o Benfica é o melhor do Mundo.
Quando me levanto da mesa, já tenho na mão o dinheiro certo. É um estratagema que evita ao dono do café o problema de fazer contas, de introduzir dois preços numa máquina de calcular protegida por um plástico, com teclas minúsculas como lentes de contacto, difíceis de premir uma de cada vez, pelos dedos de um adulto normal e ainda mais por qualquer das suas cinco salsichas alemãs, por muito que ele tente afiá-las, introduzindo-as em orifícios pequenos, como as fossas nasais ou os buraquinhos dos ouvidos.
No regresso, antecipo, com prazer, as manifestações de alegria na minha chegada a casa.
É bom ter a certeza do amor de alguém. Mas o melhor é gozar a demonstração desse sentimento, sempre que voltamos, passados cinco minutes, cinco horas, cinco dias... Sem queixas, porque o dia correu mal no trabalho, ou por causa da chuva, ou porque um familiar está doente, ou porque o buraco do ozono continua a aumentar. Sem reservas. Chegaste. Estamos aqui para provar que te adoramos. Lambemos as tuas mãos, cheiramos as tuas calças, damos patadas a pedir festas, se possível atrás das orelhas. Ladramos de alegria para avisar toda a gente que chegou o melhor dono do Mundo.
Entro em casa, limpo de todos os germes apanhados na minha viagem ao exterior, desinfectado por este banho de amor, como um astronauta, ao reentrar na Terra, depois de passar pelas câmaras de esterilização.
Imagine um mundo em que todos tivessem esta capacidade de amar, sem reservas, sem perguntas…
Amar porque sim, ponto final!